ELEMENTOS FACILITADORES E DIFICULTADORES PARA A IMPLANTAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Sección: Revisiones

Cómo citar este artículo

Vichnewski EM, Pimenta AA, Santos SVM, Martins JT, Robazzi MLCC. Elementos facilitadores e dificultadores para a implantação da sistematização da assistência de enfermagem. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2018; 8(4):42-53.

Autores

1 Emiliane Moreno Vichnewski, 1 Aline Alcântara Pimenta, 2 Sergio Valverde Marques dos Santos, 3 Julia Trevisan Martins, 4 Maria Lucia do Carmo Cruz Robazzi

1 Enfermeira. Mestranda em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Brasil.2 Enfermeiro, mestre em Enfermagem, doutorando em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (USP). Brasil.3 Enfermeira. Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina (EU). Brasil.4 Enfermeira do Trabalho. Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde/Organização Panamericana de Saúde para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Ribeirão Preto (SP). Brasil.

Contacto:

Email: sergiovalverdemarques@hotmail.com

Titulo:

ELEMENTOS FACILITADORES E DIFICULTADORES PARA A IMPLANTAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Resumen

Objetivo: identificar las evidencias disponibles en la literatura científica sobre los elementos facilitadores y dificultadores para la implantación de la sistematización de la asistencia de Enfermería (SAE) en hospitales brasileños. Método: revisión integrativa de literatura, con búsqueda en las bases de datos BDENF- Enfermería, CAPES, biblioteca virtual Scielo y Google Académico. La revisión bibliográfica comprendió el periodo de enero de 2007 a julio de 2017, e identificó 10 artículos que atendieron a los criterios de inclusión. Resultados: los elementos facilitadores para la implantación de la sistematización estaban relacionados con la voluntad política y personal; la gestión de Enfermería comprometida con su aplicación. Entre los elementos dificultadores se encontraron los problemas institucionales, la participación de los equipos, la voluntad política, la ausencia de preparación técnico-científica, las condiciones institucionales, la falta de concientización sobre la importancia de la metodología asistencial, la sobrecarga de trabajo, la ausencia de materiales, la falta de impresos inapropiados y de protocolos, los registros incompletos y la falta de tiempo para operar. Conclusión: la sistematización de la asistencia de Enfermería necesita ser una práctica en el quehacer diario, pues es un instrumento metodológico que dirige el cuidado/asistencia de Enfermería y se configura como un documento para la misma.

Palabras clave:

atención de enfermería ; hospitales ; educación en enfermería

Title:

Facilitating factors and barriers to implement systematization in nursing care

Abstract:

Purpose: to identify available evidences in scientific literature on facilitating factors and barriers to implement systematization in nursing care in Brazilian hospitals.

Methods: an integral literature review, based on databases: BDENF-Enfermería, CAPES, biblioteca virtual Scielo, and Google Scholar. Literature search covered from January 2007 to July 2017, and 10 papers fulfilling inclusion criteria were found.

Results: facilitating factors to implement systematization in nursing care were related to political and personal will; and nursing management committed to its use. The following barriers were observed: institutional problems, team involvement, political will, lack of technical-scientific training, institutional conditions, lack of awareness of the importance of care methodology, work overload, lack of materials; lack of appropriate forms and protocols, incomplete records, and time shortage.

 

Keywords:

nursing care; hospitals; nursing education

Portugues

Título:

Elementos facilitadores y dificultades para la implantación de la sistematización de la asistencia de Enfermería

Resumo:

  1. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN-272/2002. Revogada pela Resolução COFEN nº 358/2009: dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem- SAE nas Instituições de Saúde Brasileiras. 2009.
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  12. Clares JWB, Freitas MC, Paulino MHC. Sistematização da assistência de enfermagem ao idoso institucionalizado fundamentada em Virginia Henderson. Relato de Experiência. Rev Rene. 2013; 14(3):649-58.
  13. Referências (continuação)
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Cossa RMV, Almeida MA. Facilidades no ensino do Processo de Enfermagem na perspectiva de docentes e Objetivo: identificar as evidências disponíveis na literatura científica sobre os elementos facilitadores e dificultadores para a implantação da SAE em hospitais brasileiros.

