Avaliação do estresse e da fadiga em trabalhadores de um hospital do câncer brasileiro

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Pereira AOR, Santos SVM, Dalri RCMB, Lemos KCOS, Silva VFF, Robazzi MLCC. Avaliação do estresse e da fadiga em trabalhadores de um hospital do câncer brasileiro. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2017; 7(4):44-54.

Autores

1 Aline Oliveira Russi Pereira, 2 Sérgio Valverde Marques dos Santos, 3 Rita de Cassia Marchi Barcellos Dalri, 4 Kellen Cristina de Oliveira Silva Lemos, 5 Vanildes de Fatima Fernandes Silva, 6 Maria Lucia do Carmo Cruz Robazzi

1 Enfermeira, mestranda em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.
2 Enfermeiro, mestre em Enfermagem, doutorando em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.
3 Enfermeira do Trabalho. Pós-doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.
4 Médica do Trabalho e Nefrologista. Docente da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de MG – UEMG. Diretora Técnica da Ergomédica Medicina do Trabalho e Ergonomia Ltda.
5 Enfermeira Especialista em Controle de Infecção relacionada à Assistência à Saúde, mestranda pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. Brasil.
6 Enfermeira do Trabalho. Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Brasil. Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde/Organização Panamericana de Saúde para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Ribeirão Preto (SP), Brasil.

Contacto:

Email: sergiovalverdemarques@hotmail.com

Titulo:

Avaliação do estresse e da fadiga em trabalhadores de um hospital do câncer brasileiro

Resumen

Introducción: el estrés y la fatiga son factores apuntados en la literatura como a menudo presentes entre los trabajadores de la salud. Sus consecuencias pueden afectar tanto a la salud como a la calidad de la asistencia a los usuarios.
Objetivo: evaluar el estrés y la fatiga de los trabajadores de un hospital del cáncer.
Método: estudio descriptivo, transversal, de abordaje cuantitativo, realizado con 55 participantes de un hospital del cáncer. La recolección de datos ocurrió en 2016, a través de un cuestionario de caracterización de la población, de la Escala de Fatiga de Chalder, utilizado para medir la fatiga física y mental de los trabajadores. La Escala de Estrés en el Trabajo (EET) fue empleada para evaluar el riesgo al estrés ocupacional. Para el análisis descriptivo de los datos se utilizó el software SPSS.
Resultados: la mayoría de los participantes fue mujer, de entre 22 y 59 años, casados, no fumadores, con un promedio de 6,9 horas de sueño al día, no consumían medicamentos y una parte de ellos practicaba actividad física. La mayoría de los trabajadores presentó fatiga (61,8%), se constató que el 41,9% de los trabajadores, a veces, necesita descansar más, y en la fatiga mental que rara vez (40,1%). Al evaluar el estrés en el trabajo fue posible observar que el 45,5% de ellos presentaba estrés ocupacional.
Conclusión: la mayoría de los trabajadores presentó fatiga y parte de ellos estrés ocupacional. Los ambientes laborales necesitan ser adecuados a la salud física y mental de los trabajadores, con el fin de promover una mejor calidad de vida y trabajo, que refleja la calidad de la asistencia prestada a los usuarios.

Palabras clave:

trabajadores ; estrés fisiológico ; estrés psicológico ; fatiga ; Institutos de Cáncer ; hospitales

Title:

Assessment of stress and fatigue in healthcare workers in a brazilian cancer hospital

Abstract:

Introduction: literature sources suggest stress and fatigue are commonly occurring factors among healthcare workers. Their consequences may have an impact both on health and on healthcare quality for the users.
Purpose: assessing stress and fatigue among healthcare workers in a cancer hospital.
Methods: a descriptive cross-sectional study based on a quantitative approach, in 55 participants in a cancer hospital. Data collection was carried out in 2016, through a population characterization questionnaire based on Chalder's Fatigue Scale to measure physical and mental fatigue in workers. Occupational stress was assessed with the Stress in Work Scale (SWD). A descriptive statistical analysis was performed using the software package SPSS.
Results: the majority of participants were women, aged 22 to 59 years, married, non-smokers, had a mean sleep duration of 6.9 hours/day, did not take medicines, with some of them doing regular physical activity. The majority of healthcare workers reported fatigue (61.8%); 41.9% of workers stated they occasionally needed additional rest; and mental fatigue was rare (40.1%). When assessing stress in work, 45.5% of participants showed occupational stress.
Conclusion: the majority of healthcare workers reported fatigue and some of them showed occupational stress. Working environments should be appropriate for the physical and mental health of healthcare workers, in order to promote a higher quality of life and work, which has an impact on the healthcare quality received by users.

