Nível de estresse em estudantes de enfermagem brasileiros: um estudo descritivo

Sección: Originales

Cómo citar este artículo

Domingues VA, Pereira de Borba K,Cavalcante MDMA, Viganó Zanoti-Jeronymo DV, Gryczak V, Pereira de Borba R. Nível de estresse em estudantes de enfermagem brasileiros: um estudo descritivo. Rev. iberoam. Educ. investi. Enferm. 2021; 11(3):17-27.

Autores

1 Vanessa Aparecida Domingues, 2 Kátia Pereira de Borba, 3 Marília Daniella M.A. Cavalcante, 4 Daniela Viganó Zanoti-Jeronymo, 5 Vania Gryczak, 6 Rodolfo Pereira de Borba

1 Enfermeira. Secretaria Municipal de Saúde de Inácio Martins (PR). Brasil.
2 Doutora em Ciências. Docente na Universidade Estadual do Centro Oeste de Guarapuava (PR). Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2164-4289
3 Doutora em Enfermagem. Docente na Universidade Estadual do Centro Oeste de Guarapuava (PR). Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7685-6679
4 Doutora em Ciências. Docente na Universidade  Estadual do Centro Oeste de Guarapuava (PR), Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6131-3890
5 Doutora em Métodos Numéricos em Engenharia. Docente na Universidade Estadual do Centro Oeste de Guarapuava (PR). Brasil.
6 Estudante de Psicologia. Centro Universitário Campo Real (PR). Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4169-7997

Contacto:

Email: kborba@unicentro.br

Titulo:

Nível de estresse em estudantes de enfermagem brasileiros: um estudo descritivo

Resumen

Introducción: entendido como global, el estrés se refiere a todas las circunstancias que amenazan el bienestar general del individuo, alterando su seguridad física, autoestima, reputación y tranquilidad. Los desafíos experimentados por los estudiantes de enfermería en una universidad pública, como un curso de tiempo completo, como las emociones vividas en el aula y los lugares de práctica, pueden agregar varios factores estresantes y contribuir negativamente al proceso de enseñanza-aprendizaje.
Objetivo: describir el nivel de estrés en estudiantes de enfermería de una universidad pública.
Metodología: estudio descriptivo con enfoque cuantitativo, realizado con estudiantes del primero al quinto año de un curso de enfermería, siendo un instrumento de recolección la Evaluación del Estrés en Estudiantes de Enfermería (AEEE).
Resultados: participaron del estudio 114 estudiantes, predominantemente mujeres (90%), en el grupo de edad joven (85,95%), solteros (90%), sin hijos (96%), que solo estudiaban (90%), vivían bajo un ingresos de hasta un salario mínimo (71%) y vivía con la familia u otras personas (74%). Se encontró variabilidad de puntuaciones medias, altas y muy altas en la intensidad de los factores de estrés entre seis dominios de análisis.
Conclusión: el nivel de estrés entre los estudiantes brasileños de enfermería, egresados de una universidad pública, es un proceso que evoluciona de manera diversificada y creciente a medida que avanzan los años del curso.

Palabras clave:

estudiantes de enfermería ; estrés psicológico ; educación en enfermería ; enseñanza ; educación universitaria

Title:

Stress levels in brazilian nursing students: a descriptive study

Abstract:

Introduction: understood as an overall concept, stress refers to all circumstances that threaten the general well-being of an individual, altering his or her physical safety, self-esteem, reputation and tranquility. The challenges experienced by nursing students in a public university, as a full-time course, including the emotions experienced in the classroom and practice settings, can add several stressors and contribute negatively to the teaching-learning process.
Purpose: to describe the level of stress in nursing students at a public university.
Methods: a descriptive study based on a quantitative approach, conducted with students from the first to the fifth year of a nursing course, using the Evaluación del Estrés en Estudiantes de Enfermería scale (AEEE) (assessment of stress in nursing students) as a data collection instrument.
Findings: a total of 114 students participated in the study, predominantly women (90%), in the young age group (85.95%), single (90%), without children (96%), only studying (90%), living on an income of up to minimum wage (71%) and living with family or other people (74%). Variability of medium, high and very high scores in the stress factor intensity was found among six analysis domains.
Conclusion: the stress level among Brazilian nursing students, graduated from a public university, is a process that evolves in a diversified and increasing way through the successive years of the course.

