AVALIAÇÃO DAS FLEBITES OCORRIDAS EM UM HOSPITAL PAULISTA-BRASIL

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Tomazelli R, Oliveira MF, Gallo PF, Nascimento NI, Robazzi MLCC. Avaliação das flebites ocorridas em um hospital paulistabrasil. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2018; 8(4):31-40.

Autores

1 Rodrigo Tomazelli 2 Mayra Fernanda de Oliveira 3 Paula Furquim Gallo 3 Nycole Israel do Nascimento 4 Maria Lucia do Carmo Cruz Robazzi

1 Enfermeiro. Mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP). Centro Colaborador para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. Brasil.2 Enfermeira. Doutora em enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP). Centro Colaborador para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. Brasil.3 Enfermeira. Mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP). Centro Colaborador para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. Brasil.4 Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP-USP). Centro Colaborador para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. Brasil.

Contacto:

Email: rodrigotomazelli@hotmail.com

Titulo:

AVALIAÇÃO DAS FLEBITES OCORRIDAS EM UM HOSPITAL PAULISTA-BRASIL

Resumen

Objetivo: evaluar las flebitis notificadas en un hospital brasileño y la posible asociación entre su clasificación, el uso de medicamentos infundidos y el calibre del catéter empleado.

Método: estudio transversal, retrospectivo que evaluó 436 fichas de pacientes con flebitis entre enero de 2012 a diciembre de 2014. Se evaluaron características de los pacientes y de las flebitis; se utilizó la prueba exacta de Fisher para asociar la clasificación de flebitis y el calibre del catéter.

Resultados: 373 pacientes fueron acometidos por estos eventos adversos en el periodo estudiado; la mayoría era blanca, sexo femenino, promedio de edad de 59,3 años y 10 días de internación; entre estos pacientes hubo 436 notificaciones de flebitis.

Conclusión: el tiempo promedio de permanencia de los catéteres fue de 2,27 días; la mayoría de las flebitis fue de Grado 2 y ocurrió en el miembro superior izquierdo; de los 436 catéteres puncionados, se asoció la ocurrencia de estos eventos en individuos con diabetes (26%) y en 243 fue posible asociar su calibre con el grado de la flebitis, siendo la mayor asociación (28,4%) la del catéter 22 Gauge con la flebitis Grado 2. Se agrega que el 96,2% de los medicamentos infundidos en los 373 pacientes era antibiótico. Las rutinas y/o protocolos han de existir para asegurar una mayor vigilancia relacionada con las flebitis y las prácticas de Enfermería, para que no haya el compromiso de la calidad de la asistencia a la salud.

Palabras clave:

flebitis ; Cateterismo periférico ; catéteres ; efectos adversos ; atención de enfermería ; evaluación de Enfermería

Title:

Evaluation of phlebitis occurring in a paulist hospital-Brazil

Abstract:

Objective: to assess the cases of phlebitis reported in a Brazilian hospital and the potential association of their categories with use of infusion drugs and catheter gauge.

Methods: a retrospective, cross-sectional study to evaluate 436 records of patients with phlebitis from January 2012 to December 2014. Patients’ characteristics and phlebitis features were evaluated; a Fisher's exact test was used to assess the association of phlebitis category with catheter gauge.

Results: 373 patients were treated for such adverse events over the study period; most of them were white, female, average age 59.3 years, with duration of stay being 10 days; 436 reports of phlebitis events were found in such patients.

Conclusion: Mean residence time for catheters was 2.27 days; most phlebitis events had a grade 2 severity and involved left higher limb; Among 436 assessed catheters, event occurrence was associated to diabetes (26%); in 243 cases an association of catheter gauge to phlebitis grade was found, with maximal association (28.4%) being found for 22-gauge catheter with grade 2 phlebitis. Furthermore, 96.2% of infusion drugs in 373 patients were antibiotics. Routine procedures and/or protocols are needed to ensure a higher surveillance for phlebitis and nursing practices, in order to avoid compromising the quality of health care.