Keywords:

workers; physiological stress; psychological stress; fatigue; Institutes of Cancer; hospitals

Portugues

Título:

Evaluación del estrés y fatiga en trabajadores de un hospital del cáncer brasileño

Resumo:

Introdução: o estresse e a fadiga são fatores apontados na literatura como frequentemente presentes entre os trabalhadores da saúde. Suas consequências podem afetar tanto a saúde quanto a qualidade da assistência prestada aos usuários.
Objetivo: avaliar o estresse e a fadiga de trabalhadores de um hospital do câncer.
Método: estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado com 55 participantes de um Hospital do Câncer. A coleta de dados ocorreu em 2016, por meio de um questionário de caracterização da população, da Escala de Fadiga de Chalder, utilizado para mensurar a fadiga física e mental de trabalhadores e da Escala de Estresse no Trabalho (EET), utilizada para avaliar o estresse ocupacional. Para análise descritiva dos dados utilizou-se o software SPSS.
Resultados: a maioria dos participantes era do sexo feminino, idade entre de 22 e 59 anos, casados, não fumantes, média de 6,9 horas de sono por dia, não utilizavam medicações e parte deles praticava atividade física. A maioria dos trabalhadores apresentou presença de fadiga (61,8%), sendo que na fadiga física, constatou-se que 41,9% dos trabalhadores, às vezes, precisam descansar mais, e na fadiga mental que, raramente eles tinham problemas de memória (40,1%). Ao avaliar o estresse no trabalho foi possível observar que 45,5% deles possuíam estresse ocupacional.
Conclusão: a maioria dos trabalhadores apresentaram fadiga e parte deles estresse ocupacional. Os ambientes laborais precisam ser adequados à saúde física e mental dos trabalhadores, no intuito de promover melhor qualidade de vida e trabalho, que reflete na qualidade da assistência prestada aos usuários.

Palavras-chave:

trabalhadores; estresse fisiológico; estresse psicológico; fadiga; Institutos de Câncer; hospitais

Introdução

As atividades trabalhistas absorvem grande parte de horas na vida de um indivíduo; viabilizam a ocorrência das relações de valorização e desvalorização social, podendo ser vistas como o centro das relações sociais (1).

O trabalho proporciona o encontro da identidade humana e a realização pessoal do indivíduo. Possuir um trabalho propicia sentimentos de satisfação e integridade, o que pode resultar em maior inserção social e de relacionamentos (2).

Entre os diversos tipos de trabalhadores encontram-se os da saúde, que são os que executam suas atividades laborais em setores relacionados ao atendimento à saúde; são legalmente reconhecidos no Brasil quanto ao seu exercício profissional desde 1932, pelo Decreto 20.931 (3).

O estresse e a fadiga são fatores apontados na literatura como frequentemente presentes entre esses trabalhadores e suas consequências podem afetar tanto a sua saúde quanto a qualidade da assistência prestada por eles.

A fadiga é uma sensação subjetiva de cansaço, frequentemente registrada como de natureza emocional, que ocorre em pessoas de todas as faixas etárias. Pode ser decorrente das atividades ocupacionais tais como as tarefas que exigem excessivos esforços físicos e mentais; da presença de certos estressores organizacionais como as escalas noturnas, jornadas de serviços prolongadas, problemas de relacionamento com colegas, superiores e/ou pacientes, duplas jornadas de trabalho e atividades domésticas concomitantes, ou seja, as condições de vida e trabalho influenciam a gênese da fadiga4. É um fenômeno preocupante, de difícil conceituação, interpretação e aferição, porque acaba por nomear um estado global resultante do desequilíbrio interno devido ao sistema de relações do organismo no qual muitas vezes a alteração de um sistema afeta os demais (5).

