Conhecimento de mulheres sobre o câncer de colo uterino em um município do Nordeste do Brasil

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Dantas dos Santos A, de Andrade Santos PM, Bezerra Santos M, Dantas dos Santos AM. Conhecimento de mulheres sobre o câncer de colo uterino em um município do Nordeste do Brasil. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2015; 5(3):64-76.

Autores

1 Allan Dantas dos Santos, 2 Priscila Maria de Andrade Santos, 3 Márcio Bezerra Santos, 4 Ana María Dantas dos Santos

1 Mestre em Biologia Parasitária. Docente, Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Aracaju, Sergipe, Brasil.
2 Bacharel enfermagem. Paripiranga, Bahia, Brasil.
3 Mestre em Biologia Parasitária. Docente, Departamento de Educação em Saúde, UFS. Aracaju, Sergipe, Brasil.
4 Assistente Social, Especialista em Saúde da Família e Políticas Públicas com foco em Gênero e Raça. Docente, Universidade Tiradentes/Brasil. Aracaju, Sergipe, Brasil.

Contacto:

Email: allanufs@hotmail.com

Titulo:

Conhecimento de mulheres sobre o câncer de colo uterino em um município do Nordeste do Brasil

Resumen

Introducción: el estudio tiene como objetivo identificar el conocimiento del cáncer cervical en las mujeres de una Unidad de Salud de la Familia en una ciudad en el noreste de Brasil.
Método: se realizó un estudio descriptivo y exploratorio con enfoque cuantitativo. La muestra está formada por 97 mujeres, seleccionadas por criterio simple de probabilidad aleatoria, todas ellas adscritas a la Estrategia Salud de la Familia (ESF). El instrumento de recolección de datos fue la entrevista con forma estructurada. Todos los análisis estadísticos se realizaron con el programa BioEstat (versión 5.0).
Resultados: la edad media de las encuestadas fue de 34,9 años; 35% de las mujeres solo ha terminado la escuela primaria y el 54% recibe 1-2 salarios mínimos; 37% de las encuestadas no atribuye a las pruebas de Papanicolaou importancia preventiva; cuando se le preguntó acerca de la relación del VPH con el desarrollo de cáncer de cuello uterino, el 78% de ellas no pudo contestar; el 64% de las mujeres entrevistadas tiene el conocimiento inadecuado de la enfermedad.
Conclusión: los resultados del estudio apuntan a la necesidad de reforzar las medidas de educación para la salud, y en especial a la actuación de los profesionales de enfermería en la difusión de información que posibiliten a las mujeres a adoptar actitudes preventivas y de cuidado en su salud.

Palabras clave:

cáncer de cuello uterino ; conocimiento de las mujeres ; prueba de Papanicolaou ; prevención del cáncer

Title:

Knowledge about cervix cancer in women in a Northeastern Brazil town

Abstract:

Introduction: We aimed to identifying the knowledge about cervix cancer in women in a Family Healthcare Unit in a Northeastern Brazil town.
Methods: A descriptive, exploratory study, using a quantitative approach. The sample included 97 women affiliated to the Family Health Strategy (FHS). Selection was based on a simple random probability criterion. Data collection tool was a structured interview. All statistical analyses were performed with the statistical package BioEstat (release 5.0).
Results: Mean age in responders was 34.9 years; 35% of women had completed only primary education and 54% received 1-2 minimum wages; 37% of responders did not assign preventive significance to Papanicolaou tests; when asked about the relationship of HPV with the development of cervix cancer, 78% of women could not answer; 64% of responders had an inadequate knowledge about the disease.
Conclusion: The results of the study suggest the need to enhance health education measures and, particularly, the health workers activities enabling women to adopt preventive and self-healthcare attitudes.

Keywords:

cervix cancer; knowledge in women; Papanicolaou test; cancer prevention

Portugues

Título:

El conocimiento de las mujeres sobre el cáncer de cuello uterino en una ciudad en el noreste de Brasil

Resumo:

