A influência do lúdico no cuidado humanizado a pacientes oncológicos pediátricos no hospital do município de Aracaju-Se

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Moura Silva G, Souza dos Santos C, Yuriko Kameo S, Okino Sawada N. A influência do lúdico no cuidado humanizado a pacientes oncológicos pediátricos no hospital do município de Aracaju-Se. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2014; 4(3):26-35.

Autores

1Glebson Moura Silva, 2Clesemary Souza dos Santos, 3Simone Yuriko Kameo, 4Namie Okino Sawada

1Docente da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mestre em Enfermagem, Universidade Tiradentes, Aracaju, Sergipe, Brasil.
2Enfermeira, Especialista em Oncologia, Hospital de Urgências de Sergipe. Aracaju, Brasil.
3Docente, Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mestre e doutoranda em Enfermagem Fundamental, Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Brasil.
4Docente Associada, Departamento de Enfermagem Geral e Especializada, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Brasil.

Contacto:

Email: glebsonmoura@yahoo.com.br

Titulo:

A influência do lúdico no cuidado humanizado a pacientes oncológicos pediátricos no hospital do município de Aracaju-Se

Resumen

Introdução: o estudo objetiva conhecer como as atividades lúdicas contribuem para o cuidado humanizado às crianças com câncer internadas em instituição de saúde.
Método: trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de natureza qualitativa e quantitativa, com 40 acompanhantes de crianças internadas.
Resultados: os resultados mostraram que houve predominância para as idades entre 11 e 15 anos, sexo masculino, os acompanhantes tinham perfil adulto jovem, tempo de internação entre 11 a 15 dias, tendo o tratamento para leucemia a causa mais comum de internação. A influência do lúdico na ótica dos entrevistados é positiva, pois minimiza o peso da hospitalização, reduz o estresse tanto da criança como do acompanhante, socializa, reintegra a criança ao seu mundo infantil, ajuda na recuperação da criança.
Conclusão: concluiu-se que a promoção do brincar no espaço da hospitalização infantil contribui para o processo de socialização e comunicação entre pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde. 

Palabras clave:

Criança oncológica ; cáncer ; humanização do cuidado ; atividades lúdicas

Title:

Impact of playing activities on a humane care for pediatric cancer patients in the Aracaju-Se town hospital

Abstract:

Introduction: The study was aimed to understand how playing activities contribute to a humane care for children with cancer admitted in a health institution.
Methods: A descriptive exploratory study, based on qualitative and quantitative methods, in a sample made of 40 people accompanying hospital-admitted children.
Results: A predominance of 11-15 years old children was observed; most accompanying individuals were young adult men. Length of hospital stay was 11 to 15 days. Most common cause for hospital admission was leukemia therapy. Impact of playing activities is positive, because they reduce the burden of hospitalization, reduce stress both for child and accompanying individual; enhance socialization, return patients to a children world, and help recovery.
Conclusion: Promotion of playing activities in a hospital setting helps to enhance socialization and communication among patients, caregivers and health workers.

Keywords:

children with cancer; cancer; humane care; playing activities

Portugues

Título:

La influencia del juego en el cuidado humanizado a pacientes oncológicos pediátricos en el hospital del municipio

Resumo:

Introducción: el estudio pretende conocer cómo las actividades de juego contribuyen a la atención humanizada a los niños con cáncer, hospitalizados en una institución de salud.
Método: es un estudio exploratorio y descriptivo, cualitativo y cuantitativo, con una muestra de 40 acompañantes de niños hospitalizados.
Resultados: los resultados mostraron que en los niños predominaron las edades entre 11 y 15 años, los acompañantes, hombres, adulto joven. La duración de la estancia hospitalaria entre 11 a 15 días. La causa más común de hospitalización es la del tratamiento para la leucemia. La influencia de los juegos es positiva, ya que minimiza el peso de la hospitalización, reduce el estrés tanto para el niño y el acompañante, socializa, reintegra al niño a su mundo infantil, ayuda a la recuperación de este.
Conclusión: se concluyó que la promoción del juego en un entorno sanitario contribuye al proceso de socialización y la comunicación entre pacientes, cuidadores y profesionales de la salud.

