Papel do enfermeiro em creches/jardins-de-infância: a perspectiva dos estudantes de Enfermagem

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Garcia Galvão DMP. Papel do enfermeiro em creches/jardins-de-infância: a perspectiva dos estudantes de Enfermagem. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2018; 8(4):7-14.

Autores

Dulce Maria Pereira Garcia Galvão

Professora Coordenadora. Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (Portugal).

Contacto:

Email: dgalvao@esenfc.pt

Titulo:

Papel do enfermeiro em creches/jardins-de-infância: a perspectiva dos estudantes de Enfermagem

Resumen

Objetivo: conocer lo que valoran los estudiantes de Enfermería en el papel del enfermero en las guarderías/jardines de infancia. Metodología: estudio descriptivo, exploratorio, con 76 estudiantes que desarrollaron en 2016/2017 enseñanza clínica en guarderías/jardines de infancia. Se aplicó, entre diciembre de 2017 y enero de 2018, un cuestionario en línea, preprobado. Se trataron los datos cuantitativos utilizando estadística descriptiva. En las preguntas abiertas se recurrió el análisis de contenido de Bardin. Resultados: un gran porcentaje reconoció que el enfermero promueve estilos de vida saludables de toda la población escolar y comunidad educativa, se articula con las estructuras de salud, escuela y familia, interviene junto a los niños, familias y otros técnicos, trabaja en conjunto con otros elementos del equipo profesional y planea, ejecuta y evalúa programas de salud. Hubo estudiantes que refirieron que el enfermero tiene papel de educador en la infancia. Aunque consideren importante su presencia, para más de la mitad, estiman que no es importante a tiempo completo. Un gran porcentaje llevó a cabo la enseñanza clínica en lugares donde no había enfermero. Conclusiones: la creciente necesidad de realización de enseñanzas clínicas de estudiantes de Enfermería en las instituciones infantiles es una temática poco hablada y estudiada que requiere más estudios. Se pretendió, así, con este estudio, contribuir de forma sostenida en la evidencia científica para la mejora de las prácticas de enseñanza-aprendizaje y para el cambio de paradigma de la Enfermería.

Palabras clave:

Enfermería pediátrica; papel del enfermero; educación en Enfermería; niño; guardería jardín de infancia

Title:

Role of nurses in kindergarten and nursery school: a nursing student perspective

Abstract:

Purpose: to understand what nursing students value in nurse role in kindergarten/nursery school. Methods: a descriptive exploratory study in 76 students receiving clinical education in kindergarten/nursery school in 2016/2017. From December 2017 to January 2018, a pretested online questionnaire was administered. Quantitative data were shown using descriptive statistics. Open questions were assessed using Bardin's content analysis. Results: a large proportion of participants recognized that nurses promote healthy lifestyles in the whole school population and teaching community; coordinate with health structures, school and family; are involved with children, families and other professionals; work with other members in the professional team; and plan, implement, and evaluate health programs. Some students stated that nurses play an educator role in childhood. In spite of considering their presence important, more than a half thought it is not important as a full time task. A large proportion had clinical education in places with no nurses present. Conclusions: increasing need to have clinical education for nursing students in child institutions is a scarcely discussed and poorly assessed matter; further studies are needed. The current study was intended to contribute to scientific evidence in a sustained way to improve teaching-learning practices and paradigm shift in Nursing.

Keywords:

pediatric nursing; nurse role; education in nursing; child; kindergartennursery school

Portugues

Título:

Papel del enfermero en guarderías/jardines-de-infancia: la perspectiva de los estudiantes de Enfermería

Resumo:

Objetivo: conhecer o que valorizam os estudantes de enfermagem no papel do enfermeiro nas creches/jardins-de-infância. Metodologia: estudo descritivo, exploratório, com 76 estudantes que desenvolveram em 2016/2017 ensino clínico numa creche/jardim-de-infância. Aplicou-se, entre Dezembro/2017 e Janeiro/2018, um questionário on-line, pré-testado. Trataram-se os dados quantitativos utilizando-se a estatística descritiva. Nas questões abertas recorreu-se à análise de conteúdo de Bardin. Resultados: grande percentagem reconheceu que o enfermeiro promove estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa, articula-se com as estruturas de saúde, escola e família, intervém junto das crianças, famílias, outros técnicos, trabalha em conjunto com outros elementos da equipa profissional e planeia, executa e avalia programas de saúde. Houve estudantes a referir que o enfermeiro tem papel de educador de infância. Embora considerem importante a sua presença, para mais de metade, não é importante a tempo inteiro. Grande percentagem realizou o ensino clínico em locais onde não havia enfermeiro. Conclusões: a crescente necessidade de realização de ensinos clínicos de estudantes de enfermagem nas instituições infantis é uma temática pouco falada e estudada que requer mais estudos. Pretendeu-se, assim, com este estudo, contribuir de forma sustentada na evidência científica para a melhoraria das práticas de ensino-aprendizagem e para a mudança de paradigma da enfermagem.

Palavras-chave:

Enfermagem Pediátrica; papel do enfermeiro; curso de enfermagem; criança; crechejardim-de-infância

Introdução

A educação infantil, como primeira etapa na educação básica, preconiza o desenvolvimento integral da criança - nos aspectos físico, psicológico, intelectual e sociais -complementado com a acção da família.

Segundo o Programa Nacional de Saúde Escolar de dois mil e quinze, “todas as crianças e jovens têm direito à saúde e à educação e devem ter oportunidade de frequentar uma escola que promova a saúde e o bem-estar” (p.20) (1). Portanto, as creches/jardins-de-infância, como instituições, têm o dever de oferecer condições que proporcionem um crescimento e desenvolvimento integral e harmonioso à criança num ambiente com o menor risco possível de adoecer e de ser vítima de acidentes.

Através dos conhecimentos adquiridos durante o curso de enfermagem, a assistência a ser oferecida na creche e jardim-de-infância é de grande abrangência, não só pela intimidade alcançada, mas também pela preocupação em satisfazer as necessidades físicas e emocionais das crianças, incluindo nestas a preocupação com a alimentação, higiene, segurança, imunização, entre outros, atingindo, assim, uma visão holística (2).

O vínculo entre o enfermeiro e a creche/jardim-de-infância possibilita inúmeros benefícios que não seriam somente para a criança e família como também para a construção de uma parceria com os profissionais que nela actuam (2).

As creches/jardins-de-infância são locais onde permanecem crianças com idades entre os 0 e os 6 anos de idade. Nestes locais a prestação de serviços educativos é obrigatoriamente exercida por profissionais que têm como habilitação o curso de educadores de infância (3). O tempo de actividades pedagógicas (tempo lectivo) tem de ser assegurado, em cada sala, por profissionais e o de prolongamento do horário de atendimento, por não ter uma intencionalidade pedagógica, quem o assegura deve ter uma habilitação superior à escolaridade obrigatória (3).

Em Portugal, o Estatuto dos Jardins-de-Infância do sistema público de educação pré-escolar foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º 542/79, de 31 de Dezembro (4). Relativamente ao pessoal técnico está previsto, respectivamente, nos Nº 2 e 3 do Art. 44.º do Capítulo XI que “Nos jardins-de-infância dependentes do Ministério dos Assuntos Sociais haverá ainda pessoal auxiliar do pessoal técnico.” e “Os jardins-de-infância dependentes do Ministério da Educação poderão ainda contratar pessoal técnico nas condições previstas no presente Estatuto.” No Nº 1 do Art. 55º pode ler-se: “Por portaria conjunta dos Ministros das Finanças e da Educação e do Secretário de Estado da Administração Pública poderão ser contratados profissionais para apoio temporário dos jardins-de-infância em domínios de saúde, psicopedagogia e outros” (5). Já em Espanha a presença da enfermeira escolar, exercendo o seu trabalho com crianças e jovens em creches, escolas, primárias e secundárias, públicas e privadas, tem mais de três décadas (6). O enfermeiro escolar, é o profissional que se encontra apto a desenvolver intervenções autónomas que incluem a promoção da saúde, a prevenção da doença e a assistência à criança saudável ou doente e a sua reabilitação dentro de uma equipa multiprofissional e em colaboração com outros enfermeiros especialistas de outras áreas (6). Para esta associação (6) as competências desenvolvidas pelo enfermeiro escolar são as previstas no regulamento de competências do enfermeiro de cuidados gerais, mas, também, as previstas no perfil de competências do enfermeiro especialista em enfermagem pediátrica, enfermagem familiar e comunitária e enfermagem de saúde mental (6). No seu entender (6), são competências do enfermeiro escolar a atenção integral ao aluno.