Introdução: o estudo objetiva identificar o conhecimento sobre o câncer de colo uterino em mulheres de uma Unidade de Saúde da Família em um município do Nordeste do Brasil.
Método: realizou-se um estudo descritivo, exploratório com abordagem quantitativa. A amostra correspondeu a 97 mulheres, selecionadas pelo critério probabilístico aleatório simples, adscritas na Estratégia Saúde da Família (ESF). O instrumento de coleta de dados foi a entrevista com formulário estruturado. Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa BioEstat (Versão 5.0).
Resultados: a média de idades das entrevistadas foi de 34,9 anos; 35% das mulheres possuem apenas o ensino fundamental incompleto e 54% afirmaram receber de 1 a 2 salários mínimos; 37% das entrevistadas não atribuem ao exame papanicolau um significado preventivo; quando questionadas sobre a relação do HPV com o desenvolvimento do câncer do colo uterino, 78% das entrevistadas não souberam responder sobre o assunto; 64% das mulheres entrevistadas apresentam conhecimento inadequado em relação à doença.
Conclusão: os dados do estudo apontam para a necessidade da intensificação das medidas de educação em saúde, e, principalmente, para a atuação do profissional de Enfermagem na disseminação de informações que possibilitem a essas mulheres a adoção de uma prática preventiva e de cuidados com a sua saúde.

Palavras-chave:

câncer do colo uterino; conhecimento das mulleres; papanicolau; prevenção do câncer

Introdução

O câncer é uma das doenças que mais desafiam médicos e especialistas, visto que, em muitos casos, não é possível obter a cura ou realizar um tratamento eficaz. Em 2009, o câncer de colo do útero foi considerado como a terceira causa de morte por câncer em mulheres, com uma taxa de mortalidade de 5,18 óbitos para cada 100 mil mulheres. Em 2012, no Brasil, foram esperados 17.540 casos novos, sendo considerada uma taxa de, aproximadamente, 17 casos para cada 100 mil mulheres (1).
A maior incidência do câncer de colo do útero é encontrada em mulheres na faixa etária de 30 a 39 anos, podendo ser verificada um pico de desenvolvimento da doença a partir dos 50 e 60 anos, devendo-se destacar que, antes dos 25 anos, é verificado a prevalência das infecções por HPV e o desenvolvimento de lesões de baixo grau. Trata-se de uma das neoplasias malignas ginecológicas mais comuns em mulheres, principalmente, em países em desenvolvimento, com aproximadamente 530 mil casos novos por ano, sendo considerado como responsável pela morte de 275 mil mulheres por ano (1,2).
Diversos são os fatores que estão relacionados ao risco de desenvolvimento do câncer cérvico-uterino, dentre os quais podem ser destacados início precoce da atividade sexual, múltiplos parceiros sexuais, único parceiro sexual masculino com múltiplas parceiras sexuais, uso prolongado de anticoncepcionais orais, multiparidade, baixa condição socioeconômica, baixa escolaridade, tabagismo e etilismo, obesidade, dieta gordurosa, exposição a radiações ionizantes, doenças sexualmente transmissíveis, principalmente Papilomavírus Humano o HPV, caracterizando, assim, a doença como um problema de saúde pública.
Sendo considerado o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de colo do útero, o HPV, que é vírus da família Papilomaviridae que pode provocar lesões de pele ou mucosa, infecta os seres humanos por meio do contato sexual, e, dependendo do seu subtipo, pode provocar lesões precursoras do câncer. 80% das mulheres com vida sexual ativa, em algum momento da vida, terão contato com o HPV. Estima-se que, aproximadamente, 291 mill de mulheres em todo o mundo são infectadas pelo HPV, sendo que 32% são portadoras dos subtipos 16 e 18, que apresentam maior potencial oncogênico, sendo responsáveis por 70% dos casos de câncer cervical. Por ser considerada uma doença que pode ser prevenida, a necessidade da realização de estratégias de prevenção primária, destacando a necessidade de correção de alguns fatores de risco, e, com isso, estimulando o uso de preservativos durante as relações sexuais. Como medida secundária coloca a realização do exame citopatológico (test de Papanicolau), visto que o mesmo possibilita que sejam detectadas, precocemente, as lesões precursoras do câncer (3).
Conhecer o grau de instrução da população quanto aos fatores de risco que levam ao aparecimento do câncer uterino, bem como dos métodos de prevenção do mesmo, permite que a assistência prestada pelas equipes de atenção básica tenham um foco direcionado para as fragilidades da população, visando, com isso, o desenvolvimento de ações educativas com o objetivo de informar essa população e, consequentemente, reduzir a exposição aos fatores de risco para a doença, contribuindo, assim, para a busca da eficácia nas estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças que devem ser desenvolvidas no nível primário de atenção à saúde.
Nos países em desenvolvimento, podem ser observadas altas taxas de incidência, sendo diagnosticados 80% dos casos, permitindo, assim, estabelecer uma relação entre esse tipo de câncer e as condições de vida precária, dificuldade de acesso aos sistemas de saúde, bem como com a fragilidade das estratégias de educação em saúde (4).
O câncer do colo uterino é uma doença que, na maioria das vezes, apresenta uma evolução lenta, sendo precedido pela Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC), sendo classificadas em NIC I (baixo grau), NIC II e NIC III (alto grau), e pelo carcinoma in situ, que pode evoluir para carcinoma invasor em 10 a 30% dos casos (4).
Percebendo a necessidade da criação de um programa nacional de controle do câncer do colo do útero, em 1995, o Ministério da Saúde elaborou um projeto-piloto que foi implantado em 1997, denominado Viva Mulher (Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama), com o objetivo de reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais do câncer na mulher, desenvolvendo ações de prevenção, detecção precoce, tratamento e reabilitação (5).
O câncer do colo uterino é um dos problemas que, a cada dia, pode ser observado em crescente desenvolvimento na população feminina. Pensar nos fatores que levam a esse acelerado processo pode verificar uma raiz no grau de instrução da população, sabendo-se que o conhecimento sobre os fatores de risco para desenvolvimento da patologia auxilia numa redução significativa do número de casos. Nessa perspectiva, o presente estudo objetivou identificar o grau de conhecimento sobre o câncer de colo uterino em mulheres que procuram uma Unidade de Saúde da Família para realização do exame de Papanicolau em um município do Nordeste do Brasil.