Keywords:

nursing students; psychological stress; Nursing education; teaching; university education

Resumo:

Introdução: entendido como global, o estresse refere-se a todas as circunstâncias que ameaçam o bem-estar geral do indivíduo, desordenando a sua segurança física, autoestima, reputação e paz de espírito. Desafios vivenciados por estudantes de enfermagem de universidade pública, na condição de curso em tempo integral, como emoções experimentadas em sala de aula e locais de prática, podem agregar diversos fatores estressores, e contribuir negativamente no processo de ensino aprendizagem.
Objetivo: descrever o nível de estresse em estudantes de enfermagem de uma universidade pública.
Metodologia: estudo descritivo com abordagem quantitativa, realizado junto a estudantes do primeiro ao quinto ano de um curso de enfermagem, sendo instrumento de coleta a Avaliação de Estresse entre Acadêmicos de Enfermagem (AEEE).
Resultados: participaram do estudo 114 estudantes, predominantemente mulheres (90%), na faixa etária jovem (85,95%), solteiras (90%), sem filhos (96%), que somente estudavam (90%), viviam sob uma renda de até um salário mínimo (71%), e residiam com a família ou outros (74%). Evidenciou-se variabilidade de escores médio, alto e muito alto de intensidade de fatores de estresse entre seis domínios de análise.
Conclusão: o nível de estresse entre estudantes de enfermagem brasileiros, graduandos em universidade pública, é um processo que evolui de forma diversificada e crescente, conforme o avançar dos anos de curso.

Palavras-chave:

estudantes de enfermagem; estresse psicológico; educação em enfermagem; ensino; educação superior

Introdução

Estresse é definido como um acúmulo de alterações na vida de uma pessoa que exigem a adaptação psicológica (1). Ocorre quando existe uma desarmonia entre as causas da situação e os recursos dos sistemas biológico, psicológico e social do indivíduo (2). Refere-se à resposta do indivíduo a uma determinada demanda, vista como um desafio estimulante ou ameaça a ser enfrentada, sendo resultado do encontro entre uma determinada dificuldade e a capacidade de resolução da mesma (3).

Entendido como global, o estresse refere-se a todas as circunstâncias que ameaçam ou são concebidas como ameaçadoras do bem-estar geral do indivíduo, as quais vencem a capacidade de enfrentamento do mesmo, desordenando a sua segurança física, autoestima, reputação e paz de espírito (4-5).

O estresse pode ser determinado por uma situação de cunho interno ou externo. Situações de cunho interno abrangem fatores físicos e psicológicos, que acarretam efeitos estressores diretos sobre o organismo. Situações de cunho externo compreendem os fatores estressores, os quais são originados de eventos ou estímulos ambientais (1-2).

Compreende-se que o estresse está presente na área da enfermagem, tanto para os profissionais como para aqueles que ainda estão na academia. A entrada do estudante na universidade o expõe a novas situações com necessidade de adaptação, isto porque o cotidiano acadêmico envolve um ambiente e uma metodologia de ensino totalmente diferente da educação básica (6). As necessidades de adaptação relacionam-se às exigências e obrigações curriculares universitárias, as responsabilidades sociais e ocupacionais que formam o processo de aprendizagem, a obrigação de melhor organização dos afazeres diários, o convívio com diferentes colegas e os desafios contínuos quanto às opções profissionais e pessoais (7).

Entre os estudantes de enfermagem o estresse tem sido evidenciado de maneira significativa (8). Os estudantes de Enfermagem estão mais susceptíveis a eventos estressantes em comparação a outros estudantes de diferentes áreas, porque passam constantemente por situações clínicas inerentes ao curso, sendo que envolve a responsabilidade pela vida e saúde das pessoas, o que exige alta demanda física, psicológica e intelectual. Especialmente aqueles que estudam em universidade pública, contribui para o desencadeamento de fatores estressores, o ritmo de vida acentuado, a pressão psicológica provocada por grande carga horária curricular, e as inúmeras tarefas teórico práticas e exigências de professores (6-7, 9-11).