Método: revisão integrativa de literatura, com busca nas bases de dados BDENF – Enfermagem, CAPES, bibliotecas virtuais Scielo e Google Acadêmico. O levantamento bibliográfico compreendeu o período de janeiro de 2007 a julho 2017, foi identificando 10 artigos que atenderam aos critérios de inclusão.

Resultados: os elementos facilitadores para a implantação da sistematização estevam relacionados com a vontade política e pessoal; gerência de enfermagem comprometida com sua aplicação. Entre os elementos dificultadores foi encontrado os problemas institucionais; envolvimento das equipes; vontade política; ausência de preparo técnico-científico; condições institucionais; falta de conscientização sobre a importância da metodologia assistencial; sobrecarga de trabalho; ausência de materiais; falta de impressos próprios e de protocolos; registros incompletos e falta de tempo para operacionalizar.

Conclusão: a sistematização da assistência de enfermagem precisa ser uma prática no cotidiano da enfermagem, pois é um instrumento metodológico que direciona o cuidado/assistência de enfermagem e se configura como um documento para a enfermagem.

Palavras-chave:

cuidados de enfermagem; hospitais; educação em enfermagem

Introdução

O trabalho realizado pelo enfermeiro e sua equipe é desenvolvido em uma diversidade de instituições, tais como hospitais, unidades básicas de saúde, escolas, instituições militares, empresas, unidades de atendimento domiciliar, sendo estas atividades relacionadas à realização de atividades assistenciais, gerenciais, educativas, entre outras. Em todos esses locais, este profissional deve organizar e sistematizar a sua atuação, para que o seu trabalho e o de sua equipe seja realizado efetivamente e, nesse sentido, deve utilizar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que é uma recomendação do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN).

A SAE constitui-se em um método, privativo do enfermeiro, que o auxilia a desenvolver o processo de enfermagem de modo mais organizado, científico e eficaz. Propicia um planejamento individualizado das ações de assistência a serem direcionadas ao paciente, objetivando a melhoria das intervenções realizadas pela equipe de enfermagem (1). Representa a construção dinâmica de um novo espaço de atuação profissional do enfermeiro, com a superação de velhos paradigmas e com a apresentação de novos modelos da forma de cuidar, podendo ser considerado como um modelo metodológico para aplicação na prática assistencial (2).

Essa sistematização deve ocorrer em todas as instituições de saúde brasileiras, públicas e privadas, considerando sua institucionalização como prática de um processo de trabalho adequado às necessidades da comunidade e como modelo assistencial a ser aplicado em todas as áreas de assistência à saúde pelo enfermeiro (1).

Nas instituições hospitalares, espera-se que a SAE já esteja implantada e sendo utilizada largamente. Entretanto, até os dias atuais, são identificadas algumas dificuldades dos enfermeiros em conseguirem, efetivamente, concretizá-la. Essa sistematização parece ainda ser insuficientemente compreendida e não pactuada com os enfermeiros e sua equipe que realizam apenas, parcialmente, algumas das suas etapas.

Em muitas instituições hospitalares, até os dias de hoje, parece que o modelo da SAE formatou-se, somente, na realização do exame físico e da prescrição de enfermagem, destinados aos pacientes com estados de saúde considerados mais críticos.

A maioria dos enfermeiros, em sua prática cotidiana, realizam mais atividades/tarefas administrativas ou gerenciais do que cuidados aos pacientes. Assim, a assistência prestada é ainda fragmentada e pautada, principalmente, em análises médicas, contribuindo para a redução das reais funções/atribuições do enfermeiro (3).

Diante das considerações anteriores, surgiu o seguinte questionamento: Quais são os elementos facilitadores e dificultadores para a implantação da SAE em hospitais brasileiros?

A resposta a essa questão pode colaborar para uma reflexão crítica da prática assistencial do enfermeiro no que diz respeito à utilização da SAE em seu cotidiano e contribuir para o enfrentamento das dificuldades na utilização dessa sistematização para que assim o enfermeiro possa exercer suas atividades assistências com embasamento científico, conforme orientações do COFEN.

