Transtornos mentais comuns entre trabalhadores de equipe multiprofissional de uma Unidade de Terapia Intensiva brasileira

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Silva AF, Robazzi MLCC, Dalri RCMB, Monteiro CAS, Mendes AMOC. Transtornos mentais comuns entre trabalhadores de equipe multiprofissional de uma Unidade de Terapia Intensiva brasileira. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2018; 8(1):36-46.

Autores

1 Andressa Fernanda Silva, 2 Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, 3 Rita de Cássia de Marchi Barcellos Dalri, 4 Cristiane Aparecida Silveira Monteiro, 5 Aida Maria Oliveira Cruz Mendes

1 Mestre em Ciências da Saúde. Enfermeira. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
2 Phd. Professor Titular Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
3 Phd. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
4 Drª Professor Adjunto Coordenador do Curso de Enfermagem. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil.  
5 Phd. Professor e Coordenador do Curso de Enfermagem. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Coimbra, Portugal. 

Contacto:

Email: andressa.fernanda18@hotmail.com

Titulo:

Transtornos mentais comuns entre trabalhadores de equipe multiprofissional de uma Unidade de Terapia Intensiva brasileira

Resumen

Introducción: el objetivo del estudio fue relacionar las características sociodemográficas, laborales y de salud de los miembros del equipo multiprofesional de la Unidad de Terapia Intensiva (UTI), con la presencia de trastornos mentales comunes.
Métodos: estudio transversal, correlacional, analítico, con abordaje cuantitativo. Se aplicó instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) y un cuestionario para caracterizar los datos sociodemográficos de los trabajadores.
Resultados: entre los trabajadores estudiados hubo predominio de mujeres (75,9%), con una media de edad de 39,8 años y en unión estable (56%). En lo que se refiere a la probabilidad de los trastornos mentales comunes entre las mujeres, se encontraron los valores medios de 4,37 y entre los hombres de 3,85.
Conclusiones: considerando las propuestas de punto de corte para la utilización de este instrumento de evaluación, los valores encontrados son relativamente bajos. Como en otros estudios, las mujeres presentaron más sintomatología de trastornos mentales comunes, pero esta diferencia no fue estadísticamente significativa. A pesar de ello y teniendo en cuenta los síntomas más relatados y la exigencia de las profesiones de salud en cuanto a disponibilidad y atención, se sugiere la necesidad de monitoreo de la salud de estos trabajadores y el desarrollo de acciones de protección y promoción de su salud mental.

Palabras clave:

Salud laboral ; condiciones de trabajo ; personal de salud ; salud mental ; Unidades de Cuidados Intensivos

Title:

Common mental disorders among multidisciplinary team workers at a Brazilian Intensive Care Unit

Abstract:

Introduction: the objective of this study was to find a link between the sociodemographical, occupational and health characteristics of the multidisciplinary team members at the Intensive Therapy Unit (ITU), and the presence of common mental disorders.
Methods: cross-sectional, correlational, analytical study, with quantitative approach. Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) and a questionnaire were applied to characterize the sociodemographic data of the workers.
Results: there was a prevalence of women among the workers studied (75.9%), with 39.8 years as mean age, and in a stable relationship (56%). Regarding the likelihood of common mental disorders among women, the mean values were 4.37, and 3.85 among men.
Conclusions: considering the cut-off points proposed for the use of this evaluation tool, the values found were relatively low. Similarly to other studies, women presented a higher symptomatology of common mental disorders, but this difference was not statistically significant. Despite this, and taking into account the most frequently reported symptoms, and the demands by health professions in terms of availability and care, it is suggested that monitoring the health of these workers is necessary, as well as developing actions for protecting and promoting their mental health.

Keywords:

occupational health; working conditions; healthcare staff; Mental Health; Intensive Care Units

Portugues

Título:

Trastornos mentales comunes entre trabajadores de equipo multiprofesional de una Unidad de Terapia Intensiva brasileña

Resumo:

Introducción: o presente estudo teve como objetivo: avaliar a prevalência de sintomatologia de transtornos mentais comuns entre trabalhadores de equipe multiprofissional de uma Unidade de Terapia Intensiva.
Métodologia: estudo transversal, correlacional, analítico, de abordagem quantitativa. Foi aplicado o instrumento Self Report Questionnaire (SRQ-20) e um questionário para identificação das informações sociodemográficas desses trabalhadores.
Resultados: houve predomínio de mulheres (75,9%), com média de idade de 39,8 anos e em união estável (56%). No que diz respeito à ocorrência de sintomatologia de Transtornos Mentais Comuns foram encontrados os valores médios de 4,37 entre as mulheres e 3,85 entre os homens.
Conclusões: considerando as propostas de ponto de corte para a utilização deste instrumento de avaliação os valores encontrados são relativamente baixos. Tal como em outros estudos, as mulheres apresentaram mais sintomatologia de transtornos mentais comuns, mas esta diferença não foi estatisticamente significativa. Apesar disso e, tendo em conta os sintomas mais relatados e a exigência das profissões de saúde quanto a disponibilidade e atenção, sugere-se a necessidade de monitorização da saúde destes trabalhadores e o desenvolvimento de ações de proteção e promoção de sua saúde mental.

Palavras-chave:

saúde do trabalhador; condições de trabalho; pessoal de saúde; saúde mental; Unidades de Terapia Intensiva

Introdução

Trabalhadores dos serviços de saúde são os que apresentam conhecimentos e experiências sobre saúde, com atuação que requer ampla competência (1).

As práticas profissionais dos que atuam neste âmbito costumam ser desgastantes. Há uma frequente exposição aos elementos que favorecem a ocorrência de doenças ou sofrimento, que podem ser observados por sinais e sintomas orgânicos e psíquicos, favorecedores do desencadeamento de transtornos mentais, os quais podem afetar de forma negativa os resultados do trabalho e a qualidade assistencial do serviço aos usuários (2).

Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são locais que prestam assistência aos pacientes em estados críticos com variações de prognósticos; profissionais de saúde que atuam nestes locais vivenciam, com frequência, situações de vida e morte entre os pacientes. Lidar diretamente com a morte pode resultar em vulnerabilidade emocional, ansiedade, sentimento de culpa e impotência nos trabalhadores. Além dos profissionais de saúde, nas UTI trabalham o pessoal administrativo e de limpeza (3).

Trabalhadores de UTI parecem apresentar prevalência maior de Transtornos Mentais Comuns (TMC), quando comparados aos que atuam em outras unidades no contexto hospitalar (4).

Os TMC representam uma problemática e podem resultar em impactos econômicos relevantes em função das demandas geradas aos serviços de saúde e do absenteísmo no trabalho (5). São evidenciados por ansiedade, depressão, estresse, distúrbios de comportamento e de personalidade. Pessoas acometidas por eles apresentam tendência às dificuldades para lidar com emoções difíceis, o que pode favorecer a ocorrência de sintomas físicos e psíquicos ou de um comportamento de exclusão e defensivo (6), além de sofrimento mental.

Um dos principais problemas de saúde, que contribui para o grande número de doenças em países desenvolvidos é esse tipo de sofrimento, que muitas vezes não se enquadra nos critérios de diagnósticos padrões e manifesta-se por insônia, cansaço, dificuldade de concentração e de memória, além de queixas somáticas (7).

A partir do exposto anteriormente, o objetivo deste estudo foi identificar a probabilidade da ocorrência de TMC em trabalhadores dos serviços de saúde que atuam em UTI.

Métodologia

Estudo transversal, correlacional, analítico, com abordagem quantitativa dos dados. A pesquisa foi desenvolvida em uma UTI que atendia pacientes adultos de um hospital público de grande porte, no estado de São Paulo, Brasil.

Os trabalhadores que atuavam neste local faziam parte de uma equipe multidisciplinar que totalizavam 62 pessoas, sendo: 24 técnicos de enfermagem, 10 enfermeiros, oito médicos, sete auxiliares de enfermagem, quatro funcionários de higienização, quatro fisioterapeutas, dois auxiliares administrativos, além de três outras pessoas (psicóloga, nutricionista e profissional de suporte técnico).

Tornaram-se participantes os que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: membros da equipe multidisciplinar, atuantes na UTI do hospital, de ambos os sexos, sem distinção de turnos, independente do contrato de trabalho, com tempo de formação superior a um ano e com tempo de atuação na instituição e na UTI superior a um ano. Como se sabe que o trabalho pode ser desencadeante de danos à saúde optou-se, no estudo, pela inclusão dos participantes com atividade profissional superior a um ano (8). Obedecidos tais critérios, os que participaram foram 54 trabalhadores dessa equipe multiprofissional, o que representou 87,09% em relação ao total de trabalhadores desta Unidade.

Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos. O primeiro foi elaborado para a obtenção das variáveis sociodemográficas e ocupacionais com questões sobre idade, sexo, tipo de união, filhos dependentes, horário de trabalho, realização de horas extras no último mês anterior à coleta, realização de alguma outra atividade profissional e afastamentos do trabalho. O segundo - Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) - foi utilizado para identificar a presença de TMC da equipe multiprofissional. Testado e validado no Brasil mede o nível de suspeição de transtornos mentais e, especialmente, é utilizado com grupos de trabalhadores avaliando os aspectos relacionados à organização laboral e seus impactos sobre a saúde (9). O SRQ-20 é a versão de 20 itens do SRQ-30 para rastreamento de transtornos mentais não-psicóticos. As respostas são do tipo sim/não; para cada resposta afirmativa pontua-se o valor 1 para compor o escore final por meio da soma destes valores. Os escores encontrados estão relacionados com a probabilidade de presença de transtorno não-psicótico variando de 0 (nenhuma probabilidade) a 20 (extrema probabilidade) (10).

Os dados foram coletados em 2016, incluindo-se os finais de semana e feriados, após obtidas as autorizações institucionais e os procedimentos éticos necessários. Foram obtidos na própria UTI, entre 54 dos 62 trabalhadores que demonstraram interesse, consentiram participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. Os questionários eram preenchidos individualmente pelos próprios participantes durante a rotina das atividades conforme possível, objetivando não atrapalhar o funcionamento da Unidade e devolvidos, no mesmo período de tempo, para a primeira autora deste estudo evitando-se, assim, comunicação sobre as questões entre os respondentes.

Após a fase de coleta, esses dados foram duplamente digitados em uma planilha do programa Microsoft Office Excel 2010 e, a seguir, passaram por análises estatísticas. Tais análises foram processadas pelos programas IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 24 (2016) e R i386 versão 3.1.0 (2014).

As análises descritivas do SQR-20 foram realizadas por meio do cálculo da frequência absoluta (FA) e relativa (FR) de cada variável do instrumento, separando em dois grupos distintos: trabalhadores do sexo feminino e do masculino (11,12).

O estudo foi previamente aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, recebendo o número de protocolo (CAAE:54868316700005393).

Resultados

Dentre os trabalhadores estudados, houve o predomínio de mulheres, com escolaridade variando de ensino médio completo até pós-graduação concluída (Tabela 1).


O maior quantitativo dos trabalhadores encontrava-se na faixa etária entre 30 e 39 anos (42,6%), com média de idade de 39,8 anos, mediana de 39 anos, mínima de 25 anos e máxima de 62 anos, com desvio padrão (DP) de 9,0. Pode observar-se o predomínio do sexo feminino 41 (75,9%); viviam em união estável 30 (56,0%), relataram ter filhos dependentes 29 (53,7%), possuíam nível de escolaridade técnica 19 (35,2%), seguida dos que tinham ensino superior completo 11 (20,4%) (Tabela 2).

Foram encontradas funções variadas, o que é esperado em uma UTI, destacando-se os trabalhadores que atuam na enfermagem, que constituíam 36 (66,7%) do total da equipe multiprofissional.

O horário de trabalho com maior número de pessoas 18 (33,15%) foi o diurno de 6 horas com dobra de plantão de 12 horas. Quanto ao tempo de atuação profissional a maior parte respondeu de seis a 10 anos 17 (31,6%) e, na sequência, de um a cinco anos 15 (27,3%). A média de tempo de trabalho foi de 10,38 anos, mediana de 8,0 anos, mínima de um ano, máxima 30 anos com DP de 7,39. Questionados quanto ao tempo de atuação na UTI, 21 (38,9%) tinham de um a cinco anos de trabalho no local, seguidos dos com 16 a 23 anos 12 (22,4%). A média de anos de trabalho nesta unidade foi de 8,11, mediana de seis anos, mínima de um ano e máxima de 23 anos com DP de 6,45.

Os participantes foram investigados quanto a sua auto percepção de saúde, por meio do SQR-20. Os valores encontrados para as mulheres foram: mínimo 0 e máximo 13, com mediana de 2,0, média 4,3 e DP de 3,9. Entre os homens foram constatados os valores: mínimo 0 e máximo 13, com mediana de 3,0, média 3,8 e DP de 3,9. Pontuações mais elevadas referem-se à probabilidade da ocorrência dos TMC e pontuações mais baixas, menor probabilidade (13) (Tabela 3).