Os estudantes de enfermagem de uma universidade pública localizada na região sul do Brasil, fazem parte de um grupo que merece atenção no que diz respeito a análise da intensidade de fatores estressores sobre os mesmos. Esses estudantes têm aulas em período integral, participam de projetos de pesquisa e extensão, além dos estágios curriculares e outras atividades extracurriculares, como a participação em eventos científicos. As atividades práticas se iniciam a partir do segundo ano do curso, e os estágios curriculares juntamente com o desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso (TCC) acontecem no último ano.

 Assim, considerando a vulnerabilidade de estudantes de enfermagem ao estresse e os possíveis danos desencadeados junto à academia, e pressupondo que a identificação do nível de estresse possa amenizar prejuízos junto ao processo de formação universitária na perspectiva de intervenções, surgiu o interesse pela realização desta pesquisa, que partiu da seguinte questão: Qual é o nível de estresse entre estudantes de enfermagem graduandos em universidade pública? Afim de responder o problema de interesse realizou-se essa pesquisa, que teve como objetivo descrever o nível de estresse em estudantes de enfermagem de uma universidade pública.

Metodologia

Trata-se de um estudo transversal, descritivo de abordagem quantitativa (12), realizado junto a estudantes de enfermagem de uma universidade pública, localizada na região sul do Brasil.
No ano de 2018, na universidade pública cenário desse estudo, estavam matriculados no curso de Enfermagem, entre o primeiro e o quinto ano, 152 estudantes. Convidou-se para o estudo os 152 estudantes matriculados, caracterizando a população do estudo como amostra intencional, não havendo necessidade de cálculo amostral.

Os convites aconteceram em sala de aula, com posterior agendamento para a realização da coleta de dados. Foram incluídos no estudo os estudantes com idade igual ou superior a 18 anos, excluindo-se aqueles que mesmo agendados, não estiveram presentes em sala de aula no dia da aplicação do instrumento de coleta de dados.

A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e julho de 2018, sendo instrumentos: - A caracterização dos sujeitos da pesquisa, abrangendo o perfil sóciodemográfico no que diz respeito a sexo, idade, estado civil, presença de filhos, condição de moradia e renda familiar; e - O instrumento de Avaliação de Estresse em Acadêmicos de Enfermagem (AEEE).

O AEEE elaborado por Costa e Polak (8), é um instrumento composto por 30 itens, agrupados em seis domínios: Domínio 1: Tem seis itens que se referem ao conhecimento instrumental adquirido pelo aluno para a realização dos procedimentos e os sentimentos envolvidos na oferta do cuidado ao paciente; Domínio 2: Tem quatro itens que compreendem a comunicação e a relação do indivíduo com os elementos do convívio profissional e as situações conflitantes que surgem; Domínio 3: Tem cinco itens, que relacionam-se ao gerenciamento do tempo dos estudantes, no que se refere as dificuldades para conciliar as atividades estabelecidas na grade curricular com as exigências pessoais, emocionais e sociais; Domínio 4: Tem quatro itens, que retratam o ambiente, ou seja, o grau de dificuldade do acadêmico no acesso aos campos de estágio ou universidade e as situações de desgaste percebidas pelos mesmos com os meios de transporte utilizados; Domínio 5: Tem seis itens, que relacionam-se a formação profissional, isto é, a preocupação do aluno sobre o conhecimento adquirido em sua fase de formação acadêmica e o impacto que este exerce sobre sua futura vida profissional, incluindo a percepção das situações que poderá vivenciar quando profissional; Domínio 6: Tem cinco itens, que compreende a atividade teórica, contemplando o grau de dificuldade sentido pelos estudantes com o conteúdo programático, as atividades desenvolvidas e a metodologia de ensino adotada. Para todos os itens compreendidos em cada domínio, uma escala tipo Likert, com variação de intensidade correspondente de 0 a 3, mediu a intensidade dos fatores de estresse entre os estudantes de enfermagem.