O estudo ainda se justifica, para verificar as lacunas do conhecimento científico já produzido, bem como, para apontar recomendações para futuras pesquisas. Dessa forma, o objetivo desta investigação foi identificar as evidências científicas disponíveis na literatura sobre os elementos facilitadores e dificultadores para a implantação da SAE em hospitais brasileiros.

Método

Trata-se de uma revisão integrativa, método que tem por finalidade reunir e sintetizar os resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, colaborando para o aprofundamento do conhecimento do tema pesquisado. A revisão integrativa é considerada como um instrumento da Prática Baseada em Evidências (PBE) (4); assim, sintetiza os resultados de pesquisas anteriores e compreende todos os estudos relacionados à questão norteadora que orienta a busca na literatura (5).

Para realizar a revisão integrativa, seguiram-se as seguintes etapas 1º) identificação do tema e seleção da hipótese ou questão da pesquisa; 2º) critérios de inclusão e exclusão de estudos e busca na literatura; 3º) definição das informações a serem extraídas dos estudos; 4º) avaliação dos dados; 5º) interpretação dos resultados e 6º) síntese do conhecimento (4).

Realizou-se o levantamento bibliográfico do período de janeiro de 2007 a julho 2017, nas bases de dados BDENF – Enfermagem, CAPES, e nas bibliotecas virtuais Scielo e Google Acadêmico, por meio dos descritores: facilidades para SAE, dificuldades para SAE e enfermagem, empregando-se os operadores boleanos AND ou OR, quando necessário. Isto, para responder a seguinte pergunta: Quais são os elementos que facilitam ou dificultam a implantação da SAE em hospitais brasileiros?

Para realizar a busca bibliográfica foi adotada a estratégia PICO, representada da seguinte forma: P= paciente/problema, I= intervenção ou indicadores, C= comparação e O= resultado/desfecho (6).

Para o alcance do objetivo proposto e responder a pergunta norteadora foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos originais, disponíveis na íntegra, no idioma português e publicado entre janeiro de 2007 e julho de 2017. Foram excluídos aqueles de revisão bibliográfica, os que apresentavam a SAE sob a ótica de docentes e alunos e aqueles que não estavam relacionados com a SAE em hospitais.

Para selecionar os artigos, optou-se pela leitura prévia dos títulos e resumos, conforme recomendação do grupo PRISMA (7). Desta forma, os artigos pré-selecionados foram submetidos à leitura na íntegra e à análise detalhada.

Assim, ao atender aos critérios de inclusão, a busca resultou em 38 artigos. Após a leitura minuciosa dos artigos na íntegra, foram selecionados 10 para comporem esta investigação, conforme representado na Figura 1.

Para análise dos dados mostrados nos artigos selecionados foi elaborado um instrumento, pelos autores, para facilitar o entendimento e alcançar o objetivo proposto, bem como para facilitar a discussão das informações. Este instrumento continha as seguintes variáveis: número e título do artigo, base/biblioteca, autores, ano da publicação, periódico e local da publicação, objetivos, método, local de realização, número de participantes e conclusões. Cabe mencionar que esta etapa foi realizada por dois dos autores, para evitar erros de transcrição e/ou viés, os quais foram comparados posteriormente.

Resultados

A relação dos artigos que compuseram esta revisão, identificados por ordenação alfabética, seus autores, anos de publicação, bases de dados/bibliotecas virtuais em que foram obtidos e periódicos em que foram publicados, são apresentados na Tabela 1.

A seguir, apresenta-se na Tabela 2 os objetivos, métodos, locais e região do Brasil de realização dos estudos, número de participantes e principais conclusões.

Discussão

Identificou-se que dos 10 artigos analisados, 60% foram obtidos no Google Acadêmico e 30% na BDENF. A expressiva maioria dos autores são enfermeiros ou acadêmicos de enfermagem e apesar do limite de tempo de 10 anos para a busca (2007-2017) a temática relacionada às facilidades e dificuldades quanto à SAE continua recente: 20% das publicações são de 2010, o mesmo percentual em 2012 e ainda o mesmo percentual em 2016, ou seja, o tema gera inquietações entre os enfermeiros brasileiros, que tentam mostrar, por meio de seus estudos, suas tentativas –nem sempre exitosas– de implantar e conseguir implementar a SAE nos locais aonde atuam profissionalmente.