Keywords:

Phlebitis; peripheral canulation; catheters; adverse effects; nursing care; Nursing Assessment

Portugues

Título:

Evaluación de las flebitis ocurridas en un hospital paulista-Brasil

Resumo:

Objetivo: avaliar as flebites notificadas em um hospital brasileiro e a possível associação entre a sua classificação, o uso de medicamentos infundido e o calibre do cateter utilizado. Método: estudo transversal, retrospectivo que avaliou 436 fichas de pacientes com flebites entre janeiro de 2012 a dezembro de 2014. Foram avaliadas características dos pacientes e das flebites; utilizou-seo Teste exato Fisher para associar a classificação de flebite e o calibre do cateter. Resultados: 373 pacientes foram acometidos por esses eventos adversos no período estudado; a maioria era branca, sexo feminino, média de idade de 59,3 anos e 10 dias de internação; entre esses pacientes houve 436 notificações de flebites. Conclusão: o tempo médio de permanência dos cateteres foi 2,27 dias; a maioria das flebites foi de Grau 2 e ocorreu no Membro Superior Esquerdo; dos 436 cateteres puncionados, associou-se a ocorrência desses eventos em indivíduos com diabetes (26%) e em 243 foi possível associar o seu calibre com o grau da flebite sendo a maior associação (28,4%) a do cateter 22 Gauge com a flebite Grau 2. Acresce-se que 96,2% dos medicamentos infundidos nos 373 pacientes eram antibióticos. Rotinas e/ou protocolos devem existir para assegurar uma maior vigilância relacionada às flebites e às práticas de enfermagem, para que não haja o comprometimento da qualidade da assistência à saúde.

Palavras-chave:

flebite; cateterismo periférico; cateteres; efeitos adversos; cuidados de enfermagem; avaliação em enfermagem

Introdução

Evento adverso (EA) é um agravo não intencional, sem relação com a doença que motivou o atendimento; provoca lesões no paciente afetado e/ou prolonga o tempo de internação podendo levá-lo ao óbito (1).Esse tema é de relevância mundial e relaciona-se tanto à segurança na assistência à saúde como à segurança do paciente, sendo um qualificador dessa assistência (2).

Entre os EA destacam-se as flebites,complicações que podem acontecer devido a terapia intravenosa, um dos procedimentos mais comuns da prática hospitalar, realizado por profissionais da enfermagem em diferentes contextos de cuidado (2).Consiste na inflamação do vaso sanguíneo, acometendo de 11 a 64% dos pacientes internados e podem reduzir a velocidade de infusão e favorecero aparecimento de infecção local e sistêmica (3-5). A proporção aceita para a sua ocorrência é 5% (6-7). Classificam-seem química, mecânica e infecciosa, apresentandocomo sinais/sintomas edema, calor local, hiperemia, cordão fibroso no trajeto do vaso, dor e saída de exsudato pelo local de punção (3,6).

Alguns fatores de risco podem contribuir para o seu desenvolvimento comohospitalização, número de medicamentos infundidos, administração de plaquetas, utilização de antibacterianos e anti-secretores gástricos, osmolaridade, dose dos medicamentos, tipo e pH da medicação ou solução, tipos de curativos, técnicas de inserção do cateter venoso periférico (CVP), tempo de sua permanência, calibre, material de sua fabricação, condições dos pacientes, da rede venosa e manutenção desses cateteres, infecções em outro local do corpo, sexo, idade do paciente e assepsia inadequada (2-3,8-9).

Para avaliação das flebites utilizam-se escalas para determinar seu grau e critérios bem estabelecidos para a correta identificação, que podem auxiliar na detecção precoce e avaliar a presença e severidade do evento estimando quando os CVP devem ser retirados/substituídos (3). Há a Escala de Baxter (8), a Escala de Gravidade proposta pela Infusion Nurses Society (7), a Visual Infusion Phlebitis Scale (3), entre outras.

Estudo com 69 pacientes que receberam drogas anestésicas evidenciou 73 EA e, desses, 85,5%foram flebites (8). A equipe de enfermagem é a que mais permanece nos ambientes hospitalares, realizando procedimentos, incluindo-se as punções para as terapias intravenosas com CVP (1,3-4,7-9); então deve conhecer bem os fatores de risco, para que consiga controlá-los e evitar tais EA.