Palavras-chave:

Niños oncológicos; cáncer; humanización del cuidado; juego

Introdução

O câncer é visto como uma doença incurável, que está ligada diretamente com a morte, despertando assim sentimentos de medo, angústia e insegurança quando se recebe este diagnóstico. Associada às dificuldades que a própria doença traz, as condições de hospitalização podem afetar a totalidade da criança de forma que o seu desenvolvimento físico, emocional e intelectual fiquem comprometidos.

Segundo Rossit e Kovacs (1), a hospitalização da criança com câncer “é uma vivência traumática, onde se parece esquecer que a criança é criança, que necessita de espaço físico, atividades e atenção apropriada à sua faixa etária”. Dentro de um hospital, a criança precisa de tempo para se ambientar, entender o que está acontecendo e o que está por vir. Percebe-se que muitas dessas crianças misturam realidade e fantasia e é aí que se identifica a importância da humanização nas ações do profissional de saúde, tornando-se um educador e utilizando recursos lúdicos para esclarecimento dos procedimentos.

Sabe-se que culturalmente o meio ambiente hospitalar é visto como local de sofrimento e que a criança e o adolescente, com sua sensibilidade, podem sentir e absorver essa relação com muito mais intensidade do que o adulto. Em consequência respondem negativamente, nesse ambiente, com reações de impaciência, medo, tensão, indisciplina, choro, irritabilidade e outros. Diante disso, a necessidade de espera cria grande dificuldade para a criança/adolescente e para os pais ou responsáveis (2).

As atividades lúdicas ganharam conhecimento em diversos espaços inclusive no espaço hospitalar, pois a pessoa internada seja ela criança ou não, está frágil e precisa de uma motivação para conseguir contornar as situações que irá enfrentar. O brincar por exemplo, através das atividades lúdicas pode proporcionar para a criança ou até mesmo aos adultos hospitalizados, descontração, alegria, fazendo-os esquecer por alguns momentos da dor que está vivenciando (3).

A criança hospitalizada para tratamento oncológico convive com uma série de restrições impostas pelo quadro clínico, complementadas com a tensão que lhe causa a gravidade da doença e também a rotina hospitalar. As atividades lúdicas aparecem como estratégia de confronto a essas condições, proporcionando um ambiente menos traumatizante e mais humanizado.

A atividade lúdica é uma alternativa importante para o desenvolvimento das capacidades intelectuais, criativas, estéticas expressivas e emocionais por meio de atividades práticas que a estimulem à ação, à descoberta e à participação ativa no seu ambiente físico e social (4).
A relevância desta investigação científica justifica-se por meio das implicações geradas pelas atividades lúdicas enquanto dispositivo terapêutico. Acredita-se que sua importância aplica-se nos âmbitos social, teórico, prático e individual. No social possibilita conhecer de que forma o lúdico influencia no tratamento oncológico às crianças hospitalizadas, no teórico contribuirá como acervo de pesquisa para estudantes e profissionais da área de saúde e do ensino o que configura a relevância em diversas áreas do saber e na prática permite a interação e a criação de vínculos entre os envolvidos no processo terapêutico o que resulta em melhora significativa para todas as partes. Em relação ao individual, possibilitou um estudo aprofundado sobre a brinquedoteca humanizada nos hospitais pediátricos oncológicos, conforme a Lei Federal 11.104/05 (5), que tornou obrigatória a implantação desta nas dependências de hospitais que atendam crianças em regime de internação.

Nesta perspectiva, objetivou-se conhecer de que forma as atividades lúdicas contribuem para o cuidado humanizado às crianças hospitalizadas no Centro de Oncologia Dr. Oswaldo Leite na cidade de Aracaju/Sergipe/Brasil.