Discussão

Quem trabalha em UTI vivencia um ambiente com um rol de fatores estressantes, como sobrecarga, situações de urgências; trabalho em turnos e jornadas, pacientes críticos que requerem assistência integral e contínua, entre outros. Estas características presentes na natureza de trabalho destes profissionais, em excesso podem influenciar no adoecimento mental (14).

Quanto à idade dos participantes, 85,2% tinham menos de 49 anos. A idade está diretamente relacionada à percepção de saúde do indivíduo. Grupos de pessoas jovens apresentam melhores níveis de percepção sobre sua própria saúde (15). Investigação realizada na Alemanha demonstrou a associação entre idade e o relato de queixas psicossomáticas entre trabalhadores da saúde; com o avançar da idade os relatos dessas queixas foram aumentando (16).

A maior parte dos entrevistados era constituída por mulheres. Profissionais da saúde do sexo feminino podem apresentar alterações de saúde mental, devido aos fatores como: dupla carga de trabalho relacionada com as responsabilidades domésticas, diferenças salariais e assedio no local de trabalho (17).

Entre os participantes, 56% tinham companheiros. Manter uma união conjugal consiste em um processo em que é necessário dividir com o outro todo um contexto social, econômico, cultural e religioso, o que muitas vezes não é fácil, podendo resultar em alterações psicológicas (18).
Dos participantes, 53,7% tinham filhos dependentes. Considerando-se que a maior parte era composta por mulheres sabe-se que elas, quando já são mães, enfrentam dupla jornada, dividindo as responsabilidades do trabalho, do lar e familiares. Este contexto favorece a ocorrência de estresse, fadiga física e mental e exaustão (19).

Em relação à escolaridade constatou-se que 53,7% tinham finalizado cursos técnicos; 20,4% superior completo; 33,2% especialização ou pós-graduação stricto sensu; 5,6% ensino superior incompleto e igual percentual o ensino médio completo. O nível de escolaridade gera um determinado posicionamento na sociedade e modifica a forma do indivíduo enfrentar e reagir diante das situações externas (20).

A assistência oferecida nas UTI deve ser realizada por meio do trabalho em equipe, em que os múltiplos saberes e competências precisam ser unir para planejar, organizar e definir estratégias que tragam melhores resultados aos pacientes (21). Neste estudo, os entrevistados trabalhavam em diferentes turnos. Características laborais como os turnos de trabalho, atuação nos fins de semanas, longas jornadas e formas de realização dos plantões podem dificultar, também o convívio familiar e fragilizar o processo de acompanhamento na educação dos filhos (22).

Questionados sobre o tempo de atuação profissional 15 participantes atuavam na UTI há menos de cinco anos. A maior parte dos trabalhadores, ou seja, 39 (72,7%) tinham de 6 a 30 anos de atuação profissional. Indagados sobre o tempo de trabalho neste local em específico foram encontrados os valores de 1 a 5 anos de atuação entre 21 pessoas (38,9%) e de 6 a 23 anos entre 33 (61,1%). O tempo de trabalho é uma variável de grande importância, quando se estuda os riscos psicossociais no trabalho. A síndrome de Burnout é um exemplo; no início de carreira os trabalhadores vivem uma fase de sensibilização e com o passar do tempo de trabalho, as expectativas idealistas e a realidade entram com contradição (23).

Sobre os TMC, estes podem acometer tanto homens como mulheres, as quais têm maior probabilidade de desenvolverem-nos (24). Alterações de saúde mental como estresse, fadiga e depressão são capazes de fazer com que o indivíduo adote um comportamento destrutivo no seu local de trabalho (25).

Estudo realizado na Irlanda com profissionais da saúde demonstrou que em 62% dos trabalhadores investigados o estresse ocupacional vivenciado no momento da pesquisa ou em momentos anteriores, causou algum tipo de sofrimento mental. Na pesquisa irlandesa foram apontados pela equipe como aspectos estressantes no trabalho: os próprios pacientes pelas questões clínicas, devido a sua gravidade e traumas, a falta de recursos disponíveis, as preocupações relacionadas ao cotidiano, o horário de trabalho, as relações humanas, os aspectos morais e gerenciais, o isolamento e as dificuldades de comunicação (26).