Estudo anterior de revisão de literatura que objetivou analisar como estava se processando a implantação da SAE nos hospitais do Brasil, entre 1986-2005, evidenciou que na maioria dos textos analisados, a finalidade de implantar a SAE foi organizar o cuidado a partir da adoção de um método sistemático, proporcionando ao enfermeiro a (re)definição da sua ação (8).

Os periódicos em que os artigos foram publicados são editados na grande maioria na região Sudeste brasileira (60%), no Nordeste (30%) e na região Central (10%). Quanto aos locais de realização dos estudos foram, respectivamente, na região Sudeste (50%), no Sul (30%) e no Nordeste (20%).

Ao comparar os dados desse estudo com os demais da literatura disponível, a região Sudeste aparece como uma das mais produtivas, em relação à discussão desse tema. Estudo realizado em Minas Gerais avaliou o conhecimento de enfermeiros de um hospital privado, acerca da SAE e concluiu que a mesma é vista como assistência individualizada, com aplicação de conhecimentos técnicos e teóricos ou como melhoria na qualidade da assistência, porém ainda apresenta obstáculos na sua implementação (9). Outro estudo no mesmo estado, que objetivou verificar o conhecimento dos enfermeiros sobre a SAE na rede hospitalar e implantá-la em um hospital privado, demonstrou que, a maioria dos enfermeiros tinha incentivo institucional para implantação da SAE (60,29%) e referia conhecê-la desde a graduação (91,18%) revelando, entretanto, desconexão entre o conhecimento da SAE adquirido na graduação e a sua prática profissional (3).

Quanto à região Sul do Brasil, foi encontrado –além dos estudos identificados na presente investigação outros que abordavam esta temática. Em uma investigação que objetivou avaliar a implantação da SAE, em um Hospital do Oeste de Santa Catarina sob a visão da equipe de enfermagem os resultados sinalizaram as dificuldades encontradas para essa implantação e entre elas destacaram-se: a falta de comprometimento coletivo, a implantação repentina, sem a capacitação adequada da equipe de enfermagem, a ausência de um sistema informatizado para facilitar o processo de trabalho e o déficit no dimensionamento de pessoal (10).

No Rio Grande do Sul estudo que objetivou conhecer o que os enfermeiros atuantes em Unidade de Terapia Intensiva de um hospital de médio porte compreendiam acerca da operacionalização da SAE, os resultados apontaram que, os participantes do estudo, embora conhecedores da necessidade dessa Sistematização no serviço, ainda não a operacionalizaram, o que sugere que os enfermeiros sustentam o seu saber-fazer no modelo biomédico (11).

No que concerne à região Nordeste do Brasil, além dos estudos que compuseram esta revisão, foi encontrado um relato de experiência, cujo objetivo foi descrever a aplicação do processo de enfermagem a um idoso institucionalizado, em uma instituição de longa permanência para idosos de Fortaleza-Ceará, fundamentado na teoria de Virginia Henderson. Os autores identificaram que a aplicação de cuidados sistematizados de enfermagem repercutiu positivamente na saúde desse paciente, demonstrando a aplicabilidade da sistematização fundamentada em Henderson no cenário do estudo (12).

No que diz respeito ao fato da pesquisa ser realizada em uma região geográfica e ser publicada em outra, indica que os enfermeiros acabam contribuindo para uma maior disseminação do conhecimento e visibilidade dos estudos entre os distintos estados do país. Acresce-se que 80% dos periódicos que compuseram esta revisão são, explicitamente, direcionados à enfermagem. Dos dez estudos selecionados para a revisão, 70% apresentam delineamento de pesquisa qualitativa e igual percentual de pesquisas descritivas.

A questão de na área de Enfermagem realizar-se muitas pesquisas descritivas é alertada (13), pois nessa área existe a necessidade de buscar problemas para investigação inovadores, que contribuam para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde e para a qualificação da assistência de enfermagem. Apesar desta área já ter produção substantiva que contempla a fase da descrição dos problemas, urge buscar proposições para a intervenção nos problemas detectados, bem como novas abordagens e métodos para estudar novos e antigos problemas.