Os dados apreendidos nos questionários foram tabulados em planilha do programa software Excel e tratados estatisticamente para posterior análise. As informações de caracterização dos participantes foram analisadas através de estatística descritiva simples, com cálculo de frequências absoluta e relativa. Os resultados referentes à análise da intensidade dos fatores de estresse, que definiu o nível de estresse dos estudantes de enfermagem, foi realizado mediante notas de corte dos itens, que se basearam na distribuição das respostas dos estudantes. As pontuações para cada item foram classificadas como zero (0), quando o estudante não vivenciou estresse com a situação retratada no item; um (1), quando o estudante avaliou que o nível de estresse é baixo com a situação; dois (2), quando o estudante sentiu nível de estresse moderado com a situação; e três (3), quando o estudante sentiu o alto nível de estresse com a situação.

O projeto dessa pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEPE) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Paraná, Brasil, atendendo a Resolução nº. 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, e aprovado mediante o parecer nº 2.438.943, de 2017.

Os participantes que, convidados, aceitaram participar do estudo, foram esclarecidos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo acarretado pela pesquisa. Foi assegurada ao participante a vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida. Os participantes somente foram incluídos na pesquisa após manifestarem a sua anuência à participação, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Resultados

A tabela 1 demonstra a distribuição dos Estudantes de Enfermagem segundo as variáveis sociodemográficas. Dos 152 estudantes de enfermagem convidados para a pesquisa, participaram 114 (75%), destes 36 (31,57%) cursavam o primeiro ano; 27 (23,68%) o segundo, 18 (15,78%) o terceiro, 11 (9,64%) o quarto e no quinto foram 21 (18,42%). Houve predomínio de mulheres (90%), na faixa etária jovem, 18 a 22 anos (76,31%), solteiras (90%); sem filhos (96%); que não trabalhavam (90%); residindo com a família ou outras pessoas (74%); e com renda familiar de até um salário mínimo (71%).

A tabelas 2, 3, 4 e 5 apresentam a distribuição dos estudantes de enfermagem conforme a classificação da intensidade dos fatores de estresse segundo os seis domínios de avaliação, por ano de curso.

Entre os estudantes de enfermagem do primeiro ano predominaram baixa intensidade dos fatores de estresse em todos os domínios, e fatores de estresse de intensidade alto e médio nos Domínios 5 e 6. Em relação aos estudantes do segundo ano, evidenciou-se o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse para os Domínios 2, 3, 4, e 6; e um número relevante de estudantes com intensidade dos fatores de estresse médio no Domínio 1 e muito alto no Domínio 5. Junto aos estudantes do terceiro ano, identificou-se o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse no Domínios 3; médio no 4; muito alto no 5; e valores equivalentes entre médio, alto e muito alto no Domínio 6. Entre os estudantes de enfermagem do quarto ano, verificou-se o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse no Domínio 4; médio no Domínio 1; alto no Domínio 2 e muito alto no Domínio 5. Entre os estudantes de enfermagem do quinto ano, evidenciou-se o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse no Domínio 3; médio no 4; alto no 6 e muito alto no 5.

Discussão

O perfil sociodemográfico envolvendo especificamente a presença de estudantes de enfermagem na faixa etária jovem, com predominância do sexo feminino, sem companheiros e filhos, sem atividade remunerada e não residindo sozinho, foi corroborado por um estudo nacional(10) e um internacional (13).

Considerou-se esperado o fato da intensidade dos fatores de estresse ser baixo entre os estudantes do primeiro ano em todos os domínios, em especial por não realizarem atividades práticas assistenciais de enfermagem no início do curso. Estes achados podem ser relacionados ao estudo realizado por Cestari et al. (11), no qual constatou-se baixo índice de estresse entre aqueles que cursavam o primeiro ano. Conforme esses autores, estudantes de enfermagem calouros ao adentrarem na universidade perpassam por um processo de adaptação à fase adulta, tornando-se mais independentes e responsáveis com a evolução entre os anos do curso.