No presente estudo, no que se refere à avaliação da probabilidade do TMC observou-se que mulheres apresentaram valores médios de 4,37 enquanto os homens 3,85. Em ambos os sexos o valor mínimo foi zero e o máximo 13. Entre as mulheres a variável do SQR-20 com mais respostas afirmativas foi a questão “sente-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a) com 48,8%; a mesma afirmação repetiu-se nos homens, apenas com percentual diferente (38,5%).
Estudo realizado no sul do Brasil com trabalhadores da saúde de diferentes ocupações demonstrou que houve um alto índice de afastamentos do trabalho devido aos transtornos mentais e de comportamento. As taxas de absenteísmo neste estudo também demonstraram-se altas, contexto este preocupante, pois deixa claro o adoecimento psíquico destes profissionais (27).

A natureza do trabalho dos profissionais de saúde, bem como as questões salariais influenciam na ocorrência dos TMC. O contexto laboral ideal é aquele onde é possível que o trabalhador atenda às necessidades dos usuários e fique com bem estar e satisfação no trabalho, além do fato dele receber boa remuneração, estar saudável e trabalhar em conformidade com suas capacidades (28).

O ambiente laboral quando capaz de proporcionar oportunidades de desenvolvimento profissional gera sentimentos de competência e recompensa, que influenciam a satisfação e o entusiasmo profissional (29).

A literatura demonstra que a ocorrência dos TMC é mais frequente nas populações de 25 a 54 anos. Esses Transtornos são relacionados com as características socioeconômicas, o estado civil, a pouca escolaridade e os trabalhadores que se encontram em situações informais de trabalho (5,10,30).

Profissionais como médicos são predispostos aos fatores de risco para adoecimento psicológico. Consistem esses fatores de elevada carga de trabalho emocional e física, conflitos entre famílias, problemas financeiros, insatisfação com os sistemas de saúde, ansiedade, distúrbios do sono e exaustão (31).

Na Irlanda,os aspectos relacionados com as adequações dos recursos e das condições de trabalho, as melhorias na formação profissional e gerencial e o apoio por parte de colegas e superiores foram apontados como fatores que podem diminuir possiveis sofrimentos mentais (26).
Nivéis elevados de estresse são prejudiciais à saúde. O estresse laboral pode ser amenizado ou eliminado, desde que os trabalhadores tenham conhecimentos sobre a realização das práticas seguras em seu ambiente de trabalho e sejam, frequentemente, estimulados e realizar atividades de treinamentos e capacitações sobre hábitos de vida saudáveis (32).

No presente estudo considerando-se que a proposta de ponto de corte para a utilização do SQR-20 foi 6/7, os valores encontrados, tanto para homens como para as mulheres, foram relativamente baixos. Tal como encontrado noutros estudos, as mulheres desta amostra apresentaram mais sintomatologia de TMC, mas esta diferença não foi estatísticamente significativa, aplicando os testes de Qui-quadrado e Exato de Fisher. Apesar disso e tendo em conta os sintomas mais relatados e a exigência das profissões de saúde quanto a disponibilidade e atenção, sugere-se a necessidade de monitorização da saúde destes trabalhadores e o desenvolvimento de ações de proteção e promoção da saúde mental.

Diante do cenário encontrado comprova-se que à saúde dos trabalhadores estudados requer atenção, visto que muitos podem estar comparecendo a seus postos de trabalho mesmo doentes o que pode levar a um maior comprometimento físico e mental.

Esta pesquisa apresentou limitação por ter sido realizada em apenas uma UTI. Entretanto traz avanços no conhecimento, quanto a avaliação da saúde mental entre os trabalhadores, no que diz respeito a presença dos TMC, entre os que atuam neste tipo de Unidade hospitalar.

Conclusões

O estudo mostrou que a maior parte dos trabalhadores da equipe multiprofissional da UTI, eram mulheres, da equipe de enfermagem e grande parte dos participantes já atua na UTI há mais de cinco anos. Quanto à presença de Transtornos Mentais Comuns, as mulheres apresentaram resultados mais elevados quando comparadas aos homens o que sugere maior probabilidade da presença destes transtornos. Sugere-se a necessidade de ações de proteção e promoção da saúde mental entre esses trabalhadores, visando melhorar a sua saúde e, consequentemente, a qualidade da assistência ofertada ao usuário.

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