Com este estudo pretendeu-se conhecer o que valorizam os estudantes de enfermagem no papel do enfermeiro nas creches/jardins-de-infância.

Metodología

Realizando os estudantes de Enfermagem o Ensino Clínico em creches/jardins-de-infância e verificando-se a carência de pesquisas desenvolvidas em Portugal sobre esta temática, surgiu a questão: Que papel tem o enfermeiro na creche/jardim-de-infância na perspectiva dos estudantes de enfermagem? Desenvolveu-se um estudo descritivo e exploratório, junto de estudantes que realizaram no ano lectivo 2016/2017 o Ensino Clínico da Área de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediatria numa Creche/Jardim-de-Infância após aceitação da realização do estudo pela Presidente da Escola Superior de Enfermagem onde o estudo decorreu e aprovação da Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (Parecer Nº P 467-11/17).

Foi solicitada permissão para contactar os Serviços Académicos, funcionária de referência do Ensino Clínico Cuidados Primários/Diferenciados do Curso de Licenciatura em Enfermagem, para se proceder à caracterização da população em estudo e obter os contactos dos formandos. Apurou-se terem sido distribuídos para realizar o ensino clínico em creche/jardim-de-infância 79 estudantes. Assim, o Universo Populacional considerado é constituído por todos os estudantes que realizaram estágio nestas instituições vocacionadas para a promoção do crescimento e desenvolvimento das crianças e de grande apoio às famílias.

Utilizou-se uma amostra intencional cujos critérios de inclusão assentaram em que os participantes fossem: estudantes que no ano lectivo 2016/2017 realizaram ensino clínico em creches/jardins-de-infância; não tivessem desistido do ensino clínico; obtivessem classificação positiva e aceitassem participar no estudo.

Recorreu-se à aplicação de um questionário elaborado, pela autora, com questões abertas e fechadas que permitissem caracterizar a amostra em estudo e obter informação acerca da perspectiva dos estudantes de enfermagem sobre o papel do Enfermeiro em creches/jardins-de-infância. A colheita da informação decorreu entre Dezembro de 2017 e Janeiro de 2018.

O Questionário, após a sua elaboração foi revisto, de modo a ser validado. Foi submetido a uma análise crítica de forma a avaliar a pertinência das questões, bem como detectar possíveis erros de ordem técnica e gramatical. Para garantir que todas as questões eram compreendidas, davam as informações procuradas e para resolver possíveis dúvidas que pudessem surgir relativamente à formulação e sequência das questões, bem como se nas perguntas fechadas a variedade de opções era completa, cobrindo todas as possibilidades de resposta, foi realizado o pré-teste junto de cinco estudantes do Universo Populacional contactados pessoalmente para este efeito. As informações obtidas, durante esta fase de pesquisa, mereceram análise cuidada, tratamento adequado aos objectivos da sua realização. Por não conduzirem a qualquer alteração ao questionário passou-se à redacção final.

A aplicação do questionário, cujo tempo de preenchimento não ultrapassou os 15-20 minutos, aconteceu on-line. Havendo, por parte dos estudantes, num primeiro momento, pouca adesão ao seu preenchimento, foram contactados os professores orientadores de cada local de estágio onde agora os estudantes se encontravam em ensino clínico, no sentido de os incentivar à colaboração no estudo. Foi contactada a funcionária administrativa de referência que, providenciou a lista de estudantes que efectuaram ensino clínico no ano 2016/2017 em creche/jardim-de-infância e actual colocação em estágio assim como o respectivo professor orientador.

Para que os estudantes participassem no estudo foram cumpridos os procedimentos éticos - pedido formal para realização do estudo e consentimento informado.

As informações colhidas através dos questionários foram inseridas num banco de dados e tratadas estatisticamente por meio do programa Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 23.0.

O tratamento estatístico da informação foi realizado pela própria investigadora que recorreu ao cálculo de frequências absolutas e percentuais e medidas estatísticas descritivas tendo em conta a natureza das variáveis em estudo.