Ainda em relação aos estudantes do primeiro ano, a evidência de fatores de estresse de intensidade alta e média nos Domínios 5 e 6, foi relacionada a preocupação dos estudantes com a formação profissional e atividade teórica desde o início do curso. De acordo com Bublitz et al. (14) ao entrar em uma universidade o estudante, sem estar preparado psicologicamente o suficiente para enfrentar situações novas, fica exposto a novas habilidades que podem ser entendidas como estressoras, sejam elas em sala de aula, no laboratório, no atendimento a uma emergência ou nas atividades de assistência nos locais de prática.

Considerou-se justificável a evidência de fatores de estresse de intensidade médio e muito alto entre os estudantes de enfermagem do segundo ano. Relaciona-se esses achados às primeiras impressões dos estudantes sobre a realização de atividades práticas, o que pode despertar preocupações com a formação profissional futura. Ressalta-se que no curso de enfermagem, cenário desse estudo, é a partir do segundo ano que o contato dos estudantes com os atendimentos aos usuários, seja na área hospitalar ou atenção primária, se efetiva. Para Hirsch et al. (15) ao iniciar as atividades práticas o acadêmico sente-se incompetente, pois é esperado que ele seja capaz de associar os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos para desempenhar uma assistência de qualidade ao paciente. Este momento é encarado pelo acadêmico como de apreensão, onde as inseguranças aumentam diante de novas situações que exigem habilidade e experiência. Sobretudo, a fase inicial na assistência direta aos pacientes, pode ser verificada como um período de desafios e ameaças aos estudantes, pois estes, ainda sem prática, desenvolvem um desgaste emocional aumentado quando comparados aos que já desenvolveram práticas de cuidado (16).

Acredita-se que o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse nos Domínios 1, 2 e 3 entre os alunos do terceiro ano, esteja relacionado à maturidade acadêmica adquirida pelo estudante no decorrer do curso. No estudo realizado por Benavente et al. (17) no estado de São Paulo, utilizando o AEEE encontrou-se resultados semelhantes, evidenciando-se entre os pesquisados o predomínio de intensidade de fatores de estresse muito alto no Domínio 5, caracterizando a preocupação dos estudantes com a formação profissional.

Entende-se que o predomínio de intensidade de fatores médio de estresse no Domínio 4 e muito alto no Domínio 5; assim como com valores equivalentes entre médio, alto, e muito alto no Domínio 6, possam estar relacionados com as expectativas dos estudantes quanto aos ambientes diversificados das práticas para a realização da assistência de enfermagem, a preocupação sempre presente com a formação profissional futura e a atividade teórica associada às práticas de campo, características presentes da matriz curricular do curso de enfermagem da universidade pública. Sobretudo, é especificamente no terceiro ano, que a matriz curricular do curso de enfermagem, cenário do estudo, contempla uma carga horária com demanda intensa de atividades de clínica prática.

Em um estudo realizado por Bosso, Silva e Costa (18), com estudantes de enfermagem do primeiro ao último ano de uma universidade pública do estado de São Paulo, utilizando o AEEE, encontrou-se resultados semelhantes no que diz respeito ao predomínio de intensidade de fatores de estresse no Domínio 4. Para os autores supracitados, o ambiente contribui para a intensidade de fatores de estresse entre estudantes de enfermagem, porque rotineiramente eles precisam se deslocar entre os campos de estágio e à instituição de ensino onde frequentam aulas teóricas, por conseguinte, gastam muito tempo se locomovendo diariamente para responder às demandas acadêmicas.

Em relação ao predomínio de intensidade de fatores de estresse no Domínio 6 entre os alunos do terceiro ano, relaciona-se o estudo realizado por Rodrigues et al. (19) na região nordeste do Brasil, que utilizou o questionário bilíngue Kezkak validado para o português. Nesse estudo obteve-se o domínio de evidências de intensidade dos fatores de estresse relacionadas às atividades teóricas, justificada pela falta de conhecimento e impotência dos alunos do terceiro ano quando comparados aos demais alunos em curso das fases iniciais e finais da graduação.