Métodos

Estudo do tipo descritivo, exploratório com abordagem quantitativa, realizado no município de Sítio do Quinto (BA), a 405 km da capital do Estado da Bahia, na região nordeste do Brasil (6). A amostra, probabilística aleatória simples, compreendendo as 97 mulheres que realizaram o exame papanicolau na Unidade Básica de Saúde-Sede, no período compreendido entre os meses de janeiro a abril de 2012, selecionada de acordo com os seguintes critérios de inclusão: estar na faixa etária de 20 a 59 anos; ser cadastrada na Unidade de Saúde da Família-Sede; assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
O referido projeto de pesquisa foi apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade AGES, sob protocolo nº 003/12.
A coleta de dados ocorreu por meio de uma entrevista através do uso de um formulário estruturado com 20 questões fechadas referentes ao conhecimento sobre o câncer do colo uterino. As análises estatísticas foram realizadas no programa BioEstat (Versão 5.0).
A categorização das variáveis conhecimento e prática foi realizada por meio da adaptação da classificação preconizada por Brenna (7), em que foi considerado:

Resultados e discussão

Caracterização dos sujeitos do estudo

A Tabela 1 apresenta as variáveis referentes ao perfil socioeconômicas dos sujeitos da pesquisa. Observou-se que todas são alfabetizadas, porém, com um baixo nível de escolaridade, em que 35% possuem o ensino fundamental incompleto, 8,5% fundamental completo, 10,3% ensino médio incompleto, 28,8% ensino médio completo, 2% superior completo e 15,4% superior incompleto. Quanto à variável renda, observa-se que mais da metade das entrevistadas (52%) recebe de 1 a 2 salários mínimos, 37% afirmam não possuir salário e apenas 9% das mulheres recebem de 3 a 4 salários.