Método

Trata-se de estudo de campo de caráter exploratório, descritivo, de natureza quali-quantitativa, realizado no Centro de Oncologia Dr. Oswaldo Leite (COOL) do Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho (HUSE) na Cidade de Aracaju-Sergipe-Brasil.

O Centro possui três pavimentos e disponibiliza os serviços de ambulatório (quimioterapia, consultas de enfermagem, consultas em outros serviços), radioterapia e internamento, o qual dispõe de 49 leitos (18 leitos pediátricos e 31 leitos adultos) distribuídos em duas Alas F (adultos e pediátricos em tratamento) e G (adultos fora de possibilidade de cura).

Possui duas brinquedotecas, uma funciona na radioterapia para crianças em tratamento ambulatorial e a outra na Ala F para as crianças hospitalizadas, ambas foram inauguradas em 1996 juntamente com o referido Centro, após reforma em 2006 recebeu o nome de “Anjo Linguarudo”. Atende todas as crianças hospitalizadas no setor, independente da idade. Funciona nos turnos matutinos e vespertinos, sendo coordenada pela pedagoga com atendimento diário em média de dez crianças.

São realizadas atividades como: filmes educativos (DVD); trabalho com pintura; brincadeira livre; momento pais e filhos no brincar; trabalho com massa, recortes de papel, colagem; uso de computadores e outras.

Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: acompanhantes de crianças hospitalizadas com câncer na ala F com mais de 24 horas de internação e que já tinham frequentado a brinquedoteca, que concordassem em participar do estudo. Dentre os critérios de exclusão estão: acompanhantes das crianças que não concordassem em assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os acompanhantes teriam total liberdade para desistir de participar da entrevista em qualquer momento se assim desejassem, sem prejuízo para si. Foi mantida em sigilo a identidade dos entrevistados sendo assim utilizou-se letras para representá-las que vão de S1 a S40.
Foi aplicado um questionário com 12 perguntas abertas e fechadas, aplicadas a 40 acompanhantes por contato direto, a fim de obter o objetivo proposto.

Para organizar e explorar os resultados obtidos na pesquisa foram utilizadas as etapas de análise de conteúdo sugeridas por Bardin6: Fase Pré-análise, feita a leitura flutuante das entrevistas transcritas, procura-se semelhança entre as ideias expressadas nas respostas; Fase de Exploração de material: transformação dos dados coletados em conteúdos sistemáticos; Fase do tratamento dos resultados, inferência e interpretação: interpretações baseadas em fundamentação teórica que nortearam a pesquisa.

Resultados e discussão

A Tabela 1 apresenta as variáveis referentes ao perfil dos sujeitos da pesquisa.
No que se refere à idade dos acompanhantes das crianças hospitalizadas, identificou-se um perfil adulto jovem. Este fato expressa a realidade dos familiares cuidadores, que também auxiliam a criança hospitalizada e avaliam o brincar como processo fundamental para minimizar o sofrimento (7).

Quanto à faixa etária das crianças hospitalizadas houve predominância para as idades entre 11 e 15 anos. Os dados apresentados estão parecidos aos encontrados na literatura, com base em uma perspectiva epidemiológica de incidência, morbidade, mortalidade e sobrevida quando é afirmado que o câncer em crianças e adolescente, com idades entre 1 e 19 anos, é considerada a segunda causa de morte infanto-juvenil (8).

Em relação ao sexo das crianças hospitalizadas, a maioria era do sexo masculino. Comparando com os registros do Instituto Nacional de Câncer (8), o número de mortes por câncer infantil no Brasil foi de 2.740, sendo 1.567 meninos e 1.173 meninas em 2010.

Para o tempo de internação, observou-se predomínio no tempo referido entre 11 a 15 dias com 30% das crianças internadas. Assim, Oliveira e Collet (9) ressaltam que a hospitalização da criança é vista como uma situação crítica para a criança, família e equipe hospitalar. É uma das situações que envolvem profunda adaptação às várias mudanças como as que ocorrem no ambiente físico e psicológico, separação dos pais e demais familiares, interrupção das atividades cotidianas dentre outras.