Investigação brasileira objetivou caracterizar as flebites notificadas em um hospital; dados de 285 fichas de notificação de janeiro de 2012 a agosto de 2013 mostraram que suas características mais prevalentes foram aquelas em punções no dorso da mão, as de grau I e as de causas químicas (10). Ainda no Brasil, estudo com 171 pacientes, com 361 punções, teve como objetivo investigar a incidência de flebites e a associação de fatores de risco com a sua ocorrência durante o uso e após a retirada do CVP em adultos hospitalizados; 51,5% dos pacientes eram homens commédia de 56,96 anos de idade; a incidência de flebitedurante o uso do cateter foi de 1,25% e pós-infusão 1,38%. Foi possível associar a sua ocorrência aotempo de permanência do cateter sendo as flebites de grau III e II as mais frequentes (11).

Na Itália, estudo objetivou avaliara inserção de CVP em situações de emergência encontrando que de 1.262 pacientes que ficaram internados por mais de 24 horas, a prevalência de flebite foi de 31% aumentando a incidência conforme o tempo após inserção, chegando a 50% após cinco dias de internação. Estar em hospital especializadoe receber mais cuidados de enfermagem foram elementos associados ao menor risco de complicações pela presença doCVP (12). Pesquisa realizada na Sérvia e Croácia com 102 enfermeiros mostrou que esses reconheceram fatores que poderiam reduzir a incidência de flebite, como determinados medicamentos; entretanto, mais de 50% ignoravam que o material e o calibre do cateter também poderiam favorecer o evento (13). Resultados semelhantes foram encontrados em investigação chinesa com enfermeiras, que mostraram conhecimento incompleto sobre os fatores de risco para o desenvolvimento deste EA: 89,9% respondera incorretamente sobre o pH dos líquidos,79,1% tivera equívocossobre o uso de gazes/curativos de cateter de poliuretano; 76,3% errara respostas sobre uso de agulhas de aço para infusão de drogas. Evidenciou-se que esses profissionais deveriam ser treinados sobre os fatores de risco para o desenvolvimento desta complicação (14). Na Espanha, estudo objetivou determinar incidência de flebite e fatores de risco relacionados aos cuidadoscom o CVP; foram observados 178 CVP diariamente, até a sua retirada. Os resultados mostraram que a taxa de incidência de flebite foi maior que aquela teoricamente aceitável; um maior diâmetro do CVP e o uso de tubos de extensão foram as variáveis associadas à inserção do cateter, o que aumentou o risco desse EA (15).

Flebites são, então, eventos complexos que precisam ser melhor compreendidos.

A presente investigação teve como objetivoavaliar as flebites notificadas em um hospital brasileiro epossível associação entre a sua classificação, o uso de medicamentos infundidoe o calibre do cateter utilizado.

Espera-se que os resultados possam subsidiar ações visando melhorias da assistência de enfermagem, proporcionando mais segurança aos pacientes hospitalizados.

Método

Estudo quantitativo, descritivo, exploratório, retrospectivo e transversal realizado em um hospital de 50 leitoslocalizado em uma cidade do estado de São Paulo, Brasil, estudando-se 452 fichas de notificações de flebite de 1/1/2012 a 31/12/2014, excluindo-se as não preenchidas, as repetidas e as relacionadas aos outros EA, o que resultou em 436 flebites notificadas. Justifica-se a opção pelos anos selecionados pois a instituição, até 2011, não possuía registros de notificação de EA.

Os dados foram coletados por meio de um instrumento elaborado pelos autores, tendo como fonte de consulta as fichas mencionadas além do prontuário dos pacientes. Nesse instrumento foram estabelecidos espaços para o registro de informações sobre os pacientes, sua internação e características da flebite (localização do acesso venoso, data da inserção do cateter, calibre, tempo de inserção do cateter e gravidade da flebite).