O INCA (8) aponta para a forte relação entre o baixo nível de escolaridade e a renda, refletindo sobre o fato de que essas mulheres são mais suscetíveis a morbimortalidade por câncer do colo uterino por não possuírem informações adequadas sobre a doença, e ainda por utilizarem com menor frequência os serviços de saúde, principalmente, quando relacionados a questões de prevenção e promoção, visto que, na maioria das vezes, encontra-se uma dificuldade maior de acesso ao serviço, procurando o mesmo apenas quando a doença já está instalada. O baixo grau de escolaridade traz como consequência a baixa conscientização para o exercício da cidadania, e o restrito e seletivo acesso à assistência à saúde (9.10).
A média de idades foi de 34,9 anos. Observam-se a predominância de mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos (37,1%), 30 a 39 anos (32,9%), enquanto que as de 40 a 49 anos somaram 15,5% e as de 50 a 59 anos 14,5%. A maioria das mulheres encontra-se na faixa etária prioritária pelo Ministério da Saúde para a realização do exame, por considerar ser esse o período em que as mulheres estão mais vulneráveis ao câncer uterino e por entender que o diagnóstico precoce das lesões precursoras do câncer permite uma eficácia no tratamento. Esses dados corroboram com a pesquisa realizada por Pinto et al. (11), quando ele mostra que a melhor cobertura do exame citopatológico ocorre em mulheres na faixa etária de 25 a 34 anos, sendo justificada pelo fato que são essas mulheres que mais procuram o serviço de saúde em busca de atendimento, facilitando, com isso, o rastreamento por meio do exame preventivo.
A faixa etária mais acometida pelo câncer uterino são mulheres na faixa etária de 35 anos, porém, o risco para o desenvolvimento da doença aumenta em mulheres entre 50 e 60 anos de idade, por considerar o fato de que a maioria das infecções por HPV acomete mulheres mais jovens, entretanto, a grande maioria só é diagnosticada tardiamente (2).
Na variável situação conjugal, 40% das entrevistadas são casadas, 21% afirmam ter união estável, 22% são solteiras, 14% divorciadas e 3% viúvas. Muitas mulheres acreditam que o casamento significa um fator de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). De fato, a multiplicidade de parceiros sexuais predispõe ao desenvolvimento do câncer uterino, principalmente, pela infecção através do vírus HPV, porém, independente do estado civil, as mulheres estão suscetíveis à infecção pelo papilomavírus, não considerando assim o casamento como um fator de proteção contra a infecção por DSTs (12).

Aspectos da saúde sexual e reprodutiva

O início precoce da relação sexual e a multiplicidade de parceiros sexuais constituem-se como um fator de risco para o desenvolvimento do câncer do colo uterino, uma vez que coloca a mulher a uma maior exposição à infecção pelo HPV. Na pesquisa realizada, verificou-se que a média de idade da sexarca das entrevistadas é de, aproximadamente, 17,8 anos, sendo que 89% relataram a primeira relação sexual entre 10 e 20 anos, 8% entre 21 e 30 anos e 3% entre 31 e 40 anos, como pode ser visto na Tabela 2.

Pesquisa realizada por Silva (13) mostra que mulheres com sexarca entre 10 e 19 anos têm três vezes mais chances de desenvolver NIC quando comparadas com as que tiveram sua primeira relação sexual entre 20 e 30 anos, o que corrobora com o estudo de Murta et al. (14), em que aponta em um grupo de mulheres com sinais de infecção pelo HPV, 69,8% iniciaram a atividade sexual antes dos 18 anos. A iniciação sexual precoce traz um maior risco para a infecção pelo HPV e câncer do colo uterino, devido à imaturidade dos tecidos genitais que propicia o desenvolvimento de infecções (15).
Quanto ao número de parceiros sexuais, os dados mostram que a multiplicidade de parceiros não se configura como um provável fator de risco para que as mulheres desenvolvam o câncer do colo uterino, visto que 66% das entrevistadas relataram apenas 1 parceiro sexual ao longo da vida, e 25% informaram de 2 a 5 parceiros, 8% informaram 6 a 10 parceiros sexuais, enquanto apenas 1% informou mais de 10 parceiros sexuais, conforme a Tabela 2.
Os dados desse estudo discordam da pesquisa realizada por Silva (16), onde encontrou que a multiplicidade de parceiros foi um fator agravante para o desenvolvimento do câncer do colo uterino, considerando o fato de que 51,9% das entrevistadas relataram de 2 a 5 parceiros sexuais ao longo da vida. O grande número de parceiros sexuais é um fator que eleva a predisposição ao câncer uterino, visto que gera um aumento das infecções por DSTs, como o HPV (17).
Os dados da saúde reprodutiva nessa pesquisa apontam para mulheres de alta paridade, considerando que 52,5% das entrevistadas têm de 2 a 5 filhos; 25% apenas um filho, sendo que destas 19% afirmam ter sofrido algum tipo de aborto (espontâneo ou provocado). Estes dados concordam com a pesquisa de Silva (16), quando foi constatado que 82,1% tinham de 2 a 5 filhos.
O número de gestações apresenta estreita relação com o desenvolvimento do câncer uterino. A multiparidade leva a uma eversão na mucosa endocervical, formando uma permanente zona de transformação, que é onde acontece maior parte dos carcinomas escamosos. Paralelo a isso, se tem, ainda, o fato de que os hormônios da gravidez influenciam na resposta imune do organismo e, com isso, ocorre uma maior vulnerabilidade para a infecção pelo HPV (18,19).
No que se refere ao histórico familiar de câncer, evidenciou-se que a maioria (64%) das mulheres entrevistadas não apresenta antecedentes da doença, sendo que 9% referiram familiar com câncer do colo uterino, 6% história familiar de câncer de mama, enquanto uma parcela de 21% afirma história de familiar com outro tipo de câncer. Esses dados opõem-se aos encontrados por Silva (16), quando, em sua pesquisa com mulheres da Zona Oeste do Rio de Janeiro/Brasil, verificou uma porcentagem de 20,2% de mulheres com história familiar de câncer uterino.