Para a causa da internação foram descritos: tratamento para leucemia, febre, implantação de cateter, complicações de neoplasias cerebrais, plaquetopenia, administração de quimioterapia e dor abdominal.

Estimam-se, para o Brasil, no ano de 2014, 394.450 casos novos de câncer infantil, excluindo-se os tumores de pele não melanoma. Ocorrerão cerca de 11.840 casos novos de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos. As regiões Sudeste e Nordeste apresentarão os maiores números de casos novos, 5.600 e 2.790, respectivamente (8).

A Tabela 2 retrata a distribuição dos dados segundo os critérios lúdicos para melhoria da criança com câncer hospitalizada. O brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento da criança, este auxilia na compreensão da importância do tratamento e possibilita minimizar o sofrimento causado pelas terapias (10).

De acordo com a Tabela 3, 75% dos entrevistados confirmam que o lúdico prepara a criança para o enfrentamento de novas situações. Mota e Chaves (11), afirmam que o brincar possibilita o desenvolvimento, além de contribuir significativamente para a formação das relações sociais da criança, na medida em que, imaginando, fazendo de conta, ela assume papéis da vida adulta, podendo recriar suas percepções; proporciona uma medição entre o real e o imaginário. Da mesma forma, Enoki (12) assegura que, através do lúdico a criança libera e canaliza suas energias, tem o poder de transformar uma realidade difícil, propicia condições de fantasia além de ser uma grande fonte de prazer.

Em relação à variável 7,75% dos acompanhantes apontam o brincar como um mediador para a interação entre os profissionais de saúde e as crianças, o que coincide com a importância e a vantagem da inter-relação dos envolvidos no processo terapêutico. Diante disso, Paula, Ravelli e Motta (13) asseguram que através do brincar, parte fundamental do processo de crescimento e desenvolvimento da criança, ela aprende a compreender, passar e controlar a realidade que está vivenciando.

Nesse sentido, Maia, Ribeiro e Borba (14) afirmam que o brincar tem a função de agir como fator ativador e estruturador dos relacionamentos humanos, auxilia na preservação do vínculo sadio e seguro com a equipe de saúde.

Quando questionado aos acompanhantes se os instrumentos cirúrgicos de brinquedo, familiarizam as crianças com os usados pelos profissionais, 87,5% afirmaram. Santos (15), enfatiza que a atividade lúdica ajuda a criança a desdramatizar a situação assegurando a qualidade do suporte através das brincadeiras, tendo como suporte visual a utilização de objetos lúdicos; como as bonecas que possuem os principais órgãos podendo ser removidos e colados através de um velcro, dentre outros.

De acordo com a tabela 3,90% dos acompanhantes observaram a existência do brinquedo da preferência da criança, 10% não souberam responder, pois estes eram primos e amigos da família e não tinham informações sobre a rotina da criança.

Desta forma, Kishimoto e Ono (4), em pesquisa realizada com crianças de 2 a 10 anos de idade, afirmaram que existe um consenso para as brincadeiras e brinquedos mais comuns, como boneca, item que mais evoca o universo familiar, carrinho, skate, fantasias e futebol.
Ao perguntar para o acompanhante se o brinquedo da preferência da criança existia na brinquedoteca, a maioria, 77,5%, afirmaram. Foi observado que independe da existência ou ausência, por estar danificado, o importante mesmo era brincar.

Relacionando ao processo de internação que promove uma série de alterações na rotina e na vida da criança, Kishimoto e Ono (4) referem que o direito ao brinquedo e à brincadeira como ação livre da criança deve ser garantido no espaço da brinquedoteca.

Para 92,5% dos entrevistados, mesmo no leito a criança utiliza materiais de recreação para brincar. Contudo, para Leite et al. (16) é necessário que exista um espaço planejado e organizado para a recreação, e que haja uma relação entre paciente e acompanhante no sentido de que o envolvimento na brincadeira conduza a criança ao estado de bem estar físico e emocional, não impedindo que este brinquedo saia do espaço apropriado e venha até a criança.