Usualmente, punções de acesso venoso com a manutenção de cateteres são feitas com dispositivos não agulhados de poliuretano/teflon, com numeração 14 a 24 Gauge. Para a avaliação da gravidade da flebite considerou-se escala que a classifica de 0 a 4 graus (7). Para a estimativa da incidência desse EA obedeceu a seguinte fórmula (15-16):

 

Os dados foram duplamente digitados em planilhas do Programa Excel e, posteriormente, submetidos à análise descritiva de freqüências, medidas de tendência e de dispersão com o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 16.0 e, ainda, análise estatística com o programa R versão 3.1.2., avaliando-se a associação entre a classificação da flebite e os medicamentos utilizados e a classificação das flebites o calibre do cateter, utilizando o Teste Exato de Fischer com nível de significância de 5% (intervalo de confiança de 95%).

O desenvolvimento do estudo atendeu à legislação nacional relativa à ética em pesquisa recebendo aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa, protocolo CAAE 30180414.7.0000.5393.

Resultados

Caracterização da amostra

No triênio estudado ocorreram 5.553 internações e 373 (6,71%) pacientes apresentaram flebites. Os dias de internação foram variados (0-57/mediana 10). A média de idade(anos) foi de 59,3±19,9(mínimo 12,9, máximo 96,5); estas complicações foram mais frequentes naqueles com mais de 50 anos, sendo que 35,9% (134) apresentavam 50-70 anos. As mulheres eram 50,7%; 82,8% eram brancos. Dos 373 pacientes 27,61% (103) internaram devido a pneumonia, 9,12% (34) com insuficiência cardíaca - IC, 8,58% (32) com celulite, 7,24% (27) com anemia e 5,09% (19)com infecção de trato urinário. Quanto às comorbidades, 29,2% (109) não as apresentavam, 30,29% (113) tinham uma, 22,25% (83) duas, 13,40% (50) três, 4,02% (15) quatro e três pacientes (0,8%) cinco comorbidades; 49,6% tinham hipertensão arterial, 25,2% eram diabéticos e 10,7%IC.

Caracterização das flebites

Os 373 pacientes apresentaram 436 flebites; 324(86,9%) tiveram um episódio desse EA, 37(9,9%) dois episódios na mesma internação, 11 (2,9%) três e apenas um apresentou cincona mesma internação.A incidência estimada de flebites está apresentada na sequência (Gráfico 1).

A média de flebites em 2012 foi 2,13% (±0,009), em 2013 - 2,91% (±0,010) e em 2014-1,84% (±0,008). A média do tempo de permanência dos CVP até o aparecimento deste evento foi 2,27 dias (±1,334) considerando a partir da data da punção. Eventos com 48 horas(h) foram desenvolvidos em 31,1% (116) dos pacientes, com 72h em 20%(75), com 96h em 8,6% (32) e com menos de 24h em 4,6% (17). Em 20,9% (79) as punções foram realizadas em outro serviço e o acesso venoso foi mantido até o aparecimento dessa complicação.

Classificação das flebites

Neste estudo, 45,4% (199) dos 436 EA eramde Grau 2, 33,8% (152) de Grau 3, 11,9% (52) de Grau 1 e 3,9% (17) de Grau 4; 29,7% (130) das punções foram realizadas com cateter 22 Gauge e 23,3% (99) com 20 Gauge; cateteres de 18 e 24Gauge apareceram em 1,6% (7) das ocorrências; 53,4% (231) das flebites ocorreram no Membro Superior Esquerdo (MSE).

Dos 436 cateteres puncionados, em 243 (55,7%) foi possível associar o seu calibre com o Grau da flebite (Tabela 1), sendo a maior associação (28,4%) em punções realizadas com cateter 22 Gauge e flebite de Grau 2 (p-valor= 0,0172), seguida do cateter 20 Gauge e flebite Grau 2 (23,4%).

Medicamentos infundidos

Foram identificados 447 registros da utilização de medicamentos endovenosos nos pacientes com flebites. Dos 373 que apresentaram flebites notificadas, 71,6% (267) utilizaram medicamentos e 7 (1,1%) três medicações concomitantemente, todas antibióticos.

Em relação aos medicamentos, 96,2% eram antibióticos. Outras substâncias identificadas foram hemoderivados, diuréticos, sedativos, vasopressores, antiarrítmicos e solução fisiológica. Não foi possível encontrar associação entre a classificação das flebites e os medicamentos infundidos nos pacientes pelos cateteres, mesmo quando testado com os antibióticos mais utilizados como a ceftriaxona (p-valor 0,3482).