Quanto ao fato das pesquisas serem, em sua maioria, qualitativas, sabe-se que os métodos qualitativos permitem ao pesquisador realizar um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade; tais métodos tratam as unidades sociais investigadas como totalidades que desafiam o pesquisador, que acaba possuindo uma estreita aproximação dos dados, abrindo-se à realidade social para melhor apreendê-la e compreendê-la (14).

Todos os estudos foram realizados em instituições que recebiam pacientes internados em unidades críticas, bem como de internação de adultos e crianças. A expressiva maioria (90%) teve a participação de enfermeiros e técnicos de enfermagem, os quais foram submetidos às entrevistas realizadas pelos autores. Essas pessoas somaram 201 enfermeiros (em um dos estudos não se encontrou esse número) e 19 técnicos de enfermagem. Além disso, foram encontrados 4 professores de enfermagem (igualmente enfermeiros). Apenas em um dos estudos realizado com gestantes encontrou-se as opiniões dos próprios autores sobre a assistência ofertada a essas mulheres.

No que se refere aos elementos facilitadores para a implantação da SAE, em ambientes hospitalares no território nacional, os estudos mostraram que é necessário ter vontade política e pessoal para realizar a sistematização da assistência15 e nesse sentido a instituição deve ter “abertura” para que os enfermeiros consigam nela introduzir o Processo de Enfermagem (3).

A SAE é um mecanismo indispensável à enfermagem e o enfermeiro precisa conquistar o seu espaço, com mérito, por meio do uso do seu conhecimento científico específico4. É fundamental o papel tanto de docentes como dos enfermeiros no ensino do Processo de Enfermagem e da SAE aos graduandos de enfermagem e este tema deve ser inserido na grade curricular dos cursos de graduação em enfermagem16. Nesse sentido, torna-se relevante o que os formadores de opinião ensinarão aos futuros enfermeiros sobre sua profissão e a forma de cuidar; então há necessidade de ter-se preocupação com o ensino deste tema, por ser essa metodologia uma das ferramentas para o exercício profissional da enfermagem (17).

Com a implantação da SAE, graduandos de enfermagem relataram melhoria do aprendizado e da assistência de enfermagem, favorecida pela integração com a equipe multiprofissional, em especial com os técnicos e auxiliares de enfermagem, além de percepção da satisfação dos familiares e da clientela com os cuidados recebidos (18).

A SAE deve ser utilizada como modelo assistencial para guiar a prática de enfermagem; dessa forma vai repercutir de maneira positiva na qualidade da assistência prestada e na satisfação dos enfermeiros ao perceberem seu trabalho reconhecido (19). É importante para uma assistência individualizada e qualificada e melhora a qualidade do atendimento (20).

Há uma tendência dos profissionais em reconhecer a SAE como um método e instrumento importante para auxiliar no agir do profissional de Enfermagem (17). Essa Sistematização constitui-se uma ferramenta valiosa para a atuação profissional e pode indicar a qualidade do cuidado de enfermagem (21).

Investigação identificou, entre enfermeiros de UTI, que a função da SAE é garantir a qualidade da assistência de enfermagem, validando todas as intervenções e ações prestadas ao paciente a fim de desenvolver um cuidado com melhor qualidade. Ou seja, é um importante instrumento técnico -cientifico capaz de certificar a qualidade e a continuidade da assistência de enfermagem (22).

Quanto aos elementos dificultadores para a implantação da SAE, os estudos que compuseram a presente revisão revelaram que eles estão relacionados aos problemas institucionais como a necessidade do envolvimento das equipes e a vontade política15. Na maioria das vezes, as instituições de saúde não aderem à implantação nem total e nem parcial da SAE, diante das dificuldades para tal (23).

Torna-se imprescindível que essas instituições propiciem as condições necessárias para se executar, de maneira efetiva, a SAE, que precisa ser reconhecida, com sua documentação constante no prontuário do paciente e compondo a rotina de trabalho, para que seja valorizada pelos profissionais da equipe de saúde (8).