75% dos acompanhantes referiram que durante a hospitalização houve algum momento que a criança não pôde brincar. Situação que pode indicar que o direito da criança de brincar está sendo violado e relacionado com o que traz Angelo e Vieira (17), quando afirmam que o brincar também favorece a expressão dos sentimentos e emoções.

Análise de Conteúdo

Categoria 1: Brinquedos que as crianças mais gostam de brincar.

Diante dos relatos dos acompanhantes os brinquedos que as crianças mais gostam são carros, bonecas, bicicletas dentre outras conforme fala dos entrevistados: “Ele gosta de um carrinho de plástico, que ganhou aqui em uma festinha não larga dele” (S4); “Quando está em casa se pudesse não saia do computador é o brinquedo que mais gosta” (S21); “Ele tem uma bicicleta que é o seu xodó se pudesse internava com ele” (S27); “Eu acho interessante por que ele gosta muito de jogo memória, pintura apesar da pouca idade dele” (S17); ”Tenho certeza o que mais gosta de brincar é bola vive dizendo que vai ser jogador quando crescer” (S11).

Embasados nos relatos obtidos, pode-se afirmar que independente do tipo do brinquedo, sempre irá auxiliar no processo terapêutico, por meio de atividades que envolvem a criança no seu ambiente, apesar das limitações impostas pela doença e do tratamento agressivo.
Considerando a necessidade humana de manter vínculos afetivos, ressalta-se que o computador, pode, mesmo em isolamento, transpassar as barreiras impostas e ser uma ligação com a realidade. E se devidamente orientado, segundo Santarosa (18), pode oportunizar o desenvolvimento e a organização do pensamento, trazendo vantagens à criança, pertinentes ao seu processo de construção do conhecimento.

Categoria 2: A brinquedoteca melhora o relacionamento entre a criança e a família durante a internação.

Ao perguntar se a brinquedoteca melhora o relacionamento entre a criança e a família os acompanhantes elucidaram alguns relatos: ”É um lugar fundamental lá nós dois brincamos juntos” (S33); “Sim. Ele brinca comigo sempre ajudo a pintar e desenhar ele fica mais alegre comigo” (S28); “Brinco sempre com ele ajudo a arrumar o quebra cabeça, jogo dominó, ele fica muito alegre” (S12).

Como escreve Mitre (19), o relacionamento entre a criança e a família durante a internação na brinquedoteca através da ação do brincar refaz os laços que podem estar fragmentados porque a doença desorganiza o grupo familiar.

Percebe-se que o brincar tem aproximado os pais/acompanhantes/equipe de saúde de seus filhos e pacientes, enriquecendo e fortalecendo os laços afetivos. Os pais (acompanhantes) são estimulados a brincar com as crianças e isso tem auxiliado, de uma forma mais integral, no processo de enfrentamento do período de hospitalização.

Categoria 3: O ato de brincar melhora o estado físico e emocional da criança.

Nos relatos dos entrevistados, evidenciaram-se as seguintes falas: “Ah com certeza, ele pula, brinca, sorrir faz amizades com os coleguinhas fica mais tranquilo e alegre” (S40); “Quando ele brinca se diverte, fica alegre esquece um pouco que tá doente” (S7); “Sim aqui ele esta muito feliz nunca pensou em ter tanto brinquedo para ele brinca” (S9).

Confirmando os relatos, Vila (20) afirma que o ato de brincar é visto como uma terapia na medida em que se configura como uma possibilidade de elaboração de experiências relativas à hospitalização, permitindo a redução da angústia e a reorganização de sentimentos. Junto a esse sentido de terapia, o brincar aparece também como ação sobre o próprio corpo, promovendo o próprio equilíbrio psicossomático, regulando tensões e estresse, tendo uma ação direta no sistema imunológico, fazendo com que a criança tenha a possibilidade de retomar um equilíbrio e, na verdade, vai contribuir para saúde física também, bem como funcionando como espaço de encorajamento.