Nas questões abertas recorreu-se à análise de conteúdo de Bardin (7) que como refere na organização da análise temos em atenção as três etapas do processo: a pré-análise, a exploração do material e finalmente o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Resultados

Dos 79 estudantes distribuídos para realizar o ensino clínico em creche/jardim-de-infância 76 responderam ao questionário. Eram maioritariamente do sexo feminino (69,7% (53)) e tinham idade média de 22 anos sendo que a moda se localizou nos 21 anos (39,5%). Um total de 56,6% (43) desenvolveu o Ensino Clínico em Creche/jardim-de-infância no 6º Semestre e 43,4% (33) no 7º Semestre. Quando confrontados(as) com a realização do Ensino Clínico de Enfermagem de Saúde Infantil e Pediatria numa Creche/jardim-de-infância 57,9% (44) dos estudantes respondeu ter manifestado o seu desagrado, 42,1% (32) ter ficado perturbado(a) e 34,2% (26) tentado trocar de local de estágio. Um total de 21,1% (16) respondeu ter ficado tranquilo(a). Embora 27,6% (21) dos 76 estudantes, 11 do 6º semestre e 10 do 7º Semestre, tivesse realizado o estágio numa creche/jardim-de-infância onde havia Enfermeiro, somente 13,2% (10) respondeu afirmativamente à questão “A creche/jardim-de-infância onde desenvolveu o seu Ensino Clínico tinha Enfermeiro?”. Para 57,9% (44) não é importante a presença do enfermeiro a tempo inteiro na creche/jardim-de-infância.

Papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância

Apurou-se que 73,7% (56) dos estudantes reconhece que o enfermeiro promove estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa. Articula-se com as estruturas de saúde, escola e família foi a resposta dada por 50% da amostra. Um total de 47,4% (36) respondeu que o enfermeiro intervém junto das crianças, famílias, outros técnicos que aí desenvolvem a sua actividade profissional. Para 44,7% (34) dos estudantes trabalha em conjunto com os outros elementos da equipa profissional. Planear, executar e avaliar programas de saúde foi a resposta dada por 42,1% (32) dos participantes. Há, no entanto, estudantes que referem que o enfermeiro tem papel de Educador de Infância (3,9%), tem intervenção relevante num número limitado de crianças (1,3%) ou que no Ensino Clínico não foi claro o papel do Enfermeiro (2,6%).

As intervenções que o enfermeiro na creche/jardim-de-infância desenvolve junto das crianças apontadas por maior número de estudantes foram Promoção da saúde (76,3% (58)) e Sinalização e identificação de situações que possam comprometer o crescimento e desenvolvimento das crianças (65,8% (50)). Seguiram-se Promoção do crescimento e do desenvolvimento (63,2% (48)), Actuação perante uma urgência (57,9% (44)), Diagnóstico precoce de desvios no normal crescimento e desenvolvimento das crianças (55,3% (42)) e Prevenção e tratamento da doença (31,6% (24)). Para 3,9% (3) dos estudantes o enfermeiro junto das crianças na creche/jardim-de-infância desenvolve um papel de Educador de Infância e para 1,3% (1) não tem qualquer intervenção.

Junto da família as intervenções que o enfermeiro da creche/jardim-de-infância desenvolve, apontadas por maior número de estudantes, foram Capacitação dos pais (76,3% (58)), Segurança para os pais (47,4% (36)) e Apoio aos pais nas suas responsabilidades parentais (36,8% (28)). Para 1,3% (1) dos estudantes Sinalizar e identificar situações que possam comprometer o crescimento e desenvolvimento das crianças é uma intervenção desenvolvida pelo enfermeiro junto da família. Na perspectiva de 1,3% (1) dos estudantes o enfermeiro não desenvolve qualquer intervenção.

Junto dos outros técnicos que desenvolvem a actividade profissional na Creche/jardim-de-infância para 73,7% (56) dos estudantes, o enfermeiro desenvolve Formação relacionada com os cuidados às crianças, e para 60,5% (46) orienta e supervisiona os cuidados prestados às crianças. Houve 1,3% (1) dos estudantes que referiu que o enfermeiro não tem qualquer intervenção.