Conhecimento das mulheres sobre o câncer do colo do útero

O câncer do colo do útero é uma doença que evolui de forma lenta podendo uma lesão intraepitelial demorar, aproximadamente, 20 anos para evoluir para a forma invasiva da doença. É o único câncer genital feminino que pode ser prevenido, por meio do exame papanicolau, que permite a detecção precoce das neoplasias intraepiteliais cervical, possibilitando, assim, o tratamento eficaz da doença ainda na fase pré-maligna (4,20).
Mesmo sendo o segundo câncer mais comum entre as mulheres, o conhecimento sobre o câncer do colo do útero continua pouco disseminado entre as mulheres. Na Tabela 3, estão apresentadas algumas das variáveis utilizadas nessa pesquisa para avaliar o conhecimento das mulheres sobre o câncer do colo do útero. De acordo com os dados: a maioria das entrevistadas (45%) referiu já ter ouvido falar da doença, mas não sabem explicar; 61% informam não saber sobre os fatores de risco para a doença; quando questionadas sobre o exame para a prevenção/detecção precoce do câncer do colo do útero, 32% afirmaram não saber, enquanto que 30% apontam a ultrassonografia transvaginal, por considerarem um exame “mais completo” e apenas 26% citam a realização do exame de papanicolau; 53% não souberam responder quando questionadas sobre um sintoma relacionado à doença.

Os resultados são condizentes com a pesquisa de Coelho (21) em que se verificou que a maioria das entrevistadas não sabia conceituar o câncer do colo uterino. Pelloso et al. (22) afirmam que, em seus estudos, foi possível verificar que o conhecimento sobre o câncer do colo do útero é muito baixo entre as mulheres, e atribui a isso a má informação, evidenciando uma deficiência em programas educativos que desenvolvam ações efetivas.
Apesar de ser considerado uma doença que atinge 20 mil mulheres por ano no Brasil e ser o responsável por 70% dos casos de câncer cervical, o HPV continua desconhecido entre as mulheres sexualmente ativas, nesta pesquisa, isso pôde ser confirmado ao se constatar que apenas 8% das mulheres entrevistadas responderam assertivamente sobre a sua relação com o câncer uterino, enquanto 78,3% afirmaram não conhecer a relação, conforme mostra a Tabela 4.

Esses dados estão de acordo com a pesquisa de Moraes e Basani (23), em que evidenciaram nas entrevistadas pouco ou nenhum conhecimento sobre o HPV. A maior preocupação das mulheres está relacionada com DSTs como a gonorreia e a AIDS, além disso, ressaltam que, muitas vezes, as mulheres só passam a conhecer o HPV por meio do diagnóstico médico da doença.
Diante dos resultados apresentados, fica evidente a necessidade de ações educativas que venham a suprir a falta de informações dessa população em relação à infecção pelo HPV, para que, assim, reduza-se o risco de exposição à infecção pelo papilomavírus. Há necessidade de se oferecer informações sobre a infecção pelo HPV, bem como sobre os fatores que estão mais vinculados à exposição da doença, como, por exemplo, a promiscuidade do comportamento sexual, e destaca ainda para a necessidade dos municípios definirem estratégias para uma cobertura efetiva dos exames citopatológicos (24).
Progressivamente, está ocorrendo um aumento de lesões de baixo grau em adolescentes, o que vem a revelar a necessidade de um Programa de Prevenção ao câncer voltado para as adolescentes, ressaltando as medidas de educação sexual como fundamentais para a efetivação de ações preventivas de infecções pelo HPV (25,26).
Diante dos resultados expostos, percebe-se a pouca informação das mulheres entrevistadas acerca do câncer do colo do útero, visto que 64% das mulheres apresentaram conhecimento inadequado sobre a patologia (Tabela 5). Em discordância, Silva (16) encontrou, em estudo realizado, que 99,5% das mulheres possuíam conhecimento adequado sobre o câncer do colo do útero.
Considerando que as ações educativas desempenham um poder de transformação social, diante da situação apresentada, verifica-se que essas ações não estão sendo efetivas ou mesmo realizadas. Nesse contexto de educação em saúde, destaca-se o profissional de enfermagem, que, além de prestar cuidados aos pacientes em situações de agravo à saúde, representa uma figura significativa para a construção/execução de estratégias educativas voltadas para a promoção da saúde da mulher.