Dos 436 cateteres utilizados nas punções venosas, em 427foi possível verificar a associação estatisticamente significante em 26% das ocorrências (p-valor= 0,0296) em indivíduos diabéticos (Tabela 2).

Discussão

A equipe de enfermagem deve ser capacitada para inserir e gerenciar os cateteres e identificar os pacientes que apresentam riscos para o desenvolvimento de flebites sabendo como avaliá-las (3,9,15). O tempo de permanência dos cateteresé uma das variáveis importantes quando se analisa flebite. Nesteestudo, a maioria dos pacientes apresentou-acom mais de 48h de internação, com mediana de 10 dias (mínimo 0 e máximo 57); tais dados assemelham-se aos de investigação, cuja mediana do tempo de internação hospitalar (dias) foi de 10,5, variando de 1 a 53 (9).O tempo elevado de permanência do cateter influencia no seu aparecimento (11) e aqueles instalados em períodos inferiores a 72h apresentam menor incidência deste EA (9).

A distribuição dos eventos conforme a faixa etária (> 50 anos) indicou resultados semelhantesaos de outras investigações. Em uma delas houve maior ocorrência em indivíduos de 48-68 (34,4%) e 69-92 anos (63%) (2); outra em pacientes apresentando média de idade de 56,96±18,46 anos e mediana de 58 (11) e, ainda, outra em que a maioria dos internados em unidade de Clínica Médica, tinha mais de 60 anos (53%) e 60% desenvolveram o EA (5). No estudo espanhol, mulheresentre 65 e 80 anos, hospitalizadas entre 10 a 20 dias e usando anticoagulantes apresentaram maior incidência de flebites (15).

Quanto ao seu acometimento apresentar pouca diferença entre homens (49,3%) e mulheres (50,7%), os resultados divergem de outros cuja predominância foi em homens (2,5,8-9,16-18). A cor branca também predominou em outras investigações (5,9,18).

A pneumonia responde por 27,6% dos diagnósticos que levaram os pacientes à internação; em outras pesquisas o maior número de flebites aconteceu em pacientes de pneumologia (5,18-19). No presente estudo, o segundo diagnostico que mais levou à internação foi IC (9,12%); no Brasil, são diagnosticados 240 mil casos/ano dessa patologia (19). As comorbidades hipertensão arterial, diabetes e IC identificadas, igualmente apareceram enquanto diagnósticos. Diversos fatores podem estar associados ao aumento das taxas deflebite, incluindo-se diabetes, doença cardíaca, neutropeniae desnutrição; a hipertensão arterial, se associada à diabetes, pode favorecer o aparecimento de complicações microvasculares (8).

Pacientes submetidos às terapias com antibióticos ou potássio podem ter maior risco de complicações, pelo baixo pH destas soluções; protetores de mucosa e anti-secretores gástricos podem ter relação com o seu aparecimento (2-3). Neste estudo, 96,2% dos medicamentos utilizados pelos 373 pacientes eram antibióticos, corroborando os dados que mostraram elevadas taxas desta complicação com o uso destes fármacos (2-3,10); entretanto, outra investigação não mostrou esta relação e a ocorrência desse EA (9). Alguns medicamentosnão devem ser administrados pelo cateter intravenoso periférico, devido a osmolaridade e ao pH, predispondo à ocorrência de flebites químicas; a adição de heparina e hidrocortisona reduz a sua incidência (3,6).

Neste estudo a incidência de flebites foi menor que 5%, atendendo ao recomendado (6-7), diferente de investigações com 8,5% (2), 10,5% (9), 19% (16), 24,7% (18), 31,6% (4), 31% (12) e 33,8% (17), o que indica que este EA ainda necessita de mais investigações. Pesquisa mostrouque faltou assistência de enfermagem e especialização dos enfermeiros, após a cateterização do paciente, afetando o número desses eventos (12).