O estresse é definido como um estado de desarmonia entre as demandas e a capacidade de adaptação. Profissionais da saúde vivenciam situações de confrontos e geradoras de estresse, as quais influenciam seu desempenho em diferentes contextos de atuação. O estresse pode prejudicá-los e também a assistência ofertada aos seus pacientes (6).

A exposição ao estresse ocupacional, se acontecer de forma prolongada, está relacionada à ocorrência de Síndrome do Desgaste Profissional (7).

Acredita-se que tanto as características laborais dos trabalhadores da saúde, como a sua exposição ao excesso de carga de trabalho e às longas jornadas laborais, possivelmente, podem resultar em alterações de saúde, acidentes de trabalho, absenteísmo e presenteísmo; fatores estes consequentes de estresse e fadiga.

O processo laboral hospitalar apresenta uma peculiaridade que se destaca da seguinte forma: tem o corpo do indivíduo como objeto de trabalho, utilizando-se de um amplo conhecimento prático-científico, materiais e equipamentos, visando promover, manter e/ou recuperar a saúde dos usuários (8). A rotina desses trabalhadores é evidenciada por maior vulnerabilidade de tensão emocional; são diretamente responsáveis por cuidar de pacientes que se encontram tanto em situações críticas como mais estabilizadas, como também relacionar-se com acompanhantes e familiares. Assim sendo, esses trabalhadores atuam em cenários de frequente exposição às tensões sejam estas emocionais, de relacionamentos e referentes às hierarquias (9).

Com relação especificamente aos trabalhadores da área da saúde que atuam em hospitais que atendem pacientes com câncer, destaca-se que "lidar com o sofrimento implica, muitas vezes, reviver momentos pessoais de sofrimento. Significa identificar-se com a pessoa que sofre e sofrer junto com ela". Cabe ainda ressaltar os motivos que levaram tais profissionais a trabalharem em um hospital que atende aos pacientes com câncer; a busca por este ambiente de trabalho está aliada, muitas vezes, a uma realização profissional, um retorno financeiro, ou ambos (10).

Considerando que o profissional de saúde acumula muitas vezes uma elevada carga horária de trabalho, acarretando falta de atenção e conhecimento de suas próprias condições de saúde e de tempo para abordar assuntos relacionados à sua atuação como indivíduo inserido em meio social, objetiva-se neste estudo avaliar o estresse e a fadiga de trabalhadores de um hospital do câncer no Brasil.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, transversal e de abordagem quantitativa, realizado em um hospital regional do câncer de um município do Sul de Minas Gerais, Brasil, em 2016. Esta instituição de saúde constitui-se de aproximadamente 84 trabalhadores; todos foram convidados a participar da pesquisa.

Neste estudo adotou-se como critério de inclusão: ser contratado pela instituição há mais de seis meses, excluindo-se os que estavam afastados por várias questões, incluindo-se problemas de saúde ou licença maternidade. Desta forma, tornaram-se participantes 55 trabalhadores (assistente social, auxiliares administrativos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, técnicos de enfermagem e técnicos em radiologia).

A coleta dos dados foi realizada nos próprios setores do hospital, em horários estabelecidos pela direção, de forma que não interferiu no desenvolvimento das atividades cotidianas. Os participantes receberam envelopes fechados, contendo os instrumentos autoaplicáveis e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e a eles foi realizada uma breve apresentação da pesquisa pela primeira autora deste estudo.

Para coleta de dados foram utilizados três instrumentos. O primeiro referiu-se a um questionário semiestruturado com 20 questões, para avaliar dados sóciodemográficos, de hábitos de vida e de atividades laborais, contendo as seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil, cor, hábito do tabagismo e de ingestão de bebidas alcoólicas, prática de atividades físicas, horas diárias de sono, uso de medicamentos, atuação profissional, presença de outro emprego, turnos de trabalho, carga horária diária de trabalho, tempo de atuação na profissão e na Instituição. Cabe mencionar que este questionário passou por avaliação técnica de especialistas da área de Saúde do Trabalhador e, previamente, foi aplicado estudo piloto com trabalhadores da área estudada.