Pensando na comunicação/informação como uma forma de reduzir a escassez de conhecimento das mulheres e também como forma de garantir a eficácia das ações preventivas, uma das estratégias do Programa Viva-Mulher está na criação de uma rede articulada de comunicação com a mulher, sendo possível, assim, uma ampliação do conhecimento das mulheres e uma maior interação e participação das mesmas nas ações desenvolvidas pelo programa (27). Para o envolvimento da mulher nas ações preventivas, é necessário que tais ações sejam desenvolvidas de modo a respeitar as crenças e a cultura dessas mulheres (28).

Conhecimento das mulheres sobre o exame Papanicolau

Para avaliar o conhecimento das mulheres frente ao exame preventivo do câncer de colo de útero, foram realizados questionamentos sobre as variáveis: finalidade do exame; quem deve fazer; qual o período para sua realização e qual o material coletado, sendo os dados apresentados na Tabela 6.
Questionadas sobre a finalidade do papanicolau, 30% das pesquisadas responderam que o exame serve para saber como tratar os corrimentos vaginais, não o relacionando com o aspecto preventivo do câncer do colo do útero, sendo o mesmo relacionado ao fator preventivo por apenas 28% das mulheres. Esses dados são discordantes da pesquisa realizada por Valente et al. (29) quando ela encontrou, em seu estudo com alunas do ensino médio de escolas públicas de Uberaba (MG), que 85% das entrevistadas identificaram a importância do exame para a prevenção do câncer do colo uterino.

Chubaci (30), em seu estudo com mulheres japonesas, constatou que o conhecimento sobre o exame influencia na atitude da paciente, ou seja, aquelas que, realmente conhecem a finalidade do exame apresentam maior probabilidade de adesão a sua realização.
Analisando o conhecimento das mulheres sobre quem deve realizar o exame, as entrevistadas apresentaram conhecimento adequado, pois 45% responderam que o exame deve ser feito em mulheres sexualmente ativas, enquanto que 30% referiam ser a menarca um fator que inclui as mulheres no grupo indicado para a realização do exame. Esses dados também corroboram com a pesquisa de Valente et al. (29), quando o grupo por ela estudado (81%) respondeu que o exame deve ser realizado por mulheres com vida sexual ativa.
Quando questionadas sobre o período em que deve ser realizado o exame, as respostas obtidas foram satisfatórias, uma vez que 52% das mulheres responderam que o exame deve ser realizado uma semana após a menstruação. Resultado oposto ao que foi encontrado por Davim et al. (31), onde o autor questionou sobre os cuidados prévios para a realização do exame, apenas 17% das entrevistadas apontaram para esse fato, o que permitiu perceber a necessidade de, durante as ações de educação em saúde, ser realizada um abordagem sobre o tema, considerando o fato de que os cuidados prévios inadequados acabam inviabilizando a realização do exame ou, até mesmo, interferindo no resultado.
Com relação ao questionamento sobre o material coletado para a realização do exame, observa-se que a maioria das mulheres não sabe que tipo de coleta é realizada, sendo que 51% responderam ser um líquido da vagina, 24% relataram não saber e apenas 14% referiram ser coletado material citológico do colo uterino, e tiveram ainda as que fizeram citações anômalas, como a coleta de sangue (9%) e do corrimento vaginal (2%). Esses resultados contrapõem à pesquisa de Valente et al. (29), em que 94% das entrevistadas citaram a coleta de uma amostra de células do colo uterino para a realização do exame papanicolau. Dados semelhantes foram encontrados por Silva (16), visto que o grupo por ela estudado apontou que 85,4% das entrevistadas relacionam a realização do exame com a coleta de células do colo uterino.
As afirmações errôneas apresentadas pelas mulheres entrevistadas sobre o conhecimento acerca da finalidade do exame citopatológico podem ser justificadas pelo fato de que as mesmas não são, adequadamente, informadas e orientadas. Referente às fontes de informações dessas mulheres, 32% das entrevistadas apontou a televisão como a principal fonte de informação sobre o exame citopatológico. Tal resultado contrapõe-se ao da pesquisa de Silva (16), em que a instituição de saúde foi citada por 68% das entrevistadas como o local de obtenção dos conhecimentos adquiridos sobre o exame. Esse acontecimento também justifica o fato de 54% das pesquisadas afirmarem não ter recebido informações durante a realização do exame.
Verificar as fontes de informações sobre o exame papanicolau entre as mulheres estudadas foi de grande importância, uma vez que o conhecimento adequado auxilia na melhoria da prática preventiva. Brenna et al. (7) identificaram em seus estudos que a prática adequada dependeu dos conhecimentos e da atitude que as mulheres tinham frente ao exame. Mesmo considerada importante fonte de informação, Cestari (32) aponta que a televisão, ao mesmo tempo em que representa uma fonte significativa de informação, pode influenciar no comportamento das mulheres de forma negativa, considerando-se que, muitas vezes, as informações são transmitidas com o foco no aumento da audiência, fazendo com que as informações sejam, na maioria das vezes, sensacionalistas e não educativas.
Considerando que a educação em saúde é o melhor caminho para o desenvolvimento de práticas e atitudes preventivas, percebe-se que, na população estudada, os serviços de saúde não estão desempenhados de forma adequada às ações de educação preventiva. Com isso, a população fica a mercê de informações que, muitas vezes, são inadequadas ou, até mesmo, errôneas. A educação em saúde pode ser um instrumento de transformação social capaz de influenciar os comportamentos e os hábitos das pessoas (16).