O propósito do ensino de enfermagem, é fornecer o conhecimento teórico necessário e preparar os alunos para assumir o seu futuro papel profissional. Numa perspectiva mundial, a graduação em enfermagem tem ênfase na aprendizagem do estudante em ambiente clínico (19). Para Bosso, Silva e Costa (18) o crescimento populacional transformou o mercado de trabalho mais competitivo, exigindo uma postura dinâmica e atualização frequente de profissionais para atuar em vários cenários. Nessa perspectiva, os cursos de graduação devem estar habilitados para responder estas tendências, e com isso sobrecarregam os alunos com uma grande quantidade de informações e métodos.

No que diz respeito ao quarto ano, relacionou-se o predomínio de baixa intensidade dos fatores de estresse no Domínio 4, ao provável fato de os estudantes já terem obtido um maior amadurecimento para a futura profissão em virtude das diversificadas experiências em campo de prática, o que pode amenizar preocupações quanto aos ambientes práticos para a realização da assistência de enfermagem. Salienta-se que é no quarto ano do curso, cenário desse estudo, que se efetiva a construção do pensamento crítico do aluno com o cursar das disciplinas de Saúde Coletiva, Cuidados de Enfermagem para Pacientes em Situações Críticas, e Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiátrica, sendo o nível de exigência dos professores salutar. Também, considera-se relevante os resultados quanto ao predomínio de fatores de intensidade de estresse médio no Domínio 1, alto no 2 e muito alto no 5. Destarte, é no quarto ano do curso em estudo que os alunos adquirem maior independência no desenvolvimento de procedimentos técnicos, principalmente aqueles de maior complexidade e risco invasivo ao usuário.

Para Jaimes e Diaz (20) a realização de atividades práticas por estudantes de enfermagem, proporciona a vivência de situações que levam ao estresse, como a insegurança pela gestão de novas tecnologias, o contato com o sofrimento alheio, e o fato de não saber controlar as relações emocionais com o paciente. Benavente et al. (17) alertam que a preocupação com a formação profissional é um fator contribuinte para o desenvolvimento de estresse entre estudantes de enfermagem, que na sua maioria são jovens e sem experiência no contato direto com as pessoas, o que coopera para as limitações na prestação de cuidados diretos as pessoas. Mormente, a intensidade de fatores de estresse pode estar relacionada ao desenvolvimento de procedimentos técnicos na prática de cuidados de enfermagem (20). Complementando, para Mota et al. (9) a enfermagem é uma profissão considerada de risco para o desenvolvimento de estresse, uma vez que o estudante desde a sua formação passa por situações que demandam tomada de decisões significativas no cuidado as pessoas, o que gera nos mesmos ansiedade e insegurança.

O predomínio da baixa intensidade dos fatores de estresse no Domínio 3 entre os estudantes do quinto ano, pode estar relacionado à maturidade adquirida na academia, propiciando controle sobre o gerenciamento do tempo para conciliar as atividades estabelecidas na matriz curricular com as exigências pessoais. A média de intensidade de estresse no Domíno 4, alta no 6, e muito alta no 5, cor­respondente à preocupação dos estudantes com o ambiente, formação profissional e atividade teórica, podem ser justificadas pela sobrecarga na independência do trabalho acadêmico que se processa no quinto ano do curso.

No quinto ano do curso cenário desse estudo concentram-se as atividades no campo prático, sendo a carga horária da disciplina dividida em duas áreas distintas, com um momento no campo da atenção primária à saúde e outro na área hospitalar. Embora amparado por um supervisor professor enfermeiro e o enfermeiro da unidade de estágio, o estudante deverá propor um projeto de gestão, executá-lo e apresentar resultados; assim ser conhecedor do ambiente de prática onde estiver inserido, e para o desenvolvimento das atividades propostas estar fundamentado teoricamente. Nessa perspectiva, entende-se que estas atividades promovem no estudante intensas reflexões sobre a sua formação profissional.

As dificuldades no gerenciamento do tempo para a efetuação das atividades diárias interferem negativamente na qualidade de vida dos estudantes, pois a dedicação excessiva aos estudos inviabiliza a manutenção das relações interpessoais com amigos e familiares, acarretando em alterações fisiológicas nos padrões de sono, diminuição das atividades físicas, aumento da irritabilidade, refletindo-se na saúde psicológica e nas relações sociais. Nesse sentido, é necessário que o estudante aprenda a manejar o estresse para minimizar o impacto de prejuízo na qualidade da assistência junto a pessoas que ele atende, e em sua vida (6).