A falta de estímulo por parte do corpo administrativo da instituição em relação ao desenvolvimento da SAE evidencia que a Sistematização não é vista com prioridade22. Enfermeiros gastam grande parte de seu tempo com burocracia, conferência de contas, enfim, com o gerenciamento da unidade em que trabalham, deixando, muitas vezes, os cuidados necessários para/com seu cliente em segundo plano (24).

Há também as dificuldades relacionadas aos elementos pessoais, como ausência de preparo técnico-científico, condições institucionais e pouco envolvimento de toda a equipe de enfermagem (15). Esta falta de conhecimento e a consequente falta de conscientização sobre a importância do compromisso e envolvimento com a metodologia assistencial para a SAE é uma barreira para a adesão das enfermeiras a esse método, que as leva a não acreditar e não aderir a todo esse processo (25).

Entre os principais fatores que impedem a implementação dessa Sistematização destacam-se: falta de conhecimento teórico do processo de enfermagem, falta de conhecimento sobre realização de exame físico e prescrição de enfermagem, além da carga de trabalho (26).

Entre outros elementos dificultadores que foram identificados neste estudo, evidenciaram-se a sobrecarga de trabalho, o número de funcionários inadequados para a demanda da assistência, a estrutura física inadequada, a ausência de materiais e ao impresso impróprio para o registro da assistência prestada na unidade. Identificou-se, também, a falta de impressos e de protocolos (27), além dos registros incompletos.

A estrutura física é desvalorizada em estudos que envolvem a SAE; entretanto há necessidade de ter-se uma sala privativa para trocas de informações sobre o paciente entre toda a equipe, pois representa um espaço para os profissionais expressarem-se livremente, contribuindo para definir as ações de enfermagem a serem postas em prática (28). Há carência de efetivo e este fato pode elevar a carga de trabalho, que pode se tornar um elemento dificultador da sua implantação (23,26).

A escassez de enfermeiros contribui para a falta de tempo em operacionalizar a SAE (20); acresce-se, ainda, a resistência dos demais trabalhadores da equipe de enfermagem (29) à introdução dos novos instrumentos para o desenvolvimento da SAE. Para a aplicação de uma metodologia assistencial é necessário tempo, pessoal e equipamentos (24).

Nesta investigação, algumas sugestões foram encontradas nos artigos analisados, como propostas dos autores para minimizar as dificuldades encontradas visando a efetiva implantação da SAE nos hospitais, tais como: mudanças na organização e estrutura dos locais; maior capacitação técnico-científica de toda a equipe de enfermagem; aumento do número de funcionários e adequação do dimensionamento do pessoal da enfermagem, conforme a demanda da assistência de enfermagem (27,30).

Conclusões

A partir desta revisão foi possível constatar que os elementos facilitadores para a implantação da SAE, em instituições hospitalares, no território brasileiro esteve relacionado com a vontade política e pessoal para realizar esta sistematização; “abertura” institucional para esta realização; gerência de enfermagem comprometida com as propostas da SAE; participação dos docentes e enfermeiros no ensino dessa sistematização; sua utilização como modelo assistencial, como assistência individualizada e qualificada para um melhor atendimento; utilização de formulários apropriados para o registro das atividades planejadas.

Entre os principais elementos dificultadores para aplicação da SAE foram: problemas institucionais; pouco envolvimento das equipes; falta de vontade política; ausência de preparo técnico-científico; precárias condições institucionais; falta de conscientização sobre a importância do compromisso e envolvimento com a metodologia assistencial para a SAE; sobrecarga de trabalho; número de funcionários inadequados; ausência de materiais; falta de impressos impróprios e de protocolos; registros incompletos; falta de tempo para operacionalizar essa sistematização.

Assim sendo, pode se afirmar que a SAE ainda precisa ser uma prática no cotidiano da equipe de enfermagem, visto que é um instrumento metodológico que direciona o cuidado/assistência de enfermagem, configurando-se como um documento das atividades realizadas pela enfermagem.

Com relação às limitações, por se tratar de revisão de outros estudos, a presente investigação apresentou limitações metodológicas e riscos de viés. Entretanto, estes fatores já eram esperados, assim, foram adotados os cuidados necessários de revisão e comparação dos dados.

Bibliografía

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