A troca dos cateteres deve acontecer entre 72 a 96h para diminuição do risco de desenvolvimento desta complicação, quando este dispositivo não indicar sinais inflamatórios locais (20). Nesta investigação, a média de dias para o desenvolvimento da flebite, após a realização da punção, foi 2,27(±1,334). Apesar de pesquisa ter encontrado associação entre o tempo de permanência do cateter e a ocorrência deste EA(5), outra não identificou tal associação, sendo o numero de ocorrências o mesmo, quando substituído em tempo programado (21).

Pouco mais de 20% das punções que desenvolveram tais complicaçõesestavam em indivíduos internados em outras instituições e transferidas para o hospital do estudo. É prudente realizar a troca de cateter assim que o paciente é admitido, já que a sua inserção em situaçãoemergencial apresenta maior risco de infecção, não devendo ultrapassa 48h (20); o enfermeiro deve avaliar os fatores de risco existentes, inclusive se vale a pena provocar mais sofrimento ao paciente, com a realização de um novo procedimento invasivo.

Quanto a classificação destes eventos, o resultado foi semelhante aos estudos que utilizaram a mesma escala (7), em que as flebites de Grau 2, foram as que mais apareceram (17,18).Tal EA ocorreu, mais de uma vez, nos mesmos pacientes, quando estavam com um maior número de cateteres inseridos e utilizavam por mais tempo antibioticoterapia, sendo os graus 2 e 3 mais intensos (9).

O calibre do cateter pode influenciar no advento da flebite, que acontece pela irritação da parede do vaso pela cânula, trauma na punção e/ou fixação inadequada (3). Cateteres de maior calibre propiciam maiores taxas deste EA porque exercem maior atrito contra a parede do vaso cateterizado e, por isso, deve-se selecionar o calibre do cateter de acordo com o calibre venoso (3,9).Os resultados encontrados neste estudo assemelham-se aos de outros,demonstrando que a maioria das ocorrências acontece quando são utilizados os cateteres 20 e 22Gauge (5,9,18).

Grande parte das punções foram realizadas em MSE (53,4%). Resultados estatisticamente significantesforam encontrados com flebites Grau 1 com a inserção do cateter venoso periférico em rede venosa das mãos (46,1%) e Graus 2, 3 e 4 (85%, 81,8% e 69,2% respectivamente) no antebraço (18). Acessos venosos em adultos devem ser feitos, preferencialmente, em membros superiores sendo puncionadas veias da superfície ventral e dorsal desses locais, pelo risco aumentado de embolias e tromboflebites na rede venosa de membros inferiores sendo necessário substituir o cateter instalado em uma extremidade inferior o mais rapidamente possível (9,20).O antebraço costuma ser o local de punção mais utilizado, por apresentar veias mais longas e com maiores diâmetros, possibilitando a inserção de dispositivos intravenosos mais calibrosos, apesar de ser o local onde as flebites costumam apresentar maior severidade(11,17,18).Entre as veias cefálica e basílica, utilizadas para inserção de cateteres periféricos, não foi encontrada associação significante com ocorrência deste EA(9).

Ao buscar a associação entre o calibre do cateter utilizado e a classificação da flebite desenvolvida encontrou-se resultado estatisticamente significante entre o cateter 22 Gauge e a flebite Grau 2 (p= 0,0172). Estes dados diferem de outros em que 65% dessas ocorrências estavam associadas aos cateteres mais calibrosos como 18 e 20 Gauge (17), mas assemelham-se aos de outra pesquisa (18) que constatou frequência maior em pacientes utilizando cateteres 22 e 24.

Também foi achado resultado estatisticamente significante na ocorrênciadessas complicações em pacientes com diabetes (p= 0,0296); sabe-se que a presença da diabetes pode favorecertal aparecimento (22).

Percebe-se, então, que as flebites ainda ocorremmundialmente e necessitam ser mais estudadas, poisalém de provocar dor e incômodo, ainda podem aumentar o risco de infecção e aumentar os custos das internações e o tempo de permanência dos pacientes nos hospitais (8). Estudando-se melhor o tema é possível contribuir para melhoria da assistência e da segurança dos pacientes sob tratamento.