Conclusão

Os dados apresentados favorecem o conhecimento das vulnerabilidades associadas das mulheres que frequentam as unidades básicas de saúde para realização de papanicolau, relacionadas principalmente ao câncer de colo uterino, o que pode contribuir para direcionar ações dos profissionais de enfermagem, na busca pela promoção da saúde sexual dessas mulheres, principalmente relacionadas ao objetivo do exame e cuidados preconizados antes da coleta.
A maioria das mulheres entrevistadas apresentou um conhecimento inadequado sobre o câncer de colo uterino, visto que a maioria das mulheres já ouviu falar da doença, porém desconhecem os principais fatores de risco, seus principais sintomas, como também não a consideram como uma doença que pode ser prevenida. Desta forma, não atribui a necessidade de realização do exame de Papanicolau como um método preventivo.
Observou-se, também, que a maioria das mulheres não soube associar a relação do HPV com o desenvolvimento do câncer do colo uterino, o que chama à atenção para a necessidade de atividades educativas que possibilitem a aquisição desses conhecimentos.
Contrastando-se com esse resultado, observou-se uma atividade apropriada no que diz respeito à frequência de realização do exame. Percebeu-se uma prática adequada entre essas mulheres, visto que realizam o exame com a periodicidade recomendada pelo Ministério da Saúde, porém, esse dado revela também um conhecimento fragmentado sobre o valor preventivo desse exame, já que atribuem a ele um caráter apenas de diagnóstico, pois associam a sua importância, exclusivamente, para o tratamento de queixas ginecológicas. Assim, além do incentivo das campanhas para a realização do exame citopatológico, é importante o desenvolvimento de atividades que permitam conhecer quais os significados que as mulheres atribuem à realização desse exame, para que, assim, seja possível a realização de ações educativas com foco a adequar a prática preventiva dessas mulheres como foco principal do autocuidado.
As ações de educação em saúde não devem apenas ser direcionadas para a importância da realização do papanicolau, faz-se importante que sejam abordadas temáticas que possibilitem as mulheres ampliação de conhecimentos sobre o câncer do colo uterino, fatores de risco e atividades de prevenção e auto-cuidado.
Após conhecer o comportamento e grau de conhecimento dessas mulheres frente ao câncer do colo do útero, considera-se indispensável a atuação dos profissionais de saúde, principalmente da enfermagem, como um mediador das informações necessárias para que essas mulheres possam adotar uma nova postura frente aos aspectos preventivos e nos cuidados com a saúde, principalmente, preventiva. Evidenciou-se uma necessidade de maior engajamento dos gestores na formulação de estratégias educativas que minimizem o déficit de conhecimento da população estudada acerca do Papanicolaou, papel primordial também do profissional de enfermagem.

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