Em articulação com as estruturas de saúde as intervenções que os estudantes referiram que o enfermeiro da Creche/jardim-de-infância desenvolve foram Sinalização das crianças com desvios no normal crescimento e desenvolvimento (71,1% (54)) e Implementação conjunta de programas de saúde (50,0% (38)). Para 5,2% (4) dos estudantes durante o ensino clínico não foi claro o papel do Enfermeiro. Ainda 1,3% (1) dos estudantes referiu que o enfermeiro não tem qualquer intervenção.

O que foi experienciando ao longo do ensino clínico

Pediu-se aos participantes que expressassem o que foram experienciando à medida que o Ensino Clínico foi decorrendo. A análise dos seus relatos permitiu destacar o tema: o enfermeiro na creche/jardim-de-infância.

O enfermeiro na creche/jardim-de-infância

Relativamente ao Tema: O enfermeiro na creche/jardim-de-infância sobressaíram as categorias presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância e papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância.

Presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância

A primeira ideia que ressaltou nos relatos dos estudantes foi a necessidade da Presença do Enfermeiro na Creche/Jardim de Infância, como ilustram as expressões:

“Constatação da necessidade de enfermeiro numa creche, (…).” (P11).

“Durante o decorrer do ensino clínico apercebi-me de que era importante a presença de enfermeiros, (…).” (P19).

Porém, para alguns estudantes, a Presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância é necessária mas, não a tempo inteiro, como revelam:

“(…) e é importante o enfermeiro ir à creche/jardim-de-infância, mas não é pertinente nem necessária a sua presença todos os dias!” (P14).

“Não considero fundamental a presença de um enfermeiro a tempo inteiro nestas instituições (…).” (P17).

“(…) À medida que o ensino clínico foi decorrendo fui dando conta que o enfermeiro é importante numa creche/jardim-de-infância, mas não a tempo inteiro ou a part-time” (P15).

“A presença de um enfermeiro numa única creche não faz sentido pela quantidade diminuta de trabalho que existe possa existir.” (P20).

“(…) no entanto, não acho que seja necessária a presença de um enfermeiro todos os dias numa creche/jardim-de-infância, mas talvez em part-time, (…).” (P22).

“Apesar de achar que um enfermeiro nas creches é importante, não considero que o seja diariamente.” (P23).

Papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância

Outro aspecto que emergiu nos relatos dos estudantes foi o papel do enfermeiro na creche/jardim-de-infância onde colocam em evidência a intervenção do enfermeiro junto das crianças, famílias e profissionais da creche, como evidenciam os relatos.

“(…) pois foi possível a verificação de áreas de actuação de enfermagem para com as crianças e os pais, tendo ainda verificado a existência de algumas dúvidas e receios por parte dos profissionais da creche sobre certos cuidados às crianças da creche e como actuar em certas situações.” (P11).

“Para mim é importante promover estilos de vida saudável e é importante o enfermeiro ir à creche/jardim-de-infância, (…).” (P14).

“Um enfermeiro é importante para avaliar e desenvolver acções de educação para a saúde, tanto para as crianças e as suas famílias, mas também para as educadoras e outros funcionários, pois estes fazem parte da base da educação das crianças, pois cada vez mais estas passam muito tempo nos locais de educação.” (P15).

“(…) mas concordo que o enfermeiro tem um papel fundamental na educação das crianças, famílias e educadores para a promoção de estilos de vida saudáveis, de desenvolvimento e crescimento saudáveis e na identificação de desvios de saúde.” (P17).

“(…) em caso de urgência, para cuidados primários e para a realização de sessões de educação para a saúde e esclarecimentos aos pais e educadores de infância.” (P22).