Receber mais cuidados de enfermagem e estar em um hospital especializado foram associados ao risco menor desses EA relacionados à presença de cateteres venosos periféricos (12).Este cuidado é de responsabilidade do enfermeiro e sua equipe, o que pressupõe a necessidade de atualização constante dos conhecimentos em relação à prevenção das complicações da terapia intravenosa (9). Aelaboração de protocolos/rotinas bem estabelecidas com uma serie de intervenções realizadas pela equipe de enfermagem pode proporcionar mais segurança para os pacientes e contribuir para melhoria da assistência de enfermagem diminuindo assim a incidência desse EA. A implantação de protocolos institucionais e guidelines de cuidado visando a prevenção destes eventos é essencial para o cuidado seguro e a enfermagem tem papel central neste cuidado (23).

Procedimentos simples são recomendados envolvendo boas práticas durante a inserção do cateter que poderão prolongar a sua vida útil, como: mãos higienizadas de quem vai fazer este procedimento; pele do paciente adequadamente limpa; práticas clínicas apropriadas ao se administrar medicamentos endovenosos, pois o uso regular do local cateterizado pode aumentar o risco de infecções bacterianas; calibre do cateter compatível ao da veia; punção realizada em local anatomicamente adequado; realização de curativos no local de inserção do cateter, assim como, durante a sua permanência; uso de escalas para auxiliar a equipe de enfermagem na detecção precoce e avaliação desses eventos (3,7).A introdução de uma lista de verificação de cuidados a serem tomados pode reduzir as flebites e melhorar a qualidade assistencial (8). Se o enfermeiro e sua equipe conseguirem dedicar mais tempo nas atividades de assistência ao pacientehaverá aumento na vigilância e na sua segurança. Pesquisa mostrou que para um dado período de tempo, reduziu-se em 1% a chance de flebites para cada aumento de um minuto, por dia, na assistência de enfermagem total recebida; entretanto, a assistência não ofertada aumentaa incidência em 4% (12).

Limitação do estudo e avanços ao conhecimento

A coleta de dados foi circunscrita somente a um triênio; avaliou-seos dados notificados, o que pode ter mostrado um menor número real desses EA; a realização em um único hospital dificulta a generalização dos dados.

Entretanto o estudo avança no conhecimento sobre o tema, apresentando que uma comorbidade como diabetes, pode favorecer o desenvolvimento de flebites, informação ainda muito pouco disponibilizada na literatura consultada e reafirma que o calibre do cateter utilizado relaciona-se ao seu grau; além disso, indica que mesmo sendo menor que o aceitável, a ocorrência de tais eventos deve ser investigada e trabalhada junto com a equipe de enfermagem para sua diminuição.

 

Conclusão

Caracterização da amostra: no triênio 2012-2014 foram notificados 436 flebites, com tempo médio de permanênciados cateteres de 2,27 dias. Foram 373 pacientes acometidos sendo maioria mulheres, de cor branca, com média de idade de 59,3 anos, mediana do tempo de internação de 10 dias, tendo como motivo principal da internação a pneumonia e presença de hipertensão arterial como principal comorbidade.

Caracterização das flebites, uso de medicamentos infundidos e o calibre do cateter utilizado: grande parte dos eventos (45,4%) foram classificados como de Grau 2; 29,7% das punções foram realizadas com cateter 22 Gauge sendo 53,4% no Membro Superior Esquerdo. Dos 436 cateteres puncionados, em 243 o seu calibre com o grau da flebite sendo a maior associação (28,4%) a do cateter 22 Gauge com a flebite Grau 2. Foi constatado o uso expressivo de antibióticos (96,2%) por associou-se via endovenosa.

Obteve-se resultado estatisticamente significante entre as punções realizadas com cateteres Gauge 22 e a flebite Grau 2, bem como entre a presença desse EA em pacientes com diabetes.

Faz-se necessária a existência de rotinas/protocolos para uma maior vigilância relacionada às flebites o que poderia melhorar a assistência de enfermagem, proporcionando mais segurança para os pacientes. Políticas intra-hospitalares poderiam valorizar a vigilância, a prevenção e a orientação em relação a estes recorrentes e complexos eventos.

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