Nesse sentido, Motta e Enumo (21) afirmam que o câncer, além de trazer as alterações funcionais do corpo que caracterizam um quadro clínico específico para cada tipo da doença, também tem a capacidade de expor a criança e seus familiares a outras situações estressantes, que se somam à possibilidade de internação.

Cardoso (22) afirma que é na infância que o indivíduo constrói sua relação com o próprio corpo, com o mundo externo, e adquire uma personalidade fundamentada em suas vivências que vai ser a base para todas as suas experiências futuras.

Categoria 4: É importante o espaço da brinquedoteca para a criança brincar.

Mediante a pergunta, os acompanhantes responderam da seguinte forma: “Com certeza é bom para ele e pra mim também, porque aqui eu conheço outras pessoas e ele brinca” (S1), “Muito! Esse lugar é a única distração, fora que ele ama a tia Luiza” (S23), “Sim deveria ser maior” (S35); “É importante mais devia ser maior. É um local fundamental para ele” (S19), "Acho importante sim,deveria ser um espaço maior” (S5).

O espaço da brinquedoteca tem a capacidade de aflorar o imaginário infantil, propicia a vivência de diferentes situações. É considerado um espaço dedicado às fantasias, às brincadeiras de casinha, ao consultório médico, à leitura, dentre outros. Vectore e Kishimoto (23), em estudo, relatam que é possível, permitir o confronto com o diferente, possibilitando a expressão de sentimentos e emoções.

A importância do brincar no hospital é preconizada pela Lei 11.104 de 21 de março de 2005 (5), que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação. Ressalta no 2º artigo que é um espaço destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar provido de brinquedos e jogos educativos.

Categoria 5: A brinquedoteca está ajudando na recuperação da criança.     

“Sim. Quando ela consegue interagir com o brinquedo” (S16), “De certa forma sim” (S24), “Por que ele se sente mais alegra” (S29), “Sim porque nos momentos mais difíceis que as nossas crianças estão chorando muito é só correr para lá” (S37).

As repercussões dessa atividade têm demonstrado o valor e a importância da brinquedoteca enquanto recurso que colabora na recuperação da criança hospitalizada, na adesão ao tratamento, na diminuição do sofrimento decorrente dos procedimentos do hospital, além disso, proporciona um lugar de prazer, de sorrisos e brincadeiras. Em uma pesquisa realizada e publicada por Borges, Nascimento e Silva (24) mostra os benefícios das atividades lúdicas na recuperação de crianças com câncer. Seus benefícios centralizam-se no fortalecimento da alegria infantil, na promoção da socialização e do bem-estar.

Além disso, Motta e Enumo (21) afirmam que o processo do brincar pode ter uma aplicação, referente ao seu uso junto à criança hospitalizada, para ajudá-la na compreensão e na adaptação mais adequada ao procedimento médico invasivo.

Categoria 6: Como você se sente por ver que a criança está feliz em ter um espaço (brinquedoteca) no hospital onde ele pode brincar.

É possível perceber nas falas como os acompanhantes sentem-se felizes por ter um espaço no hospital onde as crianças possam brincar. “Eu mim sinto bem, porque ela não fica só no quarto assistindo televisão se distrai com as outras coisas” (S20); “Eu mim sinto alegre” (S36); “Me sinto bem pois ver meu filho feliz é o que mas quero e essa brinquedoteca é tudo” (S38); "Eu como mãe fico muito feliz saber, que neste lugar alguém consegue arrancar um sorriso dele” (S34); ”Feliz. Diante dessa situação onde o hospital muitas vezes não tem remédio existe esse espaço maravilhoso” (S23); ”Feliz,não sabia que no hospital publico tinha um espaço desse” (S18).