Discussão

Os nossos resultados corroboram o verificado no estudo descritivo e exploratório, realizado junto de sete professores, para conhecer o que valorizam os professores de enfermagem no papel do enfermeiro nas creches/jardins-de-infância onde se apurou que só alguns professores defendem a presença do enfermeiro na creche/jardim-de-infância a tempo integral (4), também para mais de metade dos formandos não é importante a presença do Enfermeiro a tempo inteiro na Creche/jardim-de-infância. Os estudantes, embora considerem importante a presença do enfermeiro na Creche/jardim-de-infância, comungam da opinião dos professores. Porém, a inserção do profissional de enfermagem no quadro fixo de funcionários de uma creche visa aprimorar a assistência à criança nela institucionalizada (2). Há autores (8) que defendem a presença do enfermeiro nestas instituições alegando que a formação desperta para o cuidado ao ser humano de forma holística, visando, principalmente, a promoção da saúde. No nosso estudo apurou-se que os estudantes atribuem ao enfermeiro numa Creche/jardim-de-infância o papel de promoção de estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa, articulação com as estruturas de saúde, a escola e a família, intervenção junto das crianças, das famílias, dos outros técnicos que aí desenvolvem a sua actividade profissional, trabalho conjunto com os outros elementos da equipa profissional e planeamento, execução e avaliação de programas de saúde. O que vai de encontro aos resultados encontrados onde se verificou que também maioritariamente os professores consideravam que o enfermeiro tem papel preponderante (4).

Para os professores o enfermeiro intervém junto das crianças, famílias, outros técnicos e em articulação com as estruturas de saúde, escola e família. A sua presença traduz-se também em segurança para os pais sobre o bem-estar da criança e permite-lhes reduzir períodos de ausência ao trabalho (4). Em maior percentagem os estudantes do nosso estudo consideraram que o enfermeiro na creche/jardim-de-infância, mais especificamente, desenvolve junto das crianças a promoção da saúde, sinalização e identificação de situações que possam comprometer o crescimento e desenvolvimento das crianças, promoção do crescimento e do desenvolvimento, actuação perante uma urgência e o diagnóstico precoce de desvios no normal crescimento e desenvolvimento das crianças. Junto da família as intervenções mais evidenciadas foram a capacitação dos pais, segurança para os pais e apoio aos pais nas suas responsabilidades parentais. Junto dos outros técnicos focaram a formação relacionada com os cuidados às crianças e a orientação e supervisão dos cuidados prestados às crianças. Já no que diz respeito à articulação com as estruturas de saúde as intervenções que os estudantes referiram que o enfermeiro da creche/jardim-de-infância desenvolve foram a sinalização das crianças com desvios no normal crescimento e desenvolvimento e a implementação conjunta de programas de saúde. No decorrer do ensino clínico, segundo os relatos dos estudantes, foi evidente que o enfermeiro na creche/jardim-de-infância teve papel interventivo junto das crianças, famílias e profissionais da creche desenvolvendo essencialmente actividades de promoção de estilos de vida saudável e de educação para a saúde. Integrar a educação em saúde nas creches e pré-escolas sob a supervisão do enfermeiro torna-se prioritário uma vez que o enfermeiro possui na sua formação académica uma ampla variedade de conhecimentos que poderão ser aplicados de maneira benéfica sobre as crianças (2). A actuação do enfermeiro numa creche/jardim-de-infância ou em qualquer outro contexto vai além da administração de terapêutica ou de intervenções interdependentes (4). A enfermeira escolar desenvolve competências comunicacionais, de assistência à criança, de gestão de saúde da comunidade educativa, competências docentes, competências de investigação e competências de relações interprofissionais (6).

Porém, é de assinalar que houve estudantes a referirem que o enfermeiro da Creche/jardim-de-infância desenvolve papel de educador de infância ou que não desenvolve qualquer intervenção. É importante incluir na formação diversidade de cenários de ensino e inclusão de outros contextos para além dos equipamentos de saúde, concretamente equipamentos educacionais e comunitários o que permite o contacto com diferentes actores, relevantes para a visão integral de cuidados à criança e sua família, para a formação profissional e pessoal dos formandos e também do trabalho em equipe (9).