O período de conclusão do curso de enfermagem, fase de transição aluno-enfermeiro tem um significado muito importante, e envolve como fatores promotores de estresse a preocupação do estudante com o mercado de trabalho futuro e a responsabilidade profissional (16). Sobremaneira, a aflição dos acadêmicos do último ano pode envolver a sensação de despreparo perante o mercado de trabalho, pois são quase profissionais, e podem sentir insegurança de atuarem sozinhos sem o apoio do professor. Habitualmente, esse processo é seguido de competitividade entre os próprios colegas (9).

O aumento gradativo da intensidade de fatores de estresse, presentes nos cinco anos de curso entre os estudantes de enfermagem brasileiros foi corroborado com a literatura nacional (9,11).

Conclusão

O nível de estresse entre estudantes de enfermagem brasileiros, graduandos em universidade pública, demonstrou-se evoluir de forma crescente, segundo o avançar dos anos no curso.
Entre todos os estudantes de enfermagem, cursando do primeiro ao quinto ano, a intensidade de fatores de estresse esteve relacionada à preocupação com a formação profissional futura, sendo no primeiro ano relacionada à atividade teórica; no segundo a realização das atividades práticas; no terceiro ano ao ambiente de prática e a atividade teórica; no quarto ano as atividades práticas e de gerenciamento do tempo e as dificuldades para conciliar as atividades estabelecidas na matriz curricular com as exigências pessoais, emocionais e sociais; e no quinto ano ao ambiente de prática e a atividade teórica.

Julga-se que essas evidências podem estar relacionadas a diversos fatores. No primeiro ano os estudantes de enfermagem não realizam atividades práticas assistenciais de enfermagem, talvez por isso estejam preocupados somente com as atividades teóricas; no segundo ano iniciam efetivamente os atendimentos aos usuários, sejam na área hospitalar ou atenção primária à saúde, assim, considera-se justificável entre os mesmos a presença de intensidade de estresse médio e muito alto; no terceiro ano atuam em ambientes diversificados de prática para a realização da assistência de enfermagem, relacionando-se a isto a preocupação específica com o ambiente de prática e a atividade teórica; no quarto ano são estimulados a desenvolver maior independência no desenvolvimento de procedimentos técnicos, principalmente aqueles de maior complexidade e risco invasivo ao usuário, o que acredita-se justificar a preocupação desse grupo com as atividades práticas e de gerenciamento do tempo; por fim, o quinto ano é marcado pela sobrecarga de trabalho acadêmico, a qual se processa com o estágio curricular obrigatório, proporcionando aos estudantes intensas reflexões sobre o ambiente de prática.

Acredita-se que os níveis de estresse encontrados nos resultados desse estudo, sejam evidências que possam interferir negativamente no processo de aprendizagem de estudantes de enfermagem, assim como, causar prejuízos junto à assistência prestada as pessoas.

Com os resultados desse estudo espera-se promover o avanço do conhecimento, na perspectiva da construção de possibilidades de organização na metodologia acerca do curso de Enfermagem, com a finalidade de tornar o ambiente de graduação mais agradável e menos traumático.

Recomenda-se a realização de estudos com esta temática em outras regiões do Brasil, com a finalidade de propor estratégias de prevenção ao estresse, contribuindo na amenização de prejuízos sobre o processo ensino-aprendizagem de estudantes de enfermagem. Como estratégias de prevenção ao estresse sugere-se, o amparo aos estudantes de enfermagem quanto a divulgação de informações sobre estresse, e a promoção de terapias de relaxamento e apoio psicológico individual e em grupos.

Reconheceu-se como limitação do estudo o período destinado para a coleta de dados, que envolveu a aplicação do AEEE somente em um dia, e implicou na perda de 25% da amostra intencional total da população do estudo.

Conflitos de interesse

Nenhum.

Financiamiento

Nenhum.

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