Durante a brincadeira, acompanhantes e pacientes não são mais “cuidadores” e “cuidados”, mas criam uma relação horizontal, igualitária, livrando-se da perspectiva da doença, e principalmente, revelando um aspecto saudável da criança e estabelecendo relações de saúde. Neste sentido, Mitre (19) afirma que os acompanhantes ficam nitidamente satisfeitos ao perceberem que o filho está resgatando uma atividade de sua rotina.

A criança tem formas de enfrentar situações adversas particulares. Uma intervenção que vise a inserir estratégias de enfrentamento no sentido da promoção de um ambiente menos ameaçador deve tornar significativa e eficaz a sua aplicação (21). Nesse contexto, a adoção de estratégias lúdicas tem sido uma alternativa para minimizar o sofrimento, mesmo que por alguns momentos, pois leva entretenimento e alegria para dentro de um ambiente muitas vezes frio e desumanizado com o único intuito de resinificar a hospitalização para a criança (25).

Conclusão

O lúdico exerce influência positiva, pois prepara a criança para as novas situações que irá enfrentar, levando-a a ficar calma enquanto os profissionais realizam os procedimentos, melhora o relacionamento entre a mesma e a família durante a internação e o ato de brincar, melhora o estado físico e emocional ajudando aos que auxiliam na recuperação dos infantes.
Observou-se que o impacto causado pela brinquedoteca no serviço pediátrico da COOL no HUSE é favorável, inclusive quanto ao tempo de permanência, fazendo-os reagir melhor ao tratamento instituído, ajudando a amenizar traumas que podem surgir com a internação e aliviam consideravelmente a saudade de casa e da escola.

Para a criança hospitalizada, a brinquedoteca desenvolve o papel de terapia lúdica e permite aumentar as chances de sobrevida com qualidade. Favorece a recuperação da autoestima, confiança e consequentemente faz com que os períodos de internação sejam menos dolorosos, tanto para a criança como para seus acompanhantes. A sala de recreação também permite aos profissionais de saúde a qualificação em humanização, quanto à forma de cuidar, o que caracteriza a enfermagem enquanto arte e ciência.

Apesar dos entrevistados reconhecerem a importância e os benefícios da brinquedoteca, quase que unanimemente, desejam um espaço maior no tocante à estrutura física para o melhor desenvolvimento das atividades.

Os resultados evidenciam o valor do lúdico enquanto estratégia redutora de danos com desenvolvimento das potencialidades e solidificação das relações sociais além de fomentar o cuidado humanizado dentro das instituições hospitalares.

É importante ressaltar, que este estudo não pretende esgotar a temática abordada. Recomenda-se, assim, a continuidade das pesquisas para o aprimoramento de estudos na área. Contudo, permitiu vislumbrar a necessidade da abertura de mais espaços (brinquedoteca) nas pediatrias dos hospitais. Diante dos resultados obtidos alcançou-se o objetivo desejado o qual foi conhecer a contribuição das atividades lúdicas para o cuidado humanizado às hospitalizadas no Centro de Oncologia Dr. Oswaldo Leite em Aracaju/SE.

Portanto, dentre outros aspectos, é possível afirmar que o brincar no espaço da hospitalização infantil do COOL-HUSE contribui para a socialização, estimula os sentimentos e comunicação entre pacientes, acompanhantes e profissionais. Processo este relevante para humanizar e qualificar a assistência.