Embora a enfermeira nas escolas, integrada na comunidade educativa tenha valor acrescido, eficaz e eficiente, para normalizar a vida diária das crianças e adolescentes saudáveis ou com problemas de saúde, promovendo estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa (6) grande percentagem de estudantes referiu ter realizado o ensino clínico em locais onde não havia enfermeiro. Em Portugal nos jardins-de-infância dependentes do Ministério dos Assuntos Sociais “poderão ser contratados profissionais para apoio temporário dos jardins-de-infância em domínios de saúde, psicopedagogia e outros” (5). Grande percentagem de estudantes respondeu ter manifestado desagrado, ficado perturbado/a e tentado trocar quando soube que ia realizar o ensino clínico numa Creche/jardim-de-infância. Sabe-se que “O período de estágio pode ser considerado um momento crítico para os futuros profissionais de saúde, visto que é um momento de transformações intensas no modo de pensar-agir dos alunos. Um mundo novo está à frente de jovens que se deparam com sentimentos diferenciados e, muitas vezes, nunca experimentados. Essas transformações fazem parte do processo educativo e da prática pedagógica moderna em que o aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conhecer e aprender a conviver são a base para a formação de profissionais competentes e decisivos no mercado de trabalho. O modo como o professor se faz presente, orientando os alunos nas atividades de estágio é muito importante para a aprendizagem, pois o aluno espera apoio e escuta, por parte do professor, desejando ser visto em sua integralidade, tendo ou não, o professor como exemplo a seguir.” (P. 39) (10).

Conclusões

O estudo desenvolvido permitiu concluir que, embora os estudantes considerem importante a presença do enfermeiro na Creche/jardim-de-infância, para mais de metade, não é importante a sua presença a tempo inteiro. Os estudantes atribuem ao enfermeiro numa Creche/jardim-de-infância o papel de promoção de estilos de vida saudável de toda a população escolar e comunidade educativa, articulação com as estruturas de saúde, a escola e a família, intervenção junto das crianças, das famílias, dos outros técnicos que aí desenvolvem a sua actividade profissional, trabalho conjunto com os outros elementos da equipa profissional e planeamento, execução e avaliação de programas de saúde, todavia grande percentagem de estudantes referiu ter realizado o ensino clínico em locais onde não havia enfermeiro.

A crescente necessidade de realização de ensinos clínicos de estudantes de enfermagem nas instituições infantis é uma temática pouco falada e estudada que requer mais estudos.

Pretendeu-se, assim, com este estudo, contribuir de forma sustentada na evidência científica para a melhoraria das práticas de ensino-aprendizagem e para a mudança de paradigma da enfermagem.

Agradecimentos

Às Funcionárias de referência do Ensino Clínico Cuidados Primários/Diferenciados do Curso de Licenciatura em Enfermagem da ESEnfC, D. Cristina Maria A. Guardado, D. Maria do Céu Ferreira Margalho e D. Maria da Conceição S. Oliveira da Silva.

Ao André Filipe da Costa Monteiro, Estudante do Curso de Licenciatura em Enfermagem da ESEnfC do 7º Semestre Ano Lectivo 2017/2018.

Bibliografía

  1. Direcção Geral de Saúde. Programa Nacional de Saúde Escolar [internet]. Lisboa: Direcção Geral; 2015. [citado 8 sep 2018]. Disponível em: URL: http://www.spp.pt/UserFiles/file/EVIDENCIAS%20EM%20PEDIATRIA/015_2015_AGO.2015.pdf
  2. Oliveira M, Santos PP, Silva W. A necessidade da inserção de enfermeiros nas creches: um aspecto para investigação de enfermagem [internet]. Barbacena, Brasil: Universidade Presidente Antônio Carlos; 2012. [citado 8 sep 2018]. Disponível em: http://www.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-5a59b6a323a3ad5c3b2987420561d1d9.pdf
  3. Ministério da Educação. Departamento da Educação Básica. A educação pré-escolar e os cuidados para a primeira infância em Portugal. Lisboa: Ministério da Educação. Departamento da Educação Básica; 2000.
  4. Galvão DMPG. O enfermeiro na creche/jardim-de-infância: perspectiva dos professores de uma Escola Superior de Enfermagem. Enferm Global. 2018; 17(3):368-405.
  5. Decreto-Lei num. 542/79. Estatuto dos Jardins-de-Infância do sistema público de educação pré-escolar, DR I Série. 300, (Dez. 12, 1979).
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  7. Bardin L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Lisboa: Edições 70; 2013.
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  9. Cursino EG, Fujimori E, Gaíva MAM. Integralidade no ensino da saúde da criança na graduação em enfermagem: análise de planos de ensino. Cienc Cuid Saude 2012; 11(4):799-807.
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