O segundo instrumento referiu-se a Escala de Fadiga de Chalder et al, utilizado para mensurar a fadiga física e mental de trabalhadores, que foi traduzido para língua portuguesa, adaptado e validado no Brasil. Trata-se de uma escala do tipo likert com 11 itens, contendo questões a respeito de sintomas de fadiga, tanto física, quanto mental, com pontuação de zero a três para cada item. No cálculo bimodal, os valores de zero e um são considerados como zero e os valores dois e três são considerados como um, sendo que a soma com valor maior ou igual a quatro, caracteriza a situação de fadiga (11-14).

O terceiro instrumento foi a Escala de Estresse no Trabalho (EET), utilizada para avaliar o estresse ocupacional, com base em indicadores de estresse organizacional de origem psicossocial. É uma escala do tipo likert com 23 itens (questões afirmativas) analisados por meio de cinco pontos (1- Discordo totalmente, 2- Discordo, 3- Concordo em parte, 4- Concordo, 5- Concordo totalmente). Esta versão utilizada foi validada no Brasil considerando seu fator geral, contando com todos os seus itens e atribui escores que variam de 23 a 115 pontos, apresentando boas evidências de validade de construto e confiabilidade. Para caracterizar o estresse utilizou-se a classificação de altos e baixos escores, tendo como ponto de corte a mediana dos escores, ou seja, o valor da mediana é considerado neutro. Assim, os altos escores indicam estresse ocupacional (15).

Os dados coletados foram digitados em uma planilha do MS-Excel, versão 2010, para elaboração do banco de dados. Foi feita dupla digitação para evitar erros de transcrição e para análise estatística descritiva foi utilizado o software Statistical Package for the Social Science versão 17.0. Para apresentação dos resultados, foram utilizadas tabelas com valores absolutos, percentuais, média, mediana, desvio padrão e de forma descritiva.

Com base na Resolução 466 de 2012 (16), este estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, conforme Parecer nº 1747289. A Instituição autorizou a realização da pesquisa, os participantes que fizeram parte do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

A amostra foi constituída em sua maioria por participantes do sexo feminino (87,3%), casada (52,7%), cor branca (60%) e não fumante (94,5%). Quanto às bebidas alcóolicas, 41,8% informaram não utilizarem e 27,3% faziam uso dessas bebidas raramente. Verificou-se ainda que a média de idade dos participantes foi de 34,2 anos, com mediana de 32 anos, desvio padrão de 8,6, idade mínima de 22 e máxima de 59.

Com relação à prática de atividade física, parte dos participantes não fazia exercícios (36,4%), sendo que dos que praticavam apenas 16,4% exercitavam-se diariamente. Ao verificar as horas de sono, notou-se que os participantes dormiam em média 6,9 horas por dia. Observou-se ainda que a maioria dos trabalhadores não utilizava medicações continuamente (67,3%), sendo que os que faziam uso de algum medicamento (32,7%), relataram os anticoncepcionais (22,2%) e anti-hipertensivos (11,1%).

Com relação à atuação profissional dos trabalhadores, a maior parte deles era de técnicos de enfermagem (30,9%), com atuação de até cinco anos na profissão (38,2%) e na Instituição (47,2%) e trabalhavam no período manhã e tarde (36,3%), alternando estes turnos. A maioria não tinha outro emprego (80,0%) e parte deles trabalhava oito horas por dia (34,4%), conforme Tabela 1.

Na fadiga física, observou-se que parte dos participantes relatou que, às vezes, cansou-se facilmente (36,4%), precisou descansar mais (41,9%), esteve sonolenta (32,8%), esteve com falta de ânimo (38,6%) e sentiu-se fraca (29,1%). Alguns participantes relataram que raramente sentiam menos força muscular; além disso, outros mencionaram que sempre sentiam os sintomas investigados, conforme Tabela 2.

Com relação aos itens relacionados à fadiga mental, notou-se que os participantes raramente tinham dificuldade para pensar claramente (36,4%) ou para encontrar a palavra certa (40,1%) e problemas de memória (40,1%). Parte deles relatou que tinha problemas de concentração (43,7%) e alguns trabalhadores mencionaram que sempre tinham tais sintomas apresentados anteriormente.

Ao observar a presença ou ausência de fadiga nos participantes, de acordo com o cálculo dos valores acumulados descrito no método, verificou-se que a maioria dos trabalhadores mostrou a presença de fadiga (61,8%), uma vez que essas pessoas obtiveram na soma da pontuação, um valor maior ou igual a quatro, conforme Tabela 3.

Os cálculos dos escores obtidos na escala de estresse no trabalho foram realizados para todos os participantes (n= 55). O valor do escore médio foi de 52 pontos, desvio padrão de 24 pontos, sendo que o valor mínimo foi de 26 pontos e máximo de 93. O escore mediano ou ponto neutro foi de 53 pontos. Assim, foi possível constatar que 45,5%, ou seja, 25 dos trabalhadores possuíam estresse ocupacional, uma vez que apresentaram escores acima do ponto neutro.
Ao verificar a média dos itens (afirmativas) do grupo de trabalhadores que foram classificados com alto estresse ocupacional, observou-se os itens que mais colaboraram para elevar seus escores. Destes itens, citam-se os que obtiveram a pontuação quatro: deficiência na divulgação de informações sobre decisões; discriminação/favoritismo no trabalho; irritação pela falta de compreensão sobre as responsabilidades e nervosismo por ter o tempo insuficiente para realizar o trabalho.

Discussão

No trabalho em saúde é fundamental a manutenção da vida humana (17). Esta área laboral consiste em cuidar de pessoas e as atividades realizadas pelos trabalhadores que ali atuam são extremamente complexas, seja tanto pelos locais de atuação como pelos tipos de atividades prestadas (18).

É importante investigar a interação entre variáveis pessoais e organizacionais presentes no próprio ambiente laboral; os aspectos da realização no trabalho podem depender dessa interação, além de ser pouco investigados (19).

Na área da Saúde do Trabalhador ocorre a troca de saberes de diversos profissionais; tal área tem o objetivo de desenvolver intervenções que visam controlar os riscos que podem ser fontes de agravos aos trabalhadores, incluindo os locais de trabalho e suas características específicas. Oferece também assistência integral e multidisciplinar ao trabalhador, de forma ampla (20). Esta área de atuação deve ser bastante conhecida e explorada pelos gestores das Instituições de um modo geral, levando em consideração que os diferentes locais de atuação dos trabalhadores possuem fatores de riscos ocupacionais específicos.

Destaca-se que na presente investigação obteve-se a participação de 55 trabalhadores, o que representou 65,5% em relação ao total. Os dados sociodemográficos demonstraram as características da população estudada, das quais merece destaque que 87,3% dos participantes eram do sexo feminino, coincidindo com estudo desenvolvido no estado do Paraná, Brasil com a equipe de enfermagem (21). A faixa etária variou de 22 a 59 anos, evidenciando presença de trabalhadores que recentemente concluíram seus cursos técnicos ou de graduação e outros próximos da época de aposentar-se do trabalho.

Com relação às funções desenvolvidas pelos participantes, demonstrou-se que haviam uma assistente social, 15 auxiliares administrativos, 10 enfermeiros, dois fisioterapeutas, dois nutricionistas, dois psicólogos, 17 técnicos de enfermagem e seis técnicos em radiologia.
Dado interessante e que diz respeito ao hábito do tabagismo demonstrou que 94,5% dos trabalhadores da saúde pesquisados, não possuíam tal hábito. Tendo em vista o grande impacto do tabagismo na morbimortalidade da população brasileira, o alto custo de tratamento das doenças tabaco-relacionadas e o custo-efetividade favorável das intervenções para tratamento do tabagismo, este dado torna-se muito relevante (22).

Com relação à prática de atividade física, 36,4% dos participantes não faziam exercícios físicos e dentre os que praticavam apenas 16,4% faziam-no diariamente. Esses dados podem ser explicados diante do fato de que 54,7% dos pesquisados disseram trabalhar mais de oito horas diárias. Todas as pessoas buscam por diversos caminhos alcançar a qualidade de vida, inclusive as que trabalham na área da saúde, no entanto, o próprio ambiente insalubre e as altas jornadas de trabalho a que estes profissionais submetem-se, muitas vezes, tendo que trabalhar em diversos serviços para suprir suas carências salariais e ultrapassando sua jornada de trabalho, proporciona-os menos tempo para o lazer e convívio familiar (23,24) e prática de atividades físicas.

No que diz respeito à presença de fadiga física, observou-se que 36,4% dos participantes relataram que às vezes se cansavam facilmente, 41,9% precisavam descansar mais, 32,8% estiveram sonolentos, 38,6% estiveram com falta de ânimo e 29,1% sentiram-se fracos.

Apresenta-se ainda que os itens relacionados à fadiga mental, demostraram que 40,1% dos participantes tinham dificuldade para encontrar a palavra certa; 40,1% apresentavam problemas de memória e parte dos participantes relatou que apresentava problemas de concentração (43,7%).

Ao observar a presença ou ausência de fadiga nos participantes, de acordo com o cálculo dos valores acumulados, verificou-se que a maioria dos trabalhadores apresentou presença de fadiga (61,8%).

A fadiga no trabalho pode causar diversos problemas no ambiente laboral, como o comprometimento das habilidades do indivíduo e de seu desempenho na função assumida. Estudo destacou a importância de conhecer-se a fadiga em razão de suas consequências na diminuição do comprometimento e na menor disposição para desenvolver ou manter objetivos diretos (25).

Pesquisa demonstrou que o turno de trabalho é outro fator estreitamente relacionado à presença de fadiga, o que foi comprovado em estudo prévio (26), cujos autores observaram maior presença de fadiga entre trabalhadores atuantes em turnos alternantes, do que entre os que atuam em turnos regulares. Desse modo, a fadiga foi mencionada como a maior causa de intolerância à variação dos turnos de trabalho.

Autores desenvolveram uma pesquisa que objetivou adaptar a Escala de Avaliação da Fadiga (EAF) para profissionais da saúde reunindo evidências de validade fatorial e consistência interna em dois estudos e enfatizaram a importante contribuição à temática, incentivando que se avalie objetivamente a fadiga de trabalhadores (27).

Observou-se que 45,5% (25 participantes) possuíam estresse ocupacional, uma vez que apresentaram escores acima do ponto neutro. Ao verificar a média dos itens (afirmativas) do grupo de trabalhadores que foram classificados com alto estresse ocupacional, verificou-se os que os itens que mais colaboraram para elevar seus escores foram a deficiência na divulgação de informações sobre decisões; discriminação/favoritismo no trabalho; irritação pela falta de compreensão sobre as responsabilidades e nervosismo por ter o tempo insuficiente para realizar o trabalho.

As práticas profissionais dos que atuam na área da saúde podem ser desgastantes. Há uma frequente exposição aos elementos que favorecem a ocorrência de doenças ou sofrimento, que podem ser observados por sinais e sintomas orgânicos e psíquicos, favorecedores do desencadeamento de transtornos mentais, os quais podem afetar de forma negativa os resultados do trabalho e a qualidade assistencial do serviço aos usuários (28), bem como a vida dos trabalhadores.

Devido à natureza da profissão que exercem, esses trabalhadores podem desenvolver danos psicossociais como o estresse, pela falta de destreza ao desenvolver as atividades e ausência de apoio por parte de organização. Este estresse ocupacional pode representar um fator desencadeante de síndrome de burnout (29).

Trabalhadores dos setores de saúde vivenciam em seu cotidiano laboral situações em que precisam lidar com a dor, o sofrimento e o mal estar orgânico, emocional e social (30); sofrem grandes desgastes devido às cargas biológicas, fisiológicas e psíquicas, independente da classe profissional. Eventos advindos da organização laboral, estratégias de gestão, desrespeito da autonomia e abuso de poder podem ser preceptores desses desgastes (31).

Assim, podem apresentar alterações de saúde tais como o estresse ocupacional, devido aos fatores organizacionais, à falta de apoio social e à falta de habilidade para desempenhar determinadas tarefas que lhes sejam solicitadas (29).

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) explícita que os trabalhadores dos serviços de saúde são aqueles profissionais que apresentam notórios conhecimentos e experiências sobre saúde. Sua atuação requer ampla competência (32).

Estudo que trabalhou com profissionais de saúde no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil evidenciou que os motivos que levaram o profissional a trabalhar em hospital com pessoas com câncer apresentaram médias baixas de qualidade de vida para dor e aspecto emocional. Em ambos os casos, os escores dos funcionários que trabalham por realização pessoal foram maiores do que os daqueles funcionários que apresentam como motivo o fator financeiro. A realização pessoal e a satisfação em estar desempenhando uma função para com o paciente oncológico sugerem os próprios progressos da oncologia (33).

O manejo dos pacientes com câncer esta sendo feito por profissionais cada vez mais capacitados; profissionais de saúde capazes de integrar as diferentes modalidades diagnósticas e terapêuticas do câncer e oferecer um atendimento multidisciplinar para o paciente, obtendo melhores resultados de cura ou sobrevida (34).

Os limites do presente estudo estão relacionados com o seu delineamento transversal, que não permite visualização dos eventos em diferentes momentos e o estabelecimento de relações de causa e efeito.

Os resultados, no entanto, agregam conhecimentos científicos que subsidiam o planejamento de ações de promoção da saúde, prevenção de agravos à saúde no ambiente laboral, especialmente em instituições hospitalares brasileiras, impactando em melhor atendimento oferecido pelos trabalhadores em estudo.

Tendo em vista as especificidades do trabalho realizado pelos trabalhadores da saúde, com sobrecargas físicas e emocionais, bem como os numerosos fatores de riscos a que estão expostos, faz-se necessário o reconhecimento desses fatores por parte dos trabalhadores e da Instituições hospitalares, a fim de desenvolverem mecanismos e estratégias individuais e coletivas para exterminar ou minimizar a ocorrência de fadiga e estresse em tais ambientes.

Conclusão

O estudo objetivou avaliar o estresse e a fadiga de trabalhadores de um hospital do câncer.
Quanto à fadiga, a maioria dos trabalhadores mostrou presença de fadiga (61,8%). Avaliando o estresse no trabalho foi possível observar que 45,5% possuíam estresse ocupacional e os itens que mais colaboraram para tal foram deficiência na divulgação de informações sobre decisões; discriminação/favoritismo no trabalho; irritação pela falta de compreensão sobre as responsabilidades e nervosismo por ter o tempo insuficiente para realizar o trabalho.

Este estudo apresenta uma temática atual e evidencia a necessidade de desenvolvimento de medidas preventivas a serem adotadas pelos próprios trabalhadores diante das situações que lhes são apresentadas, propiciando subsídios para o enfrentamento das situações vivenciadas no ambiente laboral.

Espera-se que seus resultados proporcionem o fortalecimento de grupos de pesquisa que trabalhem com essa temática e contribuam para a identificação de situações que predisponham fadiga e estresse entre trabalhadores da área da saúde, de modo a contribuir para a melhoria das condições de saúde física e mental, objetivando um clima organizacional seguro e favorável à satisfação dos trabalhadores envolvidos; implementação de estratégias e ações de educação em saúde para estas comunidades e consolidação de ações interdisciplinares que visem à detecção precoce, o controle e a prevenção de alterações da saúde, acarretando assim maior satisfação e produtividade.

Conflito de intereses

Não houve conflito de interesse na produção deste artigo. Esta pesquisa seguiu todos os preceitos éticos e legais.

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