Bibliografía

  1. Rossit RAS, Kovacs ACTB. Internação Essencial de Terapia em Enfermagem Pediátrica. In: Malagutti W. Oncologia Pediátrica: uma abordagem multidiciplinar. São Paulo: Martinari; 2011.
  2. Matos ELM. Pedagogia Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 2007.
  3. Moleta AS. Brinquedoteca Hospitalar: o lúdico em um novo contexto; 2005. [Em línea] [fecha de acceso: 16 de mayo de 2014]. URL disponível em: http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/brinquedoteca-hospitalar:-o-ludico-em-um-novo-contexto
  4. Kishimoto TM, Ono AT. Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca. Pro-Posições. Campinas 2008; 19(3):209-223.
  5. Lei N. 11.104 de 21 de março de 2005. Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde e dá outras providências; 2005. [Em línea] [fecha de acesso: 15 de mayo de 2014]. URL disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11104.htm
  6. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 2007; 70.
  7. Azevedo AVS. O brincar da criança com câncer no hospital: análise da produção científica. Estud. Psicol 2011; 28(4):565-572.
  8. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e Vigilância, Rio de Janeiro: Inca, 2014.
  9. Oliveira BRG de, Collet N. Criança hospitalizada: percepção das mães sobre o vínculo afetivo criança-família. Rev. Latino-Am. Enfermagem 1999; 7(5):95-102.
  10. Artilheiro APS, Almeida FA, Chacon JMF. Uso do brinquedo terapêutico no preparo de crianças pré-escolares para quimioterapia ambulatorial. Acta paul. Enferm. 2011; 24(5):611-616.
  11. Mota MC, Chaves P. Brinquedo hospitalar “nosso cantinho”: relato de uma experiência de brincar. In: Carvalho A et al. Brincar(es) Belo Horizonte: UFMG, 2005.
  12. Enoki E. O Lúdico por Educadores, Piaget e Vygostsky; 2009. [Em línea] [fecha de acceso: 10 de mayo de 2014]. URL disponível em: http://www.smarcos.br
  13. Paula CC, Ravelli APX, Mota MGC. Cuidado de enfermagem na aventura do desenvolvimento infantil: reflexões sobre o lúdico no mundo da criança. Cogitare Enfermagem 2002; 7(2):148-154.
  14. Maia EBS, Ribeiro CA, Borba RIH. Brinquedo terapêutico: benefícios vivenciados por enfermeiras na prática assistencial à criança e família. Revista Gaúcha de Enfermagem 2008; 29(1):39-46.
  15. Santos MP. Brinquedos e Infância: um guia para pais e educadores em creches. Petropólis, RJ: Vozes; 2005.
  16.  Leite TMC, Shimo AKK. Uso do brinquedo no hospital: o que os enfermeiros brasileiros estão estudando? Rev Esc Enferm USP 2008; 42(2):389-395.
  17. Angelo TS, Vieira MRR. Brinquedoteca hospitalar: da teoria à prática. Arq Ciênc Saúde. 2010; 17(2):84-90.
  18. Santarosa LMC. Ambientes de Aprendizagem Virtuais: inclusão social de portadores de necessidades especiais. Porto Alegre: UFRGS; 2002.
  19. Mitre RMA. Brincando para viver: um estudo sobre a relação entre a criança gravemente adoecida e hospitalizada e o brincar, Rio de Janeiro/RJ. Rio de Janeiro: Instituto Fernandes Figueira, Fiocruz; 2000.
  20. Vila ACD, Vila VSC. Tendências da produção do conhecimento na educação em saúde no Brasil. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2007; 15(6):1177-83.
  21. Motta AB, Enumo SRF. Brincar no hospital: estratégia de enfrentamento da hospitalização infantil. Psicol Estud 2004; 9(1):19-28.
  22. Cardoso FT. Câncer infantil: aspectos emocionais e atuação do psicólogo. Rev SBPH 2007; 10(1):26-52.
  23. Vectore C, Kishimoto TM. Por traz do imaginário infantil: explorando a brinquedoteca. Psicol Esc Educ (Impr.) 2001; 5(2):59-65.
  24. Borges EP, Nascimento MDSB, Silva SMM. Benefícios das atividades lúdicas na recuperação de crianças com câncer. Boletim Academia Paulista de Psicologia 2008; 28(2):211-221.
  25. Simões ALA, Maruxo HB, Yamamoto LR, Silva LC, Silva PA. Satisfação de clientes hospitalizados em relação às atividades lúdicas desenvolvidas por estudantes universitários. Rev Eletr Enf 2010; 12